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Plácido Domingo deixa Ópera de Los Angeles após acusações de assédio sexual

Instituição anuncia a saída do cantor depois que uma investigação jornalística revelou denúncias de 20 mulheres

Pablo Ximénez de Sandoval
Plácido Domingo, em uma atuação na Ópera de Los Angeles em novembro de 2017.
Plácido Domingo, em uma atuação na Ópera de Los Angeles em novembro de 2017.Greg Doherty (GETTY)
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O cantor espanhol Plácido Domingo anunciou nesta quarta-feira sua renúncia como diretor-geral da Ópera de Los Angeles, instituição à qual estava vinculado desde sua criação há três décadas e da qual era diretor-geral desde 2003. Domingo é acusado de assédio sexual por 20 mulheres, de acordo com uma reportagem da agência Associated Press (AP). Sua renúncia acaba com o último vínculo que tinha com o mundo da ópera nos Estados Unidos.

A Ópera de Los Angeles mantinha aberta uma investigação sobre as acusações contra Plácido Domingo na qual estava entrevistando todos os seus trabalhadores. Domingo também está sendo investigado pelo sindicato dos músicos dos Estados Unidos. Duas orquestras norte-americanas, a Ópera de San Francisco e a Filarmônica da Filadélfia, já haviam cancelado apresentações de Domingo. Na semana passada, o cantor se retirou da montagem de Macbeth do Metropolitan Opera de Nova York na véspera da apresentação.

“As recentes acusações contra mim na imprensa criaram uma atmosfera que dificulta minha capacidade de servir esta companhia que tanto amo”, escreve Domingo em um comunicado enviado à imprensa pela Ópera de Los Angeles. “Enquanto continuo trabalhando para limpar meu nome, decidi que o melhor para os interesses da LA Opera é renunciar ao cargo de diretor-geral e me retirar neste momento das apresentações programadas”. Domingo acrescenta: “Faço isso com pesar no coração e ao mesmo tempo quero expressar meus melhores desejos ao conselho e à esforçada equipe da LA Opera para que continuem crescendo e brilhando”.

A decisão de Plácido Domingo é uma das consequências do caso que começou em 13 de agosto, quando a AP publicou a primeira parte de uma reportagem em que nove mulheres acusaram Domingo de vários episódios de assédio sexual em produções nos Estados Unidos. Unidos, várias delas em Los Angeles. Apenas uma mulher, a mezzo-soprano aposentada Patricia Wulff, se identificou, mas a AP afirmou que dezenas de depoimentos de trabalhadores da música dos EUA confirmaram que o comportamento de Domingo não era segredo para ninguém.

Domingo então respondeu com um comunicado no qual afirmou que os fatos descritos nas denúncias eram “inexatos”. Além disso, forneceu como justificativa que alguns comportamentos do passado são vistos hoje com outros olhos. Em 5 de setembro, a agência AP publicou outros 11 depoimentos de mulheres que afirmaram ter sido assediadas por Domingo. Uma deles também se identificou, uma cantora aposentada chamada Angela Turner Wilson. As mulheres decidiram falar quando viram a resposta de Domingo, segundo a AP.

Enquanto as formações de San Francisco e da Filadélfia agiram imediatamente depois da divulgação das primeiras queixas, a LA Opera anunciou que abriria uma investigação. O Metropolitan disse que esperaria pelo resultado de Los Angeles para tomar uma decisão, que colocou de fato o futuro da carreira de Domingo nos Estados Unidos nas mãos dessa investigação. A ópera encarregou o trabalho a uma advogada local especializada em crimes de colarinho branco e gestão de reputação, Debra Wong Yang. Todos os trabalhadores da instituição receberam o convite para colaborar. Os resultados dessa investigação não foram divulgados.

Por sua vez, o sindicato majoritário de trabalhadores da música dos Estados Unidos (Agma na sigla em inglês) também estava investigando após receber informações de seus membros posteriores à notícia da AP, segundo disseram seus diretores ao EL PAÍS. O sindicato não havia recebido queixas sobre Domingo antes dessa informação.

Em meio a essa tensão, chegou a apresentação do tenor espanhol no Metropolitan de Nova York, marcada para 25 de setembro. Domingo cancelou sua atuação com um comunicado na noite anterior. Segundo o The New York Times, alguns dias antes tinha participado do ensaio de figurino e alguns membros da equipe artística se queixaram à direção de ter que dividir o palco com Domingo. No comunicado em que anunciou que não participaria da apresentação, Domingo disse que o ensaio de figurino tinha sido sua última apresentação no Met, onde cantou durante 51 anos consecutivos.

Nesta quarta-feira a Ópera de Los Angeles agradeceu Domingo por sua contribuição à música clássica na cidade. “A contribuição de Plácido Domingo para a vida cultural da cidade foi profunda e não tem precedentes”, disse a ópera no comunicado. “Não é apenas um artista de talento excepcional, mas também é a força por trás da criação, do desenvolvimento e do crescimento da LA Opera”.

Domingo não era apenas o diretor-geral da instituição. Foi fundamental em sua criação há três décadas e basicamente a pessoa que colocou Los Angeles no circuito da música clássica mundial. Por meio dele, uma cidade sem a tradição de Nova York ou Filadélfia tinha acesso a grandes estrelas da ópera e a importantes doadores. “Agradecemos Plácido por popularizar a ópera em Los Angeles e estamos profundamente gratos pela inspiração e dedicação à nossa instituição e à nossa comunidade”, afirmou a instituição em seu comunicado.

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