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Retiradas as acusações contra a grávida que perdeu seu feto por um tiro na barriga

Promotoria informa que não tomará nenhuma ação legal contra uma mulher que um júri do Alabama acusou de homicídio involuntário

Antonia Laborde
Imagem policial de Marshae Jones.
Imagem policial de Marshae Jones.AP

Marshae Jones, de 27 anos, foi vítima, culpada e vítima de novo da mesma história: em dezembro do ano passado, estando grávida de cinco meses, se viu envolvida em uma discussão na qual recebeu um tiro na barriga, que causou a morte do bebê que estava gestando. No começo a Justiça do Alabama agiu contra a mulher que apertou o gatilho, mas quando a polícia informou de que havia sido Jones a iniciar a briga, um júri a acusou de homicídio involuntário, alegando que foi ela que provocou “intencionalmente” a perda do filho não nascido. Uma promotora informou por fim na quarta-feira que o caso será indeferido e não ocorrerá nenhuma ação legal contra Jones.

“O assunto que está diante de nós é se é apropriado tentar responsabilizar alguém legalmente pelas ações que causaram a morte da criança por nascer”, declarou à imprensa a promotora Lynneice Washington. “Nessa triste história não há ganhadores, somente perdedores”, acrescentou. A última frase parece ser dirigida ao tenente da polícia Danny Reid, responsável pelas investigações, que disse que “a única vítima verdadeira foi o bebê que estava por nascer”, enfatizando que “quando uma mulher grávida de cinco meses inicia uma briga e agride outra pessoa, acho que tem alguma responsabilidade em qualquer lesão do filho por nascer”.

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A promotora Washington disse que o júri agiu em função da informação proporcionada pela polícia de Pleasant Grove, a cidade localizada no centro do conservador Estado do Alabama onde os fatos ocorreram. Na acusação, conhecida no sábado, no dia seguinte à prisão de Jones, se diz que a mãe “causou intencionalmente a morte do bebê não nascido por ter iniciado uma briga sabendo que estava grávida de cinco meses”. “Esse é um caso verdadeiramente perturbador e triste. Um bebê por nascer morreu tragicamente e as famílias dos dois lados desse fato sofreram. Nada do que fizermos hoje e no futuro mudará essa realidade”, afirmou Washington.

O caso causou espanto. “Por ser uma mulher negra, apesar de ter sofrido danos físicos e perder sua gravidez, o Estado não reconhece Marshae como vítima, somente seu feto”, criticou através de um comunicado a Planned Parenthood, uma organização que fornece serviços de saúde reprodutiva.

A promotora esclareceu que a decisão do júri não teve relação com a lei recentemente aprovada no Alabama que proíbe o aborto em qualquer etapa da gestação – até mesmo em casos de incesto e estupro –, exceto se a vida da mãe estiver em perigo, e pune com até 99 anos de prisão os médicos que o praticarem.

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