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Macri renova sua aliança com o campo argentino às portas das eleições primárias

Presidente devolve à Agricultura o status de ministério na véspera da exposição mais tradicional do setor

Federico Rivas Molina
O presidente argentino, Mauricio Macri, na abertura da feira de exposição da Sociedade Rural.
O presidente argentino, Mauricio Macri, na abertura da feira de exposição da Sociedade Rural.Europa Press
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Sim, é possível!, gritaram na plateia da Sociedade Rural. E Mauricio Macri corroborou, como em anos anteriores, que estava em território amigo. Os grandes produtores argentinos confirmaram nesse fim de semana, na abertura da exposição que os reúne há 133 anos em Buenos Aires, que as penúrias econômicas e as promessas não cumpridas não quebraram o amor que os une ao presidente. Macri abriu a mostra com um discurso de campanha. Pediu o voto do campo nas eleições primárias de 11 de agosto e nas gerais de outubro, disse que dessa vez reduzirá as retenções às exportações do setor e definiu os tempos do kirchnerismo como “sombrios”. Não foi de mãos vazias. Na véspera, devolveu à Secretaria de Agricultura, Pecuária e Pesca a categoria de ministério retirada em 2018, quando a crise e as exigências do FMI o obrigaram a diminuir a estrutura do Estado.

O campo foi um dos grandes privilegiados pela política econômica de Macri. Assim que assumiu em dezembro de 2015, o Governo eliminou o imposto herdado do kirchnerismo às exportações agropecuárias com exceção da soja, o principal produto, para o qual anunciou uma redução progressiva das retenções. A aliança foi tamanha que Macri nomeou como ministro da Agroindústria o presidente da Sociedade Rural, Miguel Ángel Etchevehere. Em agosto do ano passado, esse acordo estratégico com os grandes produtores balançou.

A combinação de recessão econômica com inflação e as obrigações da dívida externa gerada desde 2016 o obrigaram a ajustar as contas e a romper o acordo com o campo. Macri suspendeu a diminuição de impostos e eliminou o Ministério da Agroindústria. Apesar do golpe, a Sociedade Rural manteve seu apoio ao Governo. Etchevehere continuou em seu cargo, já rebaixado para secretário de Estado, e em 2019 o setor se recuperou da feroz seca do ano anterior com uma colheita recorde de 147 milhões de toneladas. Macri agradeceu no sábado o esforço e prometeu, mais uma vez, que se for reeleito eliminará as retenções às exportações em 2020. “Precisam acabar, são um imposto que atrasa”, afirmou nas arquibancadas da Sociedade Rural, um enorme prédio no bairro de Palermo que ainda exibe na pista central o mesmo lema de 1866: “Cultivar o solo é servir à Pátria”.

Macri depois atacou o kirchnerismo, seu único obstáculo político à reeleição nas eleições de outubro. “Antes havia um Governo que oprimia o campo. Quase ninguém imaginou que existiria um Governo que iria convocá-los para trabalhar juntos”, disse aos ruralistas. “Queremos viver sem prepotências, sem máfias, em um país onde recuperamos o dinheiro roubado com a corrupção”, disse, na mesma linha eleitoral.

O discurso do presidente combinou promessas de campanha, elogios aos produtores e as já clássicas frases motivacionais que tanto lucro lhe deram, com pedidos a defender a cultura do trabalho do “homem do campo que se levanta de madrugada sem protestar”. O apoio da Sociedade Rural à reeleição de Macri não tem rachaduras, mas não quer dizer que não possui exigências. “Temos sua palavra: as retenções acabam em 2020”, disse a Macri o presidente da entidade, Daniel Pelegrina. O dirigente também pediu créditos, emprego e educação, que chamou de “os únicos antídotos aos populismos”, ou seja, o kirchnerismo.

O campo e seu poder exportador são a base da economia argentina. É, além disso, o único setor que cresce em meio à crise: 49,5% interanual em maio, contra quedas de 6,5% na indústria, 3,1% na construção e 11,4% no comércio varejista. Os produtores pedem mais ao Governo, mas temem que com qualquer mudança de rumo a situação piore. Por isso, seu voto será para Macri.

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