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Após sanções dos EUA, Maduro suspende diálogo com a oposição

Regime venezuelano afirma que as negociações não foram definitivamente rompidas, mas considera o embargo de Trump como uma tentativa de boicote

Nicolás Maduro, durante um ato protocolar
Nicolás Maduro, durante um ato protocolarLeonardo Fernandez (AP)

Nicolás Maduro anunciou nesta quarta-feira a retirada da sua delegação do processo de diálogo com a oposição promovido pela Noruega, como resposta às sanções anunciadas na segunda-feira pela administração de Donald Trump, que congelam os ativos do Governo da Venezuela nos Estados Unidos. “O povo da Venezuela se indignou e reagiu com a fúria bolivariana que os Estados Unidos e seu governo imperialista verão a partir de hoje e nos dias que estão por vir. Justiça! Justiça pede o povo frente à vulgar agressão imperialista”, disse o mandatário em um programa de televisão conduzido por Diosdado Cabello, o número dois do chavismo e presidente da Assembleia Constituinte.

As próximas conversas estavam marcadas para quinta e sexta-feira em Barbados, uma pequena nação do Caribe, mas Maduro decidiu de última hora não enviar seus delegados. “A Venezuela se dispõe a rever os mecanismos desse processo a fim de que sua continuação seja realmente efetiva e harmônica com os interesses de nosso povo”, afirma um comunicado do Governo.

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A suspensão do diálogo deriva a uma radicalização do conflito político. Uma facção do governismo, liderada por Cabello, foi contra um acordo com os opositores. “A Venezuela se transformará para eles em milhares de Vietnãs. E repito o que já dissemos: o problema não será como entrar, e sim como vão sair”, reiterou em seu programa Con el Mazo Dando (“batendo com a marreta”).

A suspensão do diálogo foi acompanhada de ameaças. Maduro ordenou ao chefe da Constituinte que inicie uma “contraofensiva” por parte dessa instituição chavista e aplique a justiça aos “traidores da pátria”. Seu ultimato foi corroborado por outros dirigentes do Governo. Vladimir Padrino López, ministro da Defesa, clamou por justiça. “Basta de impunidade! Quem começou com essa brincadeira de pedir sanções para a nação e bloqueá-la financeira e economicamente para trazer fome e desolação ao povo venezuelano com bastardos fins políticos deve ser castigados pela lei. A FANB (Força Armada Nacional Bolivariana) exige justiça”, escreveu no Twitter. Os deputados opositores aparecem como alvo desta nova escalada da crise.

Juan Guaidó, o chefe do Parlamento reconhecido como presidente interino da Venezuela por mais de 50 países, estava disposto a manter o diálogo com o chavismo, apesar de apoiar as medidas da Casa Branca. “Estamos agindo em todos os terrenos de luta para obter a pressão necessária para a solução da crise”, disse na terça-feira. Ele foi um dos primeiros a reagirem à ordem executiva (medida provisória) assinada na segunda-feira por Trump, ao dizer que se trata de uma “consequência da soberba de uma usurpação inviável e insensível [por parte de Maduro], que não conta com apoio popular, mas sim com uma estrutura cuja fidelidade se mantém graças ao dinheiro saqueado da República”.

Seus representantes já estavam em Barbados para se reunir com os de Maduro. “Estão há dias dizendo que acreditam na paz e no mecanismo de Oslo, e aos primeiros sinais de mudança ficam com medo da possibilidade de uma verdadeira mudança política no país. Continuaremos trabalhando em todos os tabuleiros para procurar o fim da crise e para obter o resgate de nossa democracia através de eleições verdadeiramente livres, e assim pôr fim à corrupção, pobreza e violações dos direitos humanos”, comentou um dos delegados de Guaidó.

Mas as fissuras políticas se acentuaram com a jogada de Trump. Na terça-feira, John Bolton, assessor de segurança nacional da Casa Branca, alertou que o tempo para o diálogo terminou. “Agora é a hora da ação (…). Não há necessidade de arriscar seus interesses comerciais com os EUA a fim de se beneficiar de um regime corrupto e moribundo”, disse em uma cúpula em Lima para debater a crise venezuelana.

Para o sucessor de Hugo Chávez, a estratégia de Washington representa uma manobra de tudo ou nada. Seus representantes há anos exigem a suspensão das sanções internacionais contra funcionários, aliados e empresas estatais. Delcy Rodríguez, vice-presidenta da Venezuela, acusou Washington de tentar boicotar as negociações entre o chavismo e a oposição. “[Os Estados Unidos) estão chutando a mesa de diálogo”, recriminou, um dia antes da suspensão.

Donald Trump impôs na segunda-feira o golpe mais duro ao regime da Venezuela desde que chegou à Casa Branca. O mandatário ordenou o bloqueio de todos os ativos do Governo de Nicolás Maduro nos EUA, a proibição dos negócios entre empresas norte-americanas e Caracas e o veto à entrada da cúpula chavista no território do país. Bolton advertiu que inclusive empresas estrangeiras vinculadas ao chavismo se arriscam a sofrer sanções. É a primeira vez em 30 anos que Washington aplica punições desse tipo a um país ocidental.

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