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Talibãs prometem fazer EUA sofrer após Trump suspender negociações

Presidente norte-americano cancelou reunião secreta com representantes da guerrilha em Camp David

Ángeles Espinosa
Soldados norte-americanos transportam os restos mortais de Elis Barreto Ortiz, que morreu em um atentado em Cabul em 5 de setembro.
Soldados norte-americanos transportam os restos mortais de Elis Barreto Ortiz, que morreu em um atentado em Cabul em 5 de setembro.Cliff Owen (AP)

Os talibãs ameaçaram fazer os Estados Unidos “sofrer” em resposta à suspensão das negociações anunciadas no sábado pelo presidente Donald Trump. “A América vai sofrer mais do que ninguém”, disse Zabihullah Mujahid, porta-voz do principal grupo insurgente do Afeganistão. Embora tudo indique um recrudescimento imediato da violência, ambos os lados deixaram as portas abertas e a maioria dos observadores acredita que voltarão a negociar.

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“A atitude [dos EUA] contra a paz será mais visível à luz do mundo e suas perdas humanas e financeiras aumentarão”, ameaçou Mujahid em um comunicado. O porta-voz reiterou o compromisso dos rebeldes de “continuar a jihad até que termine a ocupação”.

O anúncio de Trump revelou que ele planejava se reunir no fim de semana com representantes dos talibãs, além do presidente afegão Ashraf Ghani, em Camp David. O enviado especial dos EUA para o Afeganistão, Zalmay Khalilzad, mantém reuniões com líderes talibãs em Doha (Catar) há pelo menos um ano. Na segunda-feira da semana passada Khalilzad apresentou a Ghani um rascunho que, segundo os vazamentos, incluía a retirada de cerca de 5.000 dos 14.000 soldados que Washington ainda tem mobiliados, no prazo de cinco meses.

A suspeita que esses contatos despertaram no Governo afegão, que os talibãs se recusam a reconhecer, foi ratificada no mesmo dia. Justo quando Khalilzad estava sendo entrevistado ao vivo pela rede ToloTV, a guerrilha explodiu um caminhão-bomba em Cabul que deixou cerca de trinta mortos.

Uma das principais críticas que os afegãos fazem sobre as negociações de Doha é que os talibãs não renunciaram à violência enquanto negociam. Sabem que jogam com cartas ganhadoras. Controlam grande parte do Afeganistão e demonstraram que não podem ser derrotados devido ao enorme custo humano da guerra entre a população. Além disso, depois de 18 anos de conflito, o mais longo que os EUA já mantiveram, Trump tem pressa em sair do Afeganistão.

Não está claro o que fez Trump mudar de opinião. Em seus tuítes, mencionou o ataque de terça-feira passada em Cabul, no qual 12 pessoas morreram, entre elas um soldado norte-americano. Mas alguns observadores consideram que foi um mero “pretexto” para abandonar um acordo sobre cujo funcionamento existem grandes dúvidas, como sugeriu pelo Twitter Michael Kugelman, do centro de estudos Wilson.

Neste momento, a única coisa em que todos os observadores concordam é que a violência aumentará daqui até as eleições presidenciais do próximo dia 28. No entanto, alguns veem sinais de que os dois lados estão dispostos a continuar tentando. Embora Mujahid continue incansável, divulgando as proezas dos talibãs pelas redes sociais (nesta segunda-feira diz que tomaram a sede de um distrito na província de Tahkhar e uma base das forças afegãs na de Kunduz) e denunciando os “invasores norte-americanos” (aos quais atribui a morte de nove civis em um bombardeio em Wardak), também se mostrou convencido de que seus inimigos voltarão a sentar com eles para negociar.

O próprio secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, não descarta isso, desde que os rebeldes “mudem de atitude”. “Não estou pessimista”, disse ele, citado pela imprensa norte-americana, depois de advertir que os EUA não reduzirão sua pressão enquanto a milícia não cumprir os “compromissos adquiridos”. Ou seja, que garantam que não permitirão que a Al Qaeda, o Estado Islâmico ou similares se instalem em solo afegão, reduzam a violência e abram negociações de paz diretas com o Governo afegão, algo que sempre recusaram.

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