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Bolsonaro condiciona avaliar ajuda do G7 a retirada de “insultos” de Macron e reforça atrito com a França

Presidente brasileiro recua após membros do Governo informarem que os 20 milhões de dólares oferecidos para auxiliar no combate aos incêndios na Amazônia seriam rejeitados

Área arrasada pelo fogo na Amazônia brasileira, no último sábado 24 de agosto. / Vídeo: Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro.Vídeo: LULA SAMPAIO (afp) | reuters

Depois de diferentes declarações de integrantes do Governo brasileiro sobre a ajuda financeira oferecida pelos países do G7 para o combate aos incêndios na Amazônia, ainda é incerto se o Brasil aceitará ou não os 20 milhões de dólares (cerca de 83 milhões de reais) oferecidos pelo bloco. Horas depois do ministro da Casa Civil Onyx Lorenzoni sinalizar que o Brasil deveria rejeitar o auxílio para apagar as chamas florestais, o presidente Jair Bolsonaro condicionou aceitar a oferta a um pedido de desculpas do presidente francês Emmanuel Macron. "Eu falei isso [em não aceitar os recursos]?", questionou o mandatário brasileiro, no início da manhã desta terça-feira, ao ser questionado por jornalistas sobre o por quê de o Brasil não aceitar a oferta do G7. "Primeiramente, o senhor Macron deve retirar os insultos que fez à minha pessoa. Primeiro, me chamou de mentiroso. Depois, a informações que eu tive, é que a nossa soberania está em aberto na Amazônia", afirmou, na saída do Palácio da Alvorada.

A maior parte dos recursos acordado entre Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão e Reino Unido seria destinada para o envio de aviões Canadair para combater os incêndios na Amazônia. "Então, para conversar ou aceitar qualquer coisa da França, que seja das melhores intenções possíveis, ele [Macron] vai ter que retirar essas palavras e, daí, a gente pode conversar", disse o presidente brasileiro. "Primeiro, ele retira, depois ele oferece e daí eu respondo", completou. Bolsonaro não mostrou, no entanto, qualquer intenção de pedir desculpas à primeira-dama francesa, Brigitte Macron, por ter endossado, nesta segunda-feira, em uma rede social um comentário ofensivo à esposa do mandatário francês. Bolsonaro limitou-se a dizer que não publicou a foto que zombava da aparência de Brigitte e disse apenas que afirmou ao responsável pela publicação para "não falar besteira" —na ocasião, o presidente brasileiro respondeu ao internauta com a frase: “não humilha cara. kkkkkkk”.

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Macron e Bolsonaro vem trocando críticas públicas desde a semana passada, quando o aumento das queimadas na Amazônia foi classificada por Macron como uma crise internacional. O governo francês chegou a ameaçar bloquear o acordo da União Europeia com o Mercosul por causa das "mentiras" de Bolsonaro. A escalada da tensão entre os presidentes subiu ainda mais depois que o mandatário brasileiro e um de seus ministros publicaram comentários desrespeitosos sobre o presidente francês e sua esposa. "Como sinto muita amizade e respeito pelo povo brasileiro, espero que tenha rapidamente um presidente que esteja à altura", reagiu o líder francês em entrevista coletiva durante o último dia da cúpula do G7, em Biarritz (França).

No mesmo dia, Bolsonaro questionou quais intenções estariam por trás da oferta do auxílio financeiro por parte do G7. "Será que alguém ajuda alguém, a não ser uma pessoa pobre, né, sem retorno? Quem é que está de olho na Amazônia? O que eles querem lá?", questionou. Bolsonaro também usou as redes sociais para dizer que não aceitará que o presidente francês "dispare ataques descabidos e gratuitos à Amazônia". "Nem que disfarce suas intenções atrás da ideia de uma aliança dos países do G7 para salvar a Amazônia, como se fôssemos uma colônia ou uma terra de ninguém", acrescentou o presidente brasileiro, acirrando ainda mais a queda de braço entre os dois mandatários.

As declarações mais recentes de Bolsonaro divergem do tom do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que chegou a dizer, que a ajuda do G7 seria bem-vinda. Nesta terça-feira, porém, Salles também recuou e afirmou à agência Reuters, que ainda não tinha sido informado pelo Governo sobre o assunto.

No último fim de semana, foram registrados mais de 1.000 novos incêndios e, desde o início do ano, já foram reportados 80.626 em todo Brasil, quase 80% a mais que no mesmo período de 2018, segundo dados do Instituto Nacional de Investigação Espacial (INPE). Os satélites mostram que mais de 80% do território devorado pelas chamas está na Amazônia. O ministro de Defesa, Fernando Azevedo e Silva, afirmou, no entanto, que a situação está "sob controle" e que, por agora, só "preocupa um pouco" o fogo detectado nos Estados de Acre, Rondônia e Pará (ao Norte do país). Sobre a ajuda do G7, o ministro disse que o assunto está sendo tratado no Ministério das Relações Exteriores.

Por meio de nota, o Itamaraty informou que apesar do "suposto lançamento de novas iniciativas relacionadas à Amazônia" para reflorestar a região, já existem instrumentos previstos para esse tipo de medida. De acordo com a nota, as ações estão previstas na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) e já incluem, por exemplo, o pagamento por países desenvolvidos como a França de 30 bilhões de dólares pela redução, no Brasil, de emissões de gases de efeito estufa.

"Espera-se da França — e de outros países que porventura apoiem suas ideias — que se engajem com seriedade nessas discussões no âmbito da UNFCCC, ao invés de lançar iniciativas redundantes, com montantes que ficam muito aquém dos seus compromissos internacionais, e com insinuações ambíguas quanto ao princípio da soberania nacional", afirma o ministério das Relações Exteriores.

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