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Rebelião conservadores contra Johnson acelera possível antecipação eleitoral

O primeiro-ministro do Reino Unido afirma que não quer eleições, mas fontes do Governo apontam que se o Parlamento desacelerar o Brexit o líder buscará adiantar o pleito

Rafa de Miguel
Manifestantes a favor do ‘Brexit’, em 31 de agosto, em Londres.
Manifestantes a favor do ‘Brexit’, em 31 de agosto, em Londres.Alastair Grant (AP)

Tornou-se um duelo de força e o conservador Boris Johnson não está disposto a perdê-lo. A oposição retorna ao Parlamento nesta terça-feira com a intenção de pressionar urgentemente por uma resolução que force o primeiro-ministro a solicitar outros dois meses à União Europeia para o Brexit . Downing Street ameaçou expulsar os conservadores rebeldes —mais de 15— do grupo parlamentar disposto a apoiar essa proposta. O primeiro-ministro os acusa de amarrar suas mãos na negociação com Bruxelas. "Não quero novas eleições", desafiou Johnson. "Mas, sob nenhuma circunstância, atrasarei a data do Brexit".

Uma isca, um pedido e um aviso. Johnson apareceu na segunda-feira à tarde nos portões da residência oficial de Downing Street. Se dirigiu aos deputados conservadores que pretendem votar, juntamente com a oposição, para solicitar uma nova extensão da saída da UE. “Nas últimas semanas, as chances de chegar a um acordo aumentaram, por três razões. Porque eles veem que queremos claramente um acordo, porque eles têm uma visão clara de como deve ser o futuro relacionamento entre o Reino Unido e a União Europeia e porque eles viram força em nossa decisão.” Essa foi a isca, apesar de nenhuma evidência mostrar que as negociações com Bruxelas avançaram um centímetro. "Se os deputados apoiarem outro atraso sem sentido do Brexit, como proposto por Jeremy Corbyn [o líder da oposição], eles tornarão impossíveis quaisquer negociações no futuro". Esse foi o pedido, para evitar uma derrota humilhante que paralisaria a ação do Governo. “Quero que todos saibam: em circunstância alguma solicitarei uma nova extensão a Bruxelas. Partimos [da União Europeia] em 31 de outubro (...) não quero eleições antecipadas e as pessoas não querem eleições antecipadas.” E esse foi o aviso.

Johnson não descartou claramente o uso da arma eleitoral, que sua equipe de Governo exibiu no início da segunda-feira, mas construiu seu discurso com uma lógica que leva apenas a dois resultados possíveis. Se o Parlamento aprovar na terça-feira uma resolução legal que limite sua capacidade de governar, a alternativa é violar a lei ou reivindicar um mandato legitimador dos eleitores. Fontes do Governo já anteciparam a vários meios de comunicação britânicos que a data das futuras eleições seria 14 de outubro, se Johnson fosse derrotado no Parlamento. Duas semanas antes da data prevista para a saída do Reino Unido da UE e três dias antes do crucial Conselho Europeu de 17 de outubro.

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Downing Street pretende usar todos os instrumentos à sua disposição para vencer esta batalha. A oposição divulgou sua estratégia na segunda-feira e tornou pública a carta que procura forçar Johnson a enviar ao presidente do Conselho Europeu. No texto, reivindicam uma nova prorrogação de dois meses na data de partida, até 31 de janeiro. A iniciativa foi liderada pelo Partido Trabalhista, e a primeira assinatura é de seu vice, Hillary Benn. Mas ao lado de seu nome estão os pesos pesados do Partido Conservador, como o ex-ministro da Economia, Philip Hammond, ou o ex-ministro da Justiça, David Gauke. Até 15 tories rebeldes estão dispostos a votar contra Johnson, que mal mantém a maioria parlamentar de um deputado. É por isso que Downing Street ameaçou expulsar todos eles do grupo parlamentar e impedir que fossem reeleitos, mas a ameaça causou o efeito de encorajar ainda mais todos aqueles que pensam que esta semana é a última chance de evitar a catástrofe econômica que poderia supor uma saída desordenada das instituições comunitárias.

Paradoxalmente, como aconteceu em outras ocasiões, grande parte da pressão sobre o primeiro-ministro mudou para os ombros do líder trabalhista, Jeremy Corbyn. Sob a Lei do Mandato Parlamentar Fixo de 2011, Johson não pode convocar por si mesmo uma antecipação eleitoral. Precisa do apoio de dois terços da Câmara dos Comuns. Ou seja, precisa do principal partido da oposição. Corbyn vem exigindo novas eleições há meses. E, no entanto, ontem, dois ex-primeiros-ministros, como Gordon Brown ou Tony Blair, advertiram-no para não cair na "armadilha para elefantes" estabelecida por seu rival e se concentrar em apoiar iniciativas implantadas no Parlamento para impedir Johnson. "As eleições seriam a resposta mais democrática para sair dessa situação e dariam aos cidadãos a possibilidade de escolher entre duas rotas muito diferentes", disse Corbyn, que se recusou a revelar suas cartas, apesar da divisão interna que voltou a aflorar dentro de sua formação.

Fontes do Governo apresentaram a votação desta semana como uma maneira de os deputados expressarem se mantêm ou não a confiança no recém-eleito primeiro-ministro. “Quem deve controlar a agenda legislativa? Johnson ou Corbyn?", se perguntava na BBC Jacob Rees-Mogg, o eurocético que levou Johnson ao poder. "É uma questão de confiança, porque é importante para o Governo que essa confiança seja expressada", afirmou.

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