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Macri congela combustível tentando reverter fracasso eleitoral

Presidente pede perdão por criticar eleitores do kirchnerismo em segunda-feira trágica dos mercados

Enric González
Mauricio Macri em entrevista coletiva na última segunda-feira, após da derrota eleitoral nas primárias
Mauricio Macri em entrevista coletiva na última segunda-feira, após da derrota eleitoral nas primáriasNatacha Pisarenko (AP)
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Mauricio Macri, enfim, reagiu. E fez o que sempre criticou no peronismo: improvisou um pacote de medidas populistas consistindo basicamente em distribuir dinheiro aos argentinos, adiando as dívidas fiscais e congelando o preço da gasolina.

Em mensagem televisionada no início da manhã desta quarta-feira, o presidente argentino fez uma autocrítica e reconheceu que sua reação depois da derrota eleitoral de domingo foi inadequada. No discurso, ele também anunciou medidas de alivio para os argentinos “esgotados”, como admitiu, por sua política econômica.

O presidente prometeu congelar os preços dos combustíveis durante 90 dias, entregar 2.000 pesos mensais (135 reais) a cada trabalhador por via fiscal ou salarial, pagar um bônus de 5.000 pesos (337 reais) no final deste mês aos funcionários públicos, militares e policiais, e aumentar o salário mínimo para um valor a ser definido ao longo do dia.

Também se declarou disposto “24 horas por dia” a dialogar com os outros candidatos, o que foi interpretado como um convite dirigido a Alberto Fernández, que obteve uma vitória esmagadora nas primárias e tem grandes possibilidades de se tornar o novo presidente.

“Nestas últimas 48 horas, ficou claro que a incerteza política gerou muitos danos. Conversei com alguns candidatos e insistirei com aqueles que não consegui falar. Quero encontrar-me com eles para transmitir tranquilidade no processo eleitoral. Precisamos conversar, manter as linhas abertas e não entender isso como brigas entre inimigos, mas como uma discussão entre rivais ”, disse em frente às câmeras. Pouco tempo depois, ele enviou uma mensagem via WhatsApp para Fernández, com quem ele não mantinha contato depois das eleições.

Fernández rejeitou o convite de aproximação de Macri. Disse que não quer ser “letal e duro” com o governo, mas considerou que um encontro com Macri “não tem sentido”. “Não vamos entrar em acordo. Não quero participar de suas decisões. Porque aí, que opção restaria para a Argentina? Eu não penso como o presidente, que tomou tardiamente essas decisões, sem medir as consequências fiscais e nos mercados”, disse.

Macri e Fernández conversaram pelo telefone e ambos concordaram em dar o melhor de si para tranquilizar os mercados e manter a linha de comunicação aberta, mesmo sem reuniões pessoais ou fotografias apertando as mãos. O peso e o estoque argentino continuaram caindo.

Ainda na TV, Macri anunciou ações de alívio para compensar a onda de inflação que está se formando depois da catástrofe financeira de segunda-feira, com uma desvalorização de 25% no valor do peso. Medidas essas que também são eleitoreiras: foram planejadas para durar até outubro, ou seja, até a eleição do novo presidente.

Ficou claro que ele quer esgotar suas pequenas possibilidades de reverter sua impopularidade e vencer a reeleição. Resta ver como os investidores e os organismos internacionais que tutelam a economia argentina, como o Fundo Monetário Internacional, reagirão ao aumento dos gastos públicos acarretado por todas essas ajudas.

O Macri que leu sua mensagem diante de uma câmara na residência presidencial de Olivos não se parecia com o homem chocado que no domingo e na segunda-feira culpou os argentinos e o peronismo por seu próprio desastre eleitoral. Mostrou-se mais lúcido e mais calmo. Pediu desculpas, assumiu sua responsabilidade e compreendeu que os argentinos “não aguentam mais”. “Eu os ouvi”, afirmou, em referência ao seu desastre nas urnas. “Os argentinos estão esgotados, isto foi como subir o Aconcágua, eu também achava que seria mais fácil”, acrescentou. Ele procurou destacar que, apesar de seus erros, esforçou-se para melhorar a infraestruturas e “estabelecer as bases” para um futuro crescimento.

O presidente concluiu sua mensagem em um tom de emotividade. “Amo a Argentina”, proclamou. “Vamos, argentinos, vamos sair desta, assim como já saímos muitas outras vezes”. Macri quis indicar à população que ainda está à frente do país, apesar da desautorização infligida pelos votos, e que continua na disputa eleitoral.

Depois da mensagem presidencial, falaram os ministros do Interior, Rogelio Frigerio, e do Desenvolvimento Social, Carolina Stanley. Em entrevista coletiva, também em Olivos, eles negaram que as medidas tenham alguma intenção eleitoral. “Não podemos estar em campanha, temos de governar. Estas são medidas que têm a ver com ouvir as pessoas, que se expressaram claramente no momento do voto. Fazem parte da ação de governo”, disse Frigerio. Para Stanley, o objetivo do Governo foi “aliviar a situação de angústia de algumas famílias que não têm o suficiente para chegar ao fim do mês”, setor em que se concentra a maior parte dos votos contra Macri.

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