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Homem armado faz reféns em ônibus na ponte Rio-Niterói e é morto por snipers

Após manter 37 reféns dentro de um ônibus sob a ameaça de que atearia fogo no veículo, sequestrador foi baleado por franco atiradores da PM. Segundo governador, ele tinha transtornos mentais

O ônibus da viação Galo Branco na ponte Rio-Niterói, cujos passageiros foram mantidos reféns na manhã desta terça-feira.
O ônibus da viação Galo Branco na ponte Rio-Niterói, cujos passageiros foram mantidos reféns na manhã desta terça-feira.Reprodução/TV Globo
Gil Alessi

Um homem armado que manteve reféns dentro de um ônibus da viação Galo Branco, na ponte Rio-Niterói, na manhã desta terça-feira foi morto por snipers (franco atiradores) do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro após mais de três horas e meia de negociações com as autoridades pela libertação dos passageiros. O sequestrador, que já havia soltado seis reféns, foi baleado pro volta das 9h e não resistiu ao ferimento, segundo confirmou o governador Wilson Witzel a jornalistas na ponte. O sequestro do ônibus fretado, que transportava trabalhadores que iam de São Gonçalo ao centro do Rio, começou por volta das 5h40. Inicialmente acreditava-se que o criminoso estava armado com uma faca, um taser (arma de choque) e uma pistola, mas posteriormente a polícia confirmou que a arma era de brinquedo. O homem também levava uma garrafa com líquido que dizia ser gasolina. Os 37 passageiros foram liberados sem ferimentos.

O sequestrador tem 20 anos e foi identificado como Willian Augusto Nascimento, segundo informou a polícia ao jornal O Globo. O governador do Rio, que comemorou dando pulos e socos no ar o desfecho ao pousar de helicóptero na ponte Rio-Niterói, disse em entrevista no local que o sequestrador aparentemente tinha "transtornos" mentais. Witzel também elogiou a ação do Bope, mas lamentou a morte do sequestrador. "O ideal era que todos saíssem com vida, mas a gente teve que tomar a decisão de salvar os reféns", afirmou. Segundo o governador, ele entrou em contato com a família de Nascimento e o Governo do Estado dará assistência aos familiares do sequestrador, que pediram "desculpas à sociedade" pelo incidente. "Um dos familiares dele pediu desculpas a toda a sociedade, (...) disse que alguma coisa falhou na criação. A mãe dele está muito abalada. Mas nós vamos cuidar também da família dele, pra que isso não ocorra de novo", declarou o governador, que completou: "É uma pessoa que tem algum problema mental."

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Witzel aproveitou o desfecho do sequestro para novamente defender a ação dos snipers no Rio de Janeiro, inclusive em operações na favelas, algo que tem gerado críticas por parte de entidades da sociedade civil por expor inocentes a riscos durante as operações. "Se não tivesse abatido esse criminoso muitas vidas não teriam sido poupadas. E isso está acontecendo nas comunidades. Se a polícia não abatesse quem está com fuzil nas comunidades, muitas vidas não seriam poupadas", afirmou o governador.  Na semana passada, ao menos seis jovens entre 17 e 21 anos desarmados morreram baleados em comunidades onde havia registros de operações policiais. O governador do Rio, que chegou a declarar meses atrás que criminosos armados com fuzis deveriam morrer com um tiro "na cabecinha", afirmou ainda que "criminosos estão matando pessoas e jogando nas costas da PM", ao elogiar sua política de segurança pública.

Antes de o sequestrador ser morto por atiradores de elite, o presidente Jair Bolsonaro defendeu o uso de snipers em casos como este. "Não tem que ter pena", declarou o presidente, na manhã desta terça-feira, a jornalistas em Brasília. "Lembra do ônibus 174?", questionou Bolsonaro, citando o trágico desfecho do sequestro do ônibus 174 no Rio de Janeiro, em 2000 —na ocasião, uma refém foi atingida por um tiro disparado pela polícia militar e posteriormente foi morta pelo sequestrador. O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do mandatário, publicou um vídeo do sequestrador sendo baleado, com a legenda “CPF CANCELADO. O resgate da autoridade no Brasil está acontecendo”. Depois do desfecho, o presidente comemorou o fato de o sequestrador ter sido "neutralizado".

Ainda não está claro a motivação que levou o homem a manter os passageiros reféns. De acordo com um dos reféns, o criminoso falava de maneira calma e não chegou a ameaçar em nenhum momento os passageiros diretamente. Em nenhum momento ele falou o que queria", disse Hans Moreno, um dos passageiros feito refém à GloboNews. Ainda segundo a vítima, o sequestrador ia e voltava para a porta do ônibus algumas vezes, e afirmara que episódio fazia com que eles "entrassem para a história". "Ele estava muito calmo, muito tranquilo. Ele falava que estava com uma garrafa de gasolina e tal, mas não disse que ia tacar fogo no ônibus em nenhum momento", contou o passageiro. Ainda segundo o refém, o criminoso perguntou se havia algum fumante no veículo e pediu um isqueiro emprestado. Em determinado momento, afirmou que queria 30.000 reais. Havia um temor de que ele ateasse fogo no ônibus, e extintores foram posicionados no local para caso de emergência. Uma mulher mantida refém desmaiou ao ser liberada pelo sequestrador e precisou ser atendida pelas equipes de resgate que estavam na ponte Rio-Niterói.

Negociações

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a Polícia Militar negociaram com o sequestrador desde as 6h usando um telefone celular. O ônibus fazia a linha 2520, que vai de São Gonçalo à região central do Rio de Janeiro. Atiradores de precisão - os snipers - foram posicionados sobre caminhões de bombeiros. Por volta das 7h40 um homem com o rosto coberto que seria o sequestrador chegou a descer do veículo, e retornou rapidamente. Em seguida, ele arremessou para fora um objeto em chamas. Um dos reféns libertados colocou para dentro do ônibus uma caixa com água deixada do lado de fora pela polícia. 

De acordo com o jornal Extra, o sequestrador acompanhava as notícias via monitor de TV localizado dentro do ônibus. Alguns reféns teriam conseguido usar o telefone celular durante a ocorrência: nas redes sociais circulam imagens que seriam do interior do veículo. O sequestrador pediu à polícia que a imprensa fosse afastada do local para que seu rosto não fosse identificado, de acordo com a TV Globo.

Durante a ocorrência, todas as pistas da ponte foram bloqueadas pelas autoridades, e o número de barcas que faz a travessia foi reforçado para dar conta da demanda do tráfego no local. As barreiras que separam as pistas nos acessos à ponte foram retirados por funcionários da Ecoponte para que os motoristas presos pudessem fazer o retorno. 

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