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Protestos no Equador se radicalizam e indígenas vetam saída de quase 50 militares

Camponeses e indígenas mantêm as mobilizações, apesar do anúncio do fim da greve nacional nos transportes

Grupo de indígenas bloqueia uma estrada em ato de protesto.
Grupo de indígenas bloqueia uma estrada em ato de protesto.CRISTINA VEGA (AFP)

Os grupos indígenas e organizações sociais do Equador decidiram manter os protestos contra o aumento do preço dos combustíveis decretado pelo Executivo. Na tarde de sábado, havia 47 militares retidos por grupos indígenas em Alausí, na província da serra andina de Chimborazo. Ao mesmo tempo, a confederação indígena Conaiedivulgou um comunicado declarando estado de exceção em seus territórios, diante da “brutalidade e falta de consciência da força pública” e “exercendo seu direito à autodeterminação”.

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Os militares ficarão retidos até que o Governo revogue o decreto que acabou com o subsídio estatal para a gasolina e o diesel. São nove oficiais e 38 voluntários, confirmaram fontes militares. Também há cinco policiais. Eles tinham a missão de reforçar a segurança na rodovia Pan-Americana Sul, que está bloqueada em vários pontos, segundo o jornal local El Comercio. Até agora não houve um pronunciamento oficial.

Diferentemente dos trabalhadores do setor de transporte, que anunciaram na sexta-feira o fim de sua paralisação nacional, o Coletivo Unitário Nacional de Trabalhadores, Indígenas, Organizações Sociais e Populares já tinha garantido que vai manter as mobilizações e a convocação de greve geral para a próxima quarta-feira, até que o presidente Lenín Moreno volte atrás e restabeleça o subsídio para os combustíveis.

“Conclamamos todos os trabalhadores do campo e da cidade, mulheres, juventude estudiosa, aposentados e donas de casa a se unir a nós nesta quarta-feira, 9 de outubro, na grande greve nacional e paralisação popular para combater o pacotaço neoliberal com o qual premiaram a oligarquia e o FMI contra os trabalhadores e o povo”, convocou Mesías Tatamuez, presidente da Frente Unitária dos Trabalhadores, em um comunicado. O bloqueio de estradas, a falta de transporte público e os confrontos com as autoridades continuaram no sábado, embora em um ambiente menos violento −até a retenção dos militares− do que nos dois primeiros dias de protestos.

Na quinta-feira, Moreno decretou estado de exceção em todo o país para mobilizar policiais e militares nos pontos mais conflituosos, com o objetivo de impedir o fechamento de estradas pelos manifestantes. “Com ou sem estado de exceção, não seremos intimidados pelas ameaças da prisão contra lutadores sociais que buscam uma mudança”, advertiu o coletivo que representa indígenas e trabalhadores, em referência aos 350 presos em dois dias e à detenção de vários dirigentes dos trabalhadores do transporte. A paralisação de serviços públicos no Equador é punida no Código Penal com até três anos de prisão.

Assim como os sindicatos do setor de transporte, as organizações sociais são contra a retirada do subsídio para os combustíveis, aprovada pelo Governo com o objetivo de economizar 1,4 bilhão de dólares (5,7 bilhões de reais) por ano. A medida, que está em vigor desde quinta-feira e foi ratificada várias vezes pelo Executivo, é parte de um pacote de ajustes econômicos com o qual o presidente equatoriano quer corrigir os apertos orçamentários que vêm asfixiando sua gestão há quase dois anos e meio.

Além de um pacote de incentivos fiscais para os setores produtivos, a proposta de Moreno cria novas modalidades de contratação de trabalhadores temporários, o que também preocupa as organizações sindicais. No entanto, o ponto de maior atrito é a eliminação do subsídio para os combustíveis. "Não permitiremos o aumento das passagens”, disse um porta-voz dos manifestantes. “Nossa luta vai muito além do pacotaço, é também por um Governo popular que atenda às necessidades da maioria”. O ministro do Transporte, Gabriel Martínez, reconheceu que está sendo estudada uma “revisão técnica do aumento” das passagens de transporte público interurbano e entre as províncias.

Apesar do anúncio do fim da paralisação do transporte, o serviço não foi completamente normalizado em várias cidades do país. Em Quito e em Guayaquil, as duas mais populosas, ainda havia rotas internas suspensas, e a venda de passagens não foi retomada para todas as linhas. Além disso, a prefeitura da capital divulgou um comunicado esclarecendo que os preços das passagens ainda não foram oficialmente reajustados, procurando combater aumentos irregulares que já começaram a ser detectados.

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