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Bombardeio a centro de detenção de imigrantes mata pelo menos 40 na Líbia

Governo de Unidade Nacional, reconhecido pela ONU, atribui a matança às forças do marechal Khalifa Hafter

Escombros no centro de detenção de imigrantes atingido por um bombardeio aéreo em Tayura, Trípoli.
Escombros no centro de detenção de imigrantes atingido por um bombardeio aéreo em Tayura, Trípoli.ISMAIL ZITOUNY (Reuters)
Francisco Peregil

Dezenas de migrantes e refugiados detidos na localidade de Tayura, 15 quilômetros a leste do centro de Trípoli, morreram vítimas de um bombardeio aéreo, segundo confirmaram ao EL PAÍS, por telefone, vários refugiados do próprio centro de detenção atingido. A cifra de mortos chega a 40, segundo Malek Merset, porta-voz do Ministério de Saúde do Governo de Unidade Nacional da Líbia. Esse Executivo, reconhecido pela ONU, atribuiu a matança às forças do marechal Khalifa Hafter, que desde 4 de abril mantém a capital sob assédio.

O centro de detenção de Tayura fica dentro de um quartel militar e acolhe atualmente 620 migrantes presos. Cerca de 100 deles dormiam no hangar atingido pelos obuses de aviação. A maioria dos detidos foi levada ao quartel de Tayura após serem capturados em pleno mar, quando tentavam alcançar o litoral europeu em embarcações precárias. A lei Líbia considera crime a tentativa de entrar ou sair irregularmente do seu território.

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Muitos desses migrantes estão há meses, ou em alguns casos mais de dois anos, detidos em Tayura. Encontravam-se à espera de que o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) os encaminhe a países de acolhida no Ocidente.

Um dos migrantes que estavam presos no quartel informou a este correspondente por WhatsApp que “muita gente morreu e outros estão feridos. Todo o hangar desmoronou e nós estamos fora. Ninguém pode saber a cifra exata de mortos. Ainda tem muita gente sob os escombros. Mas acredito que uns 80 terão morrido. Por favor, salvem-nos". Outro refugiado calculou que haveria mais de 70 mortos.

Um terceiro relatou os fatos desta maneira a este jornal, por telefone: "O bombardeio ocorreu à 00:57. Depois da tragédia abriram a porta e nós fomos para uma mata no interior de Tayura. Agora [começo da manhã, hora local] fomos reagrupados e dormimos no chão, a céu aberto. Esperamos a ajuda das organizações [internacionais]".

A reportagem do EL PAÍS visitou o centro de Tayura na semana passada. Os internos se queixavam das péssimas condições de vida. Diziam comer só uma vez por dia (algo que as autoridades admitem) e que levavam surras (o que a direção negou). E, sobretudo, denunciavam estar privados de liberdade pelo mero fato de terem tentado emigrar para a Europa.

Muitos deles procediam do Sudão, Sudão, Etiópia, Eritreia e Somália. “Os civis nunca devem ser um alvo [militar]”, tuitou a Acnur. Há na Líbia 25 centros oficiais de detenção onde estão detidos 5.695 refugiados e migrantes. Deles, 2.433 se encontram em Trípoli, segundo o alto-comissariado da ONU.

O bombardeio ocorreu depois que, na semana passada, as forças de Hafter sofreram uma derrota militar importante, perdendo o controle da cidade de Garian, 100 quilômetros ao sul de Trípoli.

Mohamed Al-Manfur, um comandante militar pertencente às tropas da Khalifa Hafter, anunciou que a aviação do denominado Exército de Libertação Nacional intensificaria os bombardeios a Trípoli e orientou a população a se manter afastada dos quartéis.

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