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EUA investigam empresas de cigarros eletrônicos após descoberta de danos pulmonares

Mais de 150 pessoas sofreram lesões associadas ao uso dos 'vapers'. Autoridade de saúde pede mais estudos

Antonia Laborde
Uma publicidade da companhia de cigarros eletrónicos Juul.
Uma publicidade da companhia de cigarros eletrónicos Juul.REUTERS

Vários hospitais em 16 Estados dos EUA receberam nos últimos dois meses pacientes —jovens, na maioria dos casos— com graves problemas respiratórios. Os 153 casos usavam cigarros eletrônicos para vaporizar nicotina ou tetraidrocanabinol, o composto da maconha responsável pelos efeitos psicotrópicos. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) afirma que precisa de mais estudos para determinar se o uso dos cigarros eletrônicos é a causa desses efeitos. Um comitê do Congresso dos EUA abriu nesta semana uma investigação contra as quatro principais empresas de cigarros eletrônicos sobre os impactos na saúde pública de seus produtos e suas práticas de comercialização, especialmente nos adolescentes.

Nesta quarta-feira, o presidente do Comitê de Energia e Comércio, Frank Pallone Jr., enviou uma carta à Juul, a empresa norte-americana que revolucionou o mercado dos cigarros eletrônicos perguntando se havia realizado ou financiado estudos sobre as implicações para a saúde do uso de seus produtos e a efetividade da empresa em ajudar os consumidores a parar de fumar. Também perguntou se havia enviado as informações coletadas até agora para a Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA, na sigla em inglês). “Preocupa-me que os produtos [de fornecimento eletrônico de nicotina], como o Juul, continuem sendo divulgados, comercializados e usados, enquanto os consumidores não dispõem de informações adequadas para avaliar as implicações que eles têm em sua saúde”, escreveu Pallone ao CEO da Juul, Kevin Burns.

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As outras empresas questionadas pelos legisladores são a Fontem Ventures, a divisão norte-americana da Japan Tobacco e a Reynolds American Inc. Pallone solicitou respostas e documentos antes de 20 de setembro. A decisão do Congresso foi anunciada no mesmo dia da divulgação do relatório do CDC sobre os 153 possíveis casos de doença pulmonar grave associada ao uso de cigarros eletrônicos. Os médicos disseram que as doenças dos pacientes são semelhantes a uma lesão por inalação, com os pulmões aparentemente reagindo a uma substância química. Até agora nenhum produto ou composto de vaporização foi relacionado a todos os casos e as autoridades descartaram que se trate de uma infecção.

Nos Estados Unidos se fala de uma epidemia de e-cigarrette entre os adolescentes. De acordo com a pesquisa anual do CDC, no ano passado o número de estudantes do equivalente ao ensino fundamental II que consumiram algum produto relacionado ao tabaco aumentou 38%. Quase um em cada três estudantes. O centro dedicado à prevenção de doenças responsabilizou a Juul, porque o aumento do uso de cigarros eletrônicos coincide com o aumento das vendas da empresa. Em 2018, quase 21% dos estudantes do 6º ao 9º ano usaram vaporizador, em comparação com cerca de 12% em 2017.

“O crescimento vertiginoso do uso de cigarros eletrônicos no ano passado ameaça neutralizar o progresso feito na redução do tabagismo entre os jovens”, disse o diretor do CDC, Robert Redfield, em um comunicado. “Isso está colocando em risco uma nova geração de dependência da nicotina”, acrescentou quando a pesquisa anual foi divulgada em fevereiro. Burns respondeu “sinto muito”.

Em julho, a Juul compareceu pela primeira vez diante do Congresso dos EUA depois que a Câmara dos representantes descobriu que a empresa “implementou um programa sofisticado para chegar às escolas e levar suas mensagens diretamente aos adolescentes”. A empresa negou as acusações, mas os legisladores concluíram que as atividades apresentadas como programas de prevenção na realidade tinham a intenção de familiarizar os adolescentes com seus produtos.

Não só as empresas estão sendo questionadas, como também a FDA, que começou a monitorar os cigarros eletrônicos em 2016. Em teoria, deveria regular as empresas que vendiam o novo produto no prazo de um ano, mas a agência postergou até agosto de 2022 o prazo de solicitação para revisão de segurança e saúde pública. Grupos de antitabagismo e de saúde pública processaram a FDA e no mês passado um juiz federal determinou que a agência tem 10 meses para fazer que as empresas enviem as solicitações aos reguladores se quiserem manter seus vaporizadores no mercado.

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