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Sem Brasil, cúpula da ONU faz pressão mundial contra crise climática

Donald Trump chega de surpresa ao encontro em Nova York, que não contará com a presença de Jair Bolsonaro

O secretário-geral da ONU, António Guterres, discursa na abertura da cúpula do clima na ONU, em Nova York.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, discursa na abertura da cúpula do clima na ONU, em Nova York.STEPHANIE KEITH (AFP)
Manuel Planelles

A sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, abriga nesta segunda-feira a chamada Cúpula de Ação Climática. Este encontro foi convocado pelo secretário-geral da ONU, o português António Guterres, em maio de 2018. A reunião, da qual participarão cerca de sessenta líderes, além de representantes de grandes empresas e de cidades comprometidas com o combate às mudanças climáticas, tem perfil político, e não negociador.

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O início do encontro foi marcado pela breve aparição surpresa do presidente norte-americano, Donald Trump, que retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris em 2017. Já o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, não estará entre as autoridades, porque o Brasil "não mostrou interesse", segundo afirmou Guterres ao jornal britânico Financial Times. Por outro lado, estarão presentes os principais presidentes e primeiros-ministros da UE, além do da Índia. Também estarão representados, embora não por seus principais líderes, China e Rússia. Guterres deixou claro que neste encontro somente poderiam intervir os Estados dispostos a apresentar propostas concretas contra as mudanças climáticas.

A cúpula parte de uma premissa: os esforços dos países para manter o aquecimento global dentro de limites aceitáveis não são suficientes. E para as Nações Unidas este é o momento de os governantes colocarem sobre a mesa planos mais rígidos, alinhados com as recomendações e advertências lançadas pelo mundo científico.

Por que os esforços não têm sido suficientes?

O Acordo de Paris, assinado em 2015, estipula que todos os países que estão no pacto, desenvolvidos ou em vias de desenvolvimento, devem apresentar planos para reduzir suas emissões de efeito estufa para que seja possível conter a elevação das temperaturas. O objetivo é que a soma de todos esses planos nacionais dos quase 200 signatários permita que o aumento médio da temperatura do planeta não exceda dois graus Celsius durante este século em relação aos níveis pré-industriais e, na medida do possível, permaneça abaixo de 1,5 grau Celsius. O problema é que os planos já apresentados pelos signatários do pacto levarão a um aumento de mais de três graus, o que teria um grave impacto nos seres humanos e na natureza, segundo alertam os relatórios do IPCC, o painel internacional de especialistas que assessoram a ONU.

O que a ONU pede aos participantes da cúpula?

O Acordo de Paris estabelece que a cada cinco anos os países devem rever para cima seus planos de corte de emissões, a fim de romper a lacuna entre o que precisa ser feito e o que está previsto. A primeira revisão é em 2020, e Guterres pediu aos países participantes da cúpula que anunciassem ou apresentassem suas revisões agora.

O secretário-geral da ONU assumiu o objetivo mais ambicioso de Paris –o de 1,5 grau– e desafiou os Estados a assumirem quatro compromissos muito concretos para alcançar esta meta: que novas usinas a carvão não sejam construídas a partir de 2020, que encerrem os subsídios aos combustíveis fósseis que dificultam a expansão das energias renováveis, que seus planos para 2030 prevejam um corte de 45% nas emissões em comparação com as de 2010 e que em 2050 alcancem a neutralidade de carbono –que o expelido para a atmosfera seja igual ao capturado, por exemplo, através das florestas.

Quais países participam?

A reunião contará com cerca de 65 dirigentes, a maioria deles presidentes e primeiros-ministros. A União Europeia tem a representação mais poderosa. De acordo com a agenda provisória, participam 16 chefes de Estado europeus, incluindo Angela Merkel, Emmanuel Macron, Giuseppe Conte, Pedro Sánchez e Boris Johnson. No entanto, a UE –que sempre fala com uma voz única nas negociações climáticas e ambientais– não conseguiu trazer um plano concreto para a cúpula. Não houve tempo para uma reunião em que os países aprovassem, como a maioria dos 28 deseja, a meta de emissões zero até 2050. No entanto, espera-se que cada um dos líderes europeus se comprometa agora separadamente com esse objetivo e que, quando a nova Comissão Europeia terminar de ser formatada até o final do ano, a UE se mostre mais ambiciosa no combate às mudanças climáticas.

Duas das principais incógnitas serão China e Índia. Espera-se que anunciem que revisarão para cima seus planos de corte de emissões, embora não se saiba o grau dessa alteração. Por último, no bloco dos grandes emissores, há expectativa também sobre o papel da Rússia, que ainda não concluiu os procedimentos de ratificação do Acordo de Paris, embora Vladimir Putin (cuja presença não está prevista) já tenha indicado em várias ocasiões que seu país vai firmá-lo.

Somente participam os Estados?

Não. A ONU também quis participassem da sessão central representantes de várias cidades –como Copenhague ou Montreal–, dos movimentos juvenis, que realizaram no sábado uma cúpula em Nova York, na qual esteve presente a ativista Greta Thunberg, e de grandes empresas. Por volta de dez altos executivos, como os CEOs da Danone e da Allianz, comparecerão. José Ignacio Sánchez Galán, principal dirigente da Iberdrola, será o único representante de uma empresa espanhola.

Embora a cúpula dure um dia, há vários eventos paralelos, como a manifestação que percorreu as ruas de Manhattan na sexta-feira e os painéis com a participação de empresas e associações.

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