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Autor do tiroteio de El Paso dirigiu por 10 horas em busca de alvos mexicanos

Patrick Crusius não ofereceu resistência ao ser detido, segundo a polícia, e declarou: “Eu sou o agressor”

Antonia Laborde
Patrick Crusius, acusado da matança em El Paso.
Patrick Crusius, acusado da matança em El Paso.REUTERS

Patrick Wood Crusius, o homem branco de 21 anos que matou 22 pessoas e feriu mais de 20 outras no sábado passado em El Paso (Texas), confessou que o alvo de seu brutal ataque perpetrado com um fuzil de assalto AK-47 eram os mexicanos. Crusius não ofereceu resistência à polícia quando foi detido depois do massacre no hipermercado Walmart e abriu mão de seu direito ao silêncio, segundo notícias publicadas nesta sexta-feira com base em documentos judiciais obtidos pela imprensa local. Desde então, vem colaborando com os investigadores. Adrián García, detetive da polícia local, afirmou no domingo em depoimento ao juiz que o jovem se entregou imediatamente ao ser abordado. “Sou o agressor”, disse aos agentes, segundo o relato de García.

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Em sua confissão, Crusius, acusado de múltiplos homicídios de primeiro grau (doloso e premeditado), confirmou que tinha ido de carro da sua casa num subúrbio de Allen, a poucos quilômetros de Dallas (Texas), até El Paso, um percurso que leva aproximadamente 10 horas. Antes do banho de sangue, a polícia acredita que Crusius publicou na Internet um manifesto que falava de uma “invasão hispânica do Texas” e propunha: “Se pudermos nos desfazer de suficientes pessoas, nossa forma de vida pode ser mais sustentável”. O texto promove a teoria supremacista branca conhecida como “a grande substituição”, em alusão a um suposto plano das elites europeias de substituir a população branca do continente por imigrantes do norte da África e Oriente Médio.

As autoridades estão investigando o mais mortífero ataque à comunidade latina na história moderna dos Estados Unidos como um ataque terrorista doméstico e estão avaliando tratar o caso como um possível crime de ódio. Muitas das vítimas tinham sobrenome latino, e oito eram mexicanas. A fronteira que une El Paso (83% de população hispânica) à mexicana Ciudad Juárez é considerada uma única região metropolitana, binacional e bilíngue, de quase três milhões de habitantes.

O massacre — que ocorreu horas antes de outra chacina indiscriminada em Dayton (Ohio), com nove mortos — abriu um debate sobre a retórica divisionista do presidente Donald Trump. Seus adversários o recriminam por afirmar constantemente que os imigrantes que cruzam a fronteira mexicana são criminosos e por falar em uma “invasão”. Alguns pré-candidatos democratas inclusive chegaram a afirmar que o republicano é um supremacista branco. Mas Trump não se dá por aludido. “Acredito que minha retórica una as pessoas”, disse na manhã de quinta-feira, antes de visitar El Paso, onde não se deixou ver pelas ruas.

Em sua mensagem à nação depois das duas matanças que causaram 31 mortos em menos de 14 horas, o presidente condenou nesta segunda-feira o “racismo” e o “supremacismo branco” e disse que “o ódio não tem lugar nos EUA”. Além disso, fez um apelo à unidade. Mas suas mensagens pelo Twitter antes e depois não foram diferentes do seu estilo habitual: atacar o oponente.

Um dos alvos de Trump foi o pré-candidato democrata Beto O’Rourke, oriundo de El Paso, que se transformou no porta-voz da dor dos cidadãos. “Beto, nome falso para indicar origem hispânica [sic], O’Rourke, que está envergonhado por minha última visita ao grande Estado do Texas, onde o esmaguei, e está agora ainda mais envergonhado com as pesquisas que lhe dão 1% dos votos nas primárias democratas, deveria respeitar as vítimas e as forças de segurança e se calar!”, tuitou o mandatário na terça-feira. O’Rourke respondeu que “22 pessoas morreram na minha cidade por um ato de terror inspirado por seu racismo. El Paso não se calará, e eu tampouco”.

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