_
_
_
_
_

Preços do petróleo disparam após ataque na Arábia Saudita

Segundo observadores, o risco será maior se os EUA adotarem represálias contra o Irã

Ángeles Espinosa
Uma plataforma petrolífera de Aramco, neste domingo cerca de Riad.
Uma plataforma petrolífera de Aramco, neste domingo cerca de Riad.FAYEZ NURELDINE (AFP)
Mais informações
Irã adverte aos EUA sobre “consequências devastadoras” se for atacado
Rebeldes iemenitas usam drones para atacar duas instalações petrolíferas na Arábia Saudita

Com a reabertura de alguns mercados finaceiros, os preços do petróleo dispararam entre 15% e 20% após o ataque de drones a duas instalações importantes da petroleira saudita Aramco neste fim de semana. A ação afetou mais da metade da produção de petróleo na Arábia Saudita. Os preços do petróleo crude avançaram mais de oito dólares e chegaram a 63 dólares por barril na noite deste domingo. A alta no preço do brent foi ainda maior. O barril atingiu 71,95 dólares após aumentar quase 12 dólares, um avanço de 19% na abertura do mercado de Cingapura, segundo dados da Bloomberg. Embora os altos funcionários do reino tenham procurado tranquilizar seus clientes, dizendo que o volume vai se recuperar logo, os analistas temem que a volta aos 10 milhões de barris diários extraídos pela estatal Aramco poderia levar semanas ou até meses.

A Arábia Saudita é o maior exportador mundial de petróleo, fornecendo cerca de 10% das necessidades globais. Isso significa que o corte de 5,7 milhões de barris diários, segundo dados oficiais, equivale a quase 6% do consumo mundial, o que mostra a envergadura do problema. Javier Blas, correspondente-chefe de Energia da agência Bloomberg, disse no Twitter não se lembrar de uma perda dessa envergadura no volume de petróleo da noite para o dia desde a invasão do Kuwait pelas tropas iraquianas de Saddam Hussein, em 1990.

Tanto o ministro saudita da Energia, o príncipe Abdulaziz bin Salman, como a Agência Internacional de Energia (organismo independente) destacaram a existência de estoques para cobrir os compromissos do reino. De acordo com dados de junho passado, a Arábia Saudita dispõe de 188 milhões de barris armazenados, que serviriam para suprir a demanda do mercado durante semanas. Os Estados Unidos ofereceram suas reservas para garantir o abastecimento mundial.

Segundo o jornal econômico Financial Times, Riad está em contato com vários membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) caso seja necessário aumentar temporariamente a produção até que o reino restabeleça a sua. Existe margem porque, desde o final de 2016, sob impulso saudita, seus membros limitaram o volume de petróleo que sai para o mercado a fim de elevar o preço.

O problema é que não se sabe o alcance real dos danos causados pelos incêndios provocados pelo ataque dos rebeldes houthis do Iêmen. Todas as atenções se voltam à abertura das Bolsas asiáticas nesta segunda-feira. Meia dúzia de analistas consultados pela Reuters concordam, a grosso modo, sobre um aumento inicial de até 10 dólares no preço do barril a partir dos 60 (240 reais) dólares fechados na sexta, podendo chegar aos 100 dólares (400 reais) se o problema não for resolvido no curto prazo (entre um e três meses).

Mas Nick Butler, especialista em política energética internacional citado pela BBC, adverte que o efeito poderia ser breve. “Durante os últimos anos, o mercado se ajustou rapidamente à perda, por motivos políticos, de mais de dois milhões de barris diários da Venezuela e do Irã”, recorda.

A Bolsa de Riad, o maior mercado árabe, abriu neste domingo, primeiro dia da semana do reino, com uma queda de 3%. Mas logo se recuperou para fechar com apenas 1,05% de perda.

A preocupação dos observadores não é tanto o ritmo da volta à produção, mas a possibilidade de que os ataques alimentem as tensões regionais – que poderiam disparar os preços mais a longo prazo. Todas as análises ressaltam o entorno da agressão: a disputa entre os EUA e o Irã. A Arábia Saudita é o principal aliado árabe do presidente norte-americano, Donald Trump, e apoiou sem pestanejar sua política de “máxima pressão” contra os iranianos para obrigá-los a renegociar o acordo nuclear de 2015 e reduzir sua influência no Oriente Médio.

As declarações do secretário de Estado, Mike Pompeo, culpando o Irã do ataque fizeram lembrar que há apenas três meses Trump esteve a ponto de bombardear o país. Uma represália desse tipo teria muito mais impacto sobre o preço do barril e, eventualmente, sobre o que o consumidor paga por um litro de gasolina.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_