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Detida capitã de barco de migrantes que desafiou Salvini

Carola Rackete, a alemã que comanda a embarcação 'Sea-Watch 3', dedicada a salvar migrantes no Mediterrâneo, foi presa após atracar na ilha de Lampedusa

A capitã Carola Rackete, depois de ser parada.
A capitã Carola Rackete, depois de ser parada.reuters
Daniel Verdú
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A história acabou de uma péssima maneira para a capitã Carola Rackete, de 31 anos. Por volta de 1h30 deste sábado (20h30 de sexta-feira em Brasília), a embarcação humanitária Sea-Watch 3, que havia passado 48 horas fundeada em frente ao porto de Lampedusa com 40 migrantes a bordo, levantou âncoras e se dirigiu ao cais. Rackete ignorou novamente a proibição da Guarda di Finanza (polícia alfandegária), que inclusive tentou interpor suas embarcações para impedi-la de atracar na ilha. A capitã, símbolo da luta contra a política migratória de Matteo Salvini, foi recebida com aplausos por dezenas de pessoas que a esperavam, mas foi detida e levada a uma delegacia para responder por supostos delitos de "resistência ou violência contra um navio de guerra", que acarreta pena de três a dez anos.

O navio humanitário, que entrou em águas italianas dois dias antes, aguardava autorização para desembarcar migrantes resgatados à deriva em 12 de junho. Mas a situação a bordo se agravava dia após dia. Na noite anterior, dois passageiros doentes tiveram que ser retirados às pressas, e os demais passageiros ameaçavam se atirar à água se não houvesse uma solução, após mais de duas semanas a bordo. "A comandante Carola não tinha outra opção", disse Giorgia Linardi, porta-voz da Sea Watch Italia, ao jornal La Repubblica, acrescentando que "durante 36 horas tinha declarado estado de necessidade, que as autoridades italianas haviam ignorado". "Foi uma decisão desesperada", disseram Leonardo Marino e Alessandro Gamberini, os advogados da Sea Watch, uma ONG com sede na Alemanha.

Rackete já tinha sido denunciada pelo Ministério Público de Agrigento, na sexta-feira, por favorecimento ao tráfico ilegal de pessoas. Em uma entrevista coletiva via Skype de dentro do barco, na sexta-feira, ela se mostrou "segura de que a Justiça italiana reconhecerá que a lei do mar e os direitos das pessoas estão acima da segurança e do direito da Itália às suas águas territoriais". Agora se somam também as acusações de resistência a embarcações de guerra e tentativa de abordagem, pela manobra realizada contra as lanchas da Guarda di Finanza, que ficaram presas entre o píer e a embarcação humanitária. Um crime que acarreta penas de 5 a 12 anos de prisão. "Enfrentarei tudo com o apoio de nossos advogados. Agora só quero que as pessoas possam descer a terra firme", informou a capitã.

O Sea-Watch 3, além disso, levava a bordo naquele momento uma delegação de parlamentares italianos de esquerda, que aplaudiram a decisão de Rackete ao desembarcarem. “Finalmente terminou esta odisseia, espero que em breve se possa encerrar também a da comandante. Como viram, fazer desembarcar estas 40 pessoas era muito simples. Como é possível que tenhamos tido que chegar a isto?”, perguntava-se Nicola Fratoianni, de Esquerda Italiana. O ultradireitista Matteo Salvini, ministro do Interior e homem-forte do Governo italiano, disse que Rackete teve um "comportamento criminoso e que pôs em risco a vida dos agentes da Guarda di Finanza (...). Fez tudo isso com parlamentares a bordo, incluído o ex-ministro dos Transportes. É realmente incrível".

A Itália havia proibido que a embarcação atracasse até que outros países da União Europeia chegassem a um compromisso para acolher os migrantes a bordo. Nas últimas horas, parecia que, conforme havia anunciado o chanceler italiano, Enzo Moavero Milanesi, cinco países –França, Alemanha, Luxemburgo, Portugal e Finlândia – estavam dispostos a isso. A resposta, entretanto, demorou demais, e Rackete invocou o “estado de necessidade” para entrar no porto.

Salvini chama tripulantes de "criminosos"

O vice-presidente e ministro de Interior italiano, Matteo Salvini, criticou em sua conta de Twitter os críticos da detenção da capitã. "Parece um 'gesto de resistência' que um um navio não pare em um controle policial e que atue contra uma patrulha das forças da ordem? NÃO", publicou, chamando ainda a tripulação de criminosa e delinquente. 

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