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Grupos armados ameaçam um terço dos municípios da Colômbia durante período pré-eleitoral

Defensoria do Povo denuncia ameaças de grupos armados em 402 prefeituras. Em quase 80 localidades, o alerta é extremo

O carro onde foi assassinada Karina García, candidata à prefeitura de Suárez.
O carro onde foi assassinada Karina García, candidata à prefeitura de Suárez.LUIS ROBAYO (AFP)
Francesco Manetto

Ameaças, coações aos eleitores e, no pior dos cenários, assassinatos ou ataques indiscriminados a representantes políticos e comitês eleitorais. A pré-campanha das eleições municipais na Colômbia fez a tensão disparar sobretudo nos territórios rurais e, segundo um relatório da Defensoria do Povo, 402 municípios estão expostos a riscos de diferentes tipos. Ou seja, 36% do total. Em quase 80 localidades, o perigo é extremo. O pleito está marcado para 27 de outubro.

Dias depois do assassinato de Karina García —candidata do Partido Liberal em um povoado do departamento do Cauca, morta a tiros com sua mãe e a outras quatro pessoas de sua equipe— o organismo público divulgou um estudo que alerta para o clima de medo que acompanha a realização do pleito nas zonas onde estão os grupos armados.

O aspecto positivo, quase três anos depois da assinatura dos acordos entre o Estado e a extinta guerrilha das FARC, é que desta vez não existe “uma ordem nacional de desestabilização” como ocorreu no passado. Principalmente porque não há nenhuma organização com capacidade de agir em todo o território.

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Entretanto, “a presença de grupos armados ilegais [...] constitui uma ameaça para esse exercício democrático”, afirma o Defensor do Povo, Carlos Alfonso Negret, em referência ao voto. “As violações maciças dos direitos humanos e as infrações ao direito internacional humanitário que se materializam nos territórios são um indicador da possibilidade do risco de que os cidadãos se vejam restringidos em sua possibilidade de eleger e serem eleitos”. Além dos casos de violência explícita contra os candidatos ou os líderes comunitários, a instituição aponta temas de preocupação como as garantias ao direito de participação, a situação dos ex-combatentes das FARC —houve pelo menos 149 assassinatos desde o começo da desmobilização— e o “crescente ambiente de polarização e estigmatização política surgido a partir do plebiscito de 2 de outubro de 2016”.

Os grupos responsáveis por esta ameaça são muito diversos, embora todos tenham interesse em assumir com o controle de cultivos ilícitos e dos corredores do tráfico de drogas. Isso inclui o Exército de Libertação Nacional (ELN), organização insurgente ainda ativa na Colômbia, várias células dissidentes das FARC, os paramilitares das autodefesas gaitanistas e os cartéis de narcotraficantes. Os riscos no período eleitoral têm a ver, segundo a Defensoria, com “lógicas regionais, sub-regionais e locais de confronto armada, controle social e territorial, assim como cenários de alto conflito social”.

Essas grupos e máfias locais se mobilizam com maior intensidade antes de eleições porque pretendem “intervir e conseguir penetrar nas administrações públicas por meio de diversas estratégias, todas impregnadas da forma particular de ação ditada pela lógica do confronto armado ou do conflito social no território”. De qualquer forma, relatório enfatiza que “a presença desses grupos está intimamente ligada à economia ilegal”.

Os mais expostos ao perigo são os candidatos e membros dos partidos políticos; os ex-combatentes e membros do partido FARC, os líderes sociais e defensores dos direitos humanos; os representantes de comunidades indígenas e de grupos étnicos que participam das eleições; e os funcionários públicos, especialmente os responsáveis pela vigilância e controle do processo eleitoral. O município mais afetado foi, até o momento, Arauca, capital do departamento do mesmo nome, localizado em uma área de alta conflituosidade na fronteira com a Venezuela.

No entanto, desde janeiro a Defensoria também registrou condutas ilegais em grandes capitais ou centros turísticos emblemáticos como Cali, Cartagena e Santa Marta. Em Bogotá houve cinco casos. Os crimes têm graus variados de gravidade. Até 15 de agosto havia 13 homicídios, 10 ataques ou atentados contra candidatos ou sedes de partidos políticos e quase 200 ameaças comprovadas a pessoas e organizações.

No último mês, como denunciou a Missão de Observação Eleitoral (MOE) no início desta semana, cinco candidatos foram assassinados. Nesta quinta-feira, o presidente colombiano Iván Duque, disse em entrevista a uma emissora de Barranquilla que as autoridades vão processar e levar à justiça “esse bandido que assassinou de modo vil” Karina García em Cauca. O responsável, dissidente das FARC apelidado de Mayimbú, é, segundo o presidente, “uma consequência desse contubérnio com o narcotráfico e os que não quiseram entregar nem as armas nem o dinheiro e continuam agora a serviço de cartéis internacionais para o fornecimento de cocaína”.

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