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Em discurso na ONU, Bolsonaro escancara programa de ultradireita e anti-indígena

Em seu primeiro discurso na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, presidente do Brasil também negou que Amazônia esteja sendo devastada: “É uma falácia dizer que a Amazônia é um patrimônio da humanidade”

O presidente Jair Bolsonaro discursa na cerimônia de abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, nesta terça-feira.Vídeo: Mary Altaffer(AP)|NBR
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O presidente Jair Bolsonaro usou o discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU em Nova York para escancarar, diante do mundo, seu programa de ultradireita, pró-ditadura e anti-indígena para o Brasil. Para a audiência brasileira, o discurso de Bolsonaro na ONU nesta terça-feira não trouxe surpresas em relação às ideias que o capitão da reserva do Exército defende desde a campanha. O ultraconservador iniciou seu discurso reivindicando o golpe militar de 1964 que instalou uma ditadura militar no Brasil. Repetiu seu argumento, sem base na realidade, que sua chegada ao poder salvou o Brasil do “socialismo”.

Em um discurso de pouco mais de meia hora e lido sem grandes interrupções, o presidente Jair Bolsonaro desafiou os críticos de sua política ambiental e versou contra multas ambientais, para dizer que as queimadas florestais recordes nos últimos cinco anos no país e na Amazônia, medidas por órgãos oficiais, são infladas pela mídia global que deseja atacá-lo.

"É uma falácia dizer que a Amazônia é um patrimônio da humanidade", disse o mandatário diante de uma plateia de cerca de 150 chefes de Estado, em uma crítica ao presidente francês Emmanuel Macron. O presidente brasileiro também repetiu ao mundo que não haverá nova demarcação de terras indígenas no Brasil e ainda atacou a extensão das atuais reservas, destinando seus ataques ao cacique Raoni, cotado para concorrer ao prêmio Nobel da Paz. "A visão de um líder indígena não representa a de todos os índios brasileiros. Muitas vezes alguns desses líderes, como o cacique Raoni, são usados como peça de manobra por governos estrangeiros na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia. Infelizmente, algumas pessoas, de dentro e de fora do Brasil, apoiadas em ONGs, teimam em tratar e manter nossos índios como verdadeiros homens das cavernas", discursou Bolsonaro.

A fala de Bolsonaro na ONU foi seguido pela fala do presidente dos EUA, Donald Trump, que também usou o púlpito das Nações Unidas para reafirmar seu discurso ultranacionalista e anti-migratório. "O futuro pertence aos patriotas, não aos globalizadores", discursou o norte-americano.

Trump emulou Bolsonaro e, como o brasileiro, também recordou o fantasma socialista. "O socialismo não quer tirar os pobres de sua condição. Eles apenas querem poder para a classe que ocupa o poder. Os Estados Unidos nunca serão um país socialista", disse.

Veja os destaques em tempo real do discurso de Bolsonaro na ONU:

Democratas lançam processo de impeachment contra Donald Trump

http://cort.as/-RXgo

Com impeachment à espreita, Trump discursa

Em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, Trump diz que “o futuro pertence aos patriotas, não aos globalistas”.  Enquanto isso, os democratas engrossavam coro por processo de impedimento: http://cort.as/-RXFx

Entidades ambientais criticam fala de Bolsonaro

Para o Observatório do Clima, o presidente Brasileiro envergonhou o país com seu discurso, sobretudo em relação à área ambiental. "O presidente mais uma vez envergonhou o Brasil no exterior ao abdicar a tradicional liderança do país na área ambiental em nome de sua ideologia. Não fez nada para tranquilizar investidores, nem para aplacar o clamor crescente por boicote a produtos brasileiros. Põe em risco o próprio agronegócio que diz defender", afirmou a organização, que reúne 37 entidades da sociedade civil brasileira.

A opinião é semelhante à do Greenpeace:  “A fala do presidente sobre meio ambiente foi uma farsa. Bolsonaro tentou convencer o mundo que protege a Amazônia, quando, na verdade, promove o desmonte da área socioambiental, negocia terras indígenas com mineradoras estrangeiras e enfraquece o combate ao crime florestal”, declarou Marcio Astrini, coordenador de Políticas Públicas da organização não-governamental.

Em sua fala, o presidente brasileiro negou que a Amazônia esteja ameaçada e, em tom agressivo diante de chefes de Estado do mundo todo, reafirmou sua política nacionalista e disse que a floresta está "praticamente intacta". "Nossa Amazônia é maior que toda a Europa Ocidental e permanece praticamente intocada. Prova de que somos um dos países que mais protegem o meio ambiente.", afirmou o mandatário.

Um mapa para entender as tensões que são pano de fundo da Assembleia Geral da ONU

A ameaçadora sombra de uma desaceleração econômica, a guerra comercial, o aquecimento global, o incerto conflito no Oriente Médio, a tensão na Venezuela, o Brexit... Diversas crises marcam a agenda da Assembleia Geral da ONU que começou nesta terça em Nova York. Aos assuntos mais evidentes se somam inesperados pontos de interesse, como uma reunião entre os líderes norte-americano e ucraniano, onde se buscarão chaves do enésimo escândalo interno de Donald Trump. Estes são alguns dos assuntos a não perder de vista em uma semana frenética:

Por Javier Lafuente, Pablo Guimón e Naiara Galarraga Gortázar

http://cort.as/-RWFN

Presidente Jair Bolsonaro publica a íntegra de seu discurso no Twitter.

Trump faz críticas ao regime venezuelano e ao presidente do país, Nicolás Maduro, a quem chama de "marionete de Cuba". O presidente dos Estados Unidos também critica o socialismo e o comunismo, que, segundo ele, "bão têm a ver com justiça ou igualdade". "O socialismo não quer tirar os pobres de sua condição. Eles apenas querem poder para a classe que ocupa o poder. Os Estados Unidos nunca serão um país socialista", afirma na ONU.

Donald Trump também discursa sobre imigração e critica os defensores das fronteiras abertas. O presidente dos Estados Unidos agradece ao presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador por sua colaboração e adverte os migrantes de que, se chegarem ao país, não poderão entrar: "Enquanto eu for o presidente, aplicaremos nossas leis e protegeremos nossas fronteiras".

Donald Trump, fala de um novo acordo comercial extraordinário com o Reino Unido. Comenta ainda sobre as relações comerciais dos Estados Unidos com a China. Ele explica que as dificuldades para que ambos países cheguem a um entendimento é que a China tem um modelo econômico que depende de grandes barreiras de mercado, grandes subsídios estatais e manipulação da moeda. "Para lutar contra essas práticas injustas, eu impus sanções sobre muitos bens da China", diz Trump. E acrescenta: "Esperamos chegar a um acordo que traga benefício para os dois países. Não vou aceitar um acordo que não seja bom para os Estados Unidos".

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, defende que "o futuro não pertence aos globalizadores, mas aos patriotas". "Graças a nossas políticas econômicas, nosso desemprego chegou ao nível mais baixo em 50 anos", discursa na ONU.

Agora, quem discursa é o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Bolsonaro fez um discurso corrosivo, falando em “velho ambientalismo”, socialismo, ditadura em Cuba e Venezuela. Antecedeu Donald Trump que deve discursar numa linha similar para atacar o mundo.

Bolsonaro faz menção a uma passagem da Bíblia. “A verdade vos libertará”. D z que “com humilidade”, a ONU poderá contar com um  novo Brasil.

Bolsonaro também atacou o "politicamente correto" e o que chamou de "ideologia"que tenta "corromper a família": "A ideologia se instalou na Cultura, na educação e na mídia". Lembrou o atentado que sofreu durante a campanha eleitoral de 2018 e o atribuiu à esquerda. Disse ter sobrevivido por um milagre.

“Durante as últimas décadas nos deixamos seduzir por sistemas ideológicos”, diz Bolsonaro em seu discurso, menconiando domínio ideológico em empresas de mídia e universidade, e exalta valores de família. Fala em perversão de “nossas crianças” para bater na ideologia de gênero, embora não tenha feito nenhum comentário desde o final de semana para se solidarizar pela menina Ágatha, morta no Morro do Alemão.

O presidente também negou que a floresta amazônica esteja sendo devastada: "A Amazônia não está sendo devastada e nem sendo consumida pelo fogo, como diz a mídia. Não deixem de conhecer o Brasil. Ele é muito diferente do que é estampado pelos jornais."

Sobre os povos indígenas, o presidente utilizou seu discurso para desqualificar a visibilidade internacional do cacique Raoni, indicado por indigenistas e entidades de direitos humanos como candidato ao prêmio Nobel da Paz, por sua luta em defesa da Amazônia e de seus povos. "Acabou o monopólio do senhor Raoni", afirmou.

Bolsonaro sugere que o cacique Raoni é usado por outros países para aumentar domínio na Amazônia. Cita ouro, nióbio e terras raras em reservas Yanomamis. “Reserva equivale a Portugal mas vivem somente 15.000 índios”.

Sobre a Amazônia: "É uma falácia dizer que a Amazônia é um patrimônio da humanidade e pulmão do mundo". 

Logo no início da sua fala, Bolsonaro reafirmou que o Brasil esteve próximo de se tornar um país comunista e voltou a defender a ditadura militar. "Meu país esteve muito próximo do socialismo", afirmou. "O Brasil também sente os impactos da ditadura venezuelana".

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