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Pobreza na Argentina sobe oito pontos em um ano e atinge 35,4% da população

Dado se refere ao primeiro semestre e ainda não inclui o recente aumento da inflação no país, que chegou a 60% ao ano. Ele aponta que há 15 milhões de pessoas a mais na pobreza agora que em 2018

Enric González
Família vivendo em situação de rua em Buenos Aires.
Família vivendo em situação de rua em Buenos Aires.Getty
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A pobreza chega a níveis devastadores na Argentina. 35,4% da população, 8,1 pontos a mais do que há um ano, e 25,4% dos lares não podem pagar uma alimentação básica. São mais de 15 milhões de pessoas. O dado, publicado na segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estatística, se refere ao primeiro semestre do ano, de modo que não inclui a desvalorização de 12 de agosto e o aumento subsequente da inflação a 60% anual. Isso significa que a situação, agora, deve ser ainda pior. O cálculo é que até o final do ano a pobreza afetará 37% da população.

O novo índice de pobreza é, talvez, a pior notícia recebida por Mauricio Macri em seus quatro anos como presidente. Pior do que o recurso ao FMI, o “default” parcial, a recessão e o fracasso da luta contra a inflação. Chegou ao cargo pedindo aos argentinos que o julgassem pelo sucesso ou fracasso na luta contra a pobreza, e os números não admitem discussão. Herdou de Cristina Kirchner uma pobreza de 29%, de acordo com estimativas da Universidade Católica (o kirchnerismo interrompeu as medições oficiais) e a deixará em mais de 35% ao próximo presidente, que provavelmente não será ele, e sim o peronista Alberto Fernández. Os técnicos calculam que no final do ano, quando o novo mandato começar, o número estará por volta de 37%.

“Ainda que esse número doa, é preciso olhá-lo de frente, como fizemos todos os anos”, disse Macri sobre o dado da pobreza. Pediu “consenso” para combater o empobrecimento da população e frisou que sua política sempre foi de medir a pobreza, “não escondê-la”, em referência à presidenta anterior.

Os dados do Instituto Nacional de Estatística também revelam que 7,7% dos argentinos são indigentes, e que 50% dos menores de idade, um em cada dois, vivem na pobreza. Os alimentos básicos encareceram, entre junho de 2018 e junho de 2019, 58,3%, enquanto os salários e aposentadorias foram reajustados somente em 35%. Essa defasagem explica que um número crescente de pessoas não possa pagar a comida. Também incidem o maior desemprego, a transformação de empregos regulares em informais e a deterioração dos benefícios sociais.

Além de “olhar de frente” para o aumento da pobreza, Mauricio Macri precisa “olhar de frente” para as eleições, em 27 de outubro, nas quais, se as tendências mostradas pelas primárias de 11 de agosto se confirmarem, se arrisca a sofrer uma ampla derrota. O presidente enviou, através de sua conta no Twitter, uma mensagem aos argentinos em que anunciava que iria “mudar o que fosse preciso mudar” para aliviar a situação do país. “Sei que está irritado, com raiva”, escreveu. Depois afirmou que disse a verdade à população, que combateu o tráfico de drogas e que melhorou a infraestrutura, e prometeu que o futuro da economia será “melhor”.

O presidente multiplica sua atividade para melhorar suas perspectivas eleitorais. Sua reeleição é muito difícil, mas o essencial ao macrismo, agora, é que a coalizão que governou durante os últimos quatro anos mantenha uma presença relevante no futuro Parlamento. Macri disse na segunda-feira que aliviaria o desemprego (10,6% da população em idade de trabalho) suprimindo impostos às pequenas empresas. Mas também publicou um decreto que, modificando o sistema de cálculo, reduzia substancialmente as indenizações por acidente de trabalho, incapacidade definitiva e morte. Os sindicatos consideram que a medida significaria um empobrecimento posterior dos assalariados e começaram a preparar a apresentação de um recurso de inconstitucionalidade contra o decreto.

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