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Um manifesto tardio, porém necessário, do São Paulo contra a homofobia

No Dia do Orgulho LGBT, clube paulista marca posição pela primeira vez sobre uma causa da qual sempre havia se esquivado

São Paulo se manifesta contra a homofobia no Dia do Orgulho LGBT.
São Paulo se manifesta contra a homofobia no Dia do Orgulho LGBT.Divulgação

Nesta sexta-feira, Dia Internacional do Orgulho LGBT, o São Paulo se posicionou, enfim, contra a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero. Por iniciativa do departamento de comunicação, o clube tricolor manifestou seu repúdio ao preconceito com uma mensagem publicada nas redes sociais. “Dentro e fora do esporte, o amor há de prevalecer diante do ódio. Que hoje, e todos os dias, repensemos atitudes. O amor não é o problema. E o São Paulo é de todos.”

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Embora sucinto, o manifesto estabelece um divisor de águas na história da equipe paulista, que pela primeira vez adota posicionamento contundente sobre um tema sensível entre seus torcedores. Pentacampeão do mundo com a seleção brasileira, o ex-volante Vampeta ganhou fama ao se referir ao São Paulo por meio de apelidos homofóbicos, como “time de bambi”. Torcidas adversárias também tentam estigmatizar o clube pelo viés da homofobia tão presente e normalizada no ambiente do futebol.

Homossexualidade, portanto, era um tabu ainda maior nos bastidores são-paulinos. Ao longo de cinco anos no São Paulo, Richarlyson, que nunca se declarou gay, viu a torcida ignorar seu nome enquanto cantava o restante da escalação titular no Morumbi e era alvo de ofensas das principais organizadas tricolores. Ao retornar das férias, teve de cortar o cabelo depois de aparecer com apliques numa pré-temporada, temendo agressões de torcedores. Em 2007, o dirigente do Palmeiras, José Cyrillo Júnior, insinuou que o jogador era gay em um programa de televisão. Richarlyson processou o cartola por calúnia, mas a ação foi arquivada. O juiz Manoel Maximiano Junqueira Filho, da 9ª Vara Criminal de São Paulo, sentenciou que “futebol é jogo viril, varonil, não homossexual”.

Além de não ter defendido Richarlyson dos ataques homofóbicos durante sua passagem pelo clube, o São Paulo sempre se esquivou de manifestações públicas sobre igualdade de gênero ou para condenar a homofobia. Parte de sua torcida reproduz o grito de “bicha”, comum em outros estádios, quando goleiros adversários batem tiro de meta. Nesta quinta-feira, a Conmebol anunciou a aplicação de multa à CBF por cânticos semelhantes da torcida brasileira no jogo de abertura da Copa América, contra a Bolívia, no Morumbi. A confederação já havia sido multada outras vezes devido ao comportamento homofóbico de torcedores, mas, nos campeonatos nacionais que organiza, evita adotar o mesmo rigor com clubes afiliados.

Apesar de jamais ter tido um atleta abertamente declarado gay em seu plantel masculino, o São Paulo agora conta com pelo menos uma jogadora homossexual no time feminino, que retomou as atividades no início do ano. Cristiane, atacante da seleção nas últimas Copas do Mundo, namora com a advogada Ana Paula Garcia desde quando chegou ao tricolor e nunca escondeu seus relacionamentos homoafetivos.

Também nesta sexta, o Internacional, de Porto Alegre, divulgou uma ação em prol da luta anti-homofobia. O estádio Beira-Rio foi iluminado com as cores da bandeira arco-íris, que desde os anos 80 simboliza o movimento LGBT. Em fevereiro, o Fluminense havia publicado um manifesto para rebater provocação homofóbica do vascaíno Fellipe Bastos após a final da Taça Guanabara. “Por respeito. Por justiça. Por humanidade. O Fluminense, assim como todo clube de futebol, é feito de homens e mulheres de várias cores, condições sociais, sexualidades e tem muito orgulho de cada um de seus torcedores.”

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