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Identificada a origem de um dos sinais mais intrigantes para a astronomia moderna

As primeiras rajadas rápidas de rádio foram descobertas há 12 anos, e ainda não se sabe que tipo de objeto cósmico as produz

Várias antenas do radiotelescópio que detectou o sinal, o australiano ASKAP.
Várias antenas do radiotelescópio que detectou o sinal, o australiano ASKAP.CSIRO/Alex Cherney

Desde 2007, chega do espaço um tipo de sinal que intriga os astrônomos. Da Terra, são percebidos como pulsos de rádio brevíssimos, de um milissegundo, e muito fracos. Mas essa percepção só se deve à sua origem remota. Nesse milissegundo de brilho eles emitem tanta energia como o Sol em 80 anos. Por enquanto, não se sabe que tipo de objeto produz os FRB (rajadas rápidas de rádio, na sigla em inglês), embora exista um bom número de hipóteses.

Já foram descobertos 85 destes sinais, mas só um deles, o FRB 121102, foi localizado com precisão suficiente para conhecer sua galáxia de origem. Essa rajada era também bastante peculiar dentro de uma família por si só estranha. Era uma das duas que, depois de serem descobertas, se repetiram. Nos demais, apesar de voltados para a mesma direção do céu, as rajadas acabaram sendo um fenômeno único.

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Os detetives que tentam desvendar esse mistério cósmico acrescentaram mais uma peça de informação nesta semana. Na quinta-feira, a revista Science publicou o trabalho de uma equipe internacional de cientistas que localizou pela primeira vez um FRB que não se repetiu. Um grupo liderado por Keith Bannister, pesquisador do CSIRO (o órgão nacional de pesquisa científica da Austrália), criou um sistema para localizar esses pulsos extremamente breves e conseguiu averiguar que o FRB180924, como foi batizada a nova descoberta, tinha surgido na periferia de uma galáxia do tamanho da Via Láctea, a 3,6 bilhões de anos-luz de distância da Terra.

A nova informação, obtida com o radiotelescópio australiano ASKAP e melhorada com vários grandes telescópios ópticos de todo o mundo, não esclareceu muito a natureza dos FRB, um assunto que já gerou dezenas de teorias em busca de uma explicação. A galáxia de onde havia chegado a primeira rajada de origem conhecida era pequena, e nela estavam nascendo uma grande quantidade de estrelas, uma atividade que, pensou-se, poderia estar por trás dos sinais. Entretanto, a galáxia deste FRB é mil vezes mais maciça e nela quase não se formam novos astros. “Isto quer dizer que os FRB podem proceder de um amplo leque de galáxias e entornos. Não parece que sejam necessárias condições especiais para que ocorram”, opina Bannister.

A nova observação pode significar que várias teorias sobre a origem das rajadas rápidas de rádio sejam corretas, “ou que nenhuma seja”, prossegue o líder da investigação. O novo FRB, explica, torna vários modelos menos prováveis, ao menos como explicação única do fenômeno. “Os buracos negros super maciços [monstros com massas que podem ser 10.000 vezes superiores à do Sol e que habitam o centro das galáxias] estão descartados, porque este FRB vem da periferia da galáxia. As estrelas muito jovens, como um magnetar formado após a eclosão de uma supernova, também estão provavelmente fora, assim como os modelos que prescindem de galáxias, como o das cordas cósmicas”, afirma. “Em todo caso, o fato de esta estrela ser tão diferente da anterior obriga a revermos como os FRB podem ser produzidos em ambientes tão diversos”, conclui.

A informação codificada nos sinais dos FRB poderia ajudar a revelar o mistério da matéria perdida do universo

Enquanto se averigua que tipo de objeto gera esses sinais intrigantes, os astrônomos já estão procurando alguma utilidade para ele. Uma das incógnitas que podem ser resolvidas com a ajuda desses pulsos chegados de galáxias longínquas é o problema da matéria perdida do universo. Os astrônomos calculam que aproximadamente 4% do universo é feito de matéria normal, como a que compõe as estrelas e os seres humanos. Entretanto, quando olhamos para o céu só encontramos a metade dessa matéria em forma de poeira, gás e estrelas. Onde está o que falta?

“Achamos que está oculta em forma de gás entre as galáxias, no que chamamos de meio intergaláctico ou rede cósmica, mas ninguém sabe ao certo”, diz Bannister. Os FRB poderiam servir como uma espécie de sonda para explorar essa imensa rede cósmica. “O plasma que atravessou este FRB através do meio intergaláctico em sua viagem até a Terra ficou codificado em seu sinal”, explica o pesquisador do CSIRO. Se descobrirem mais pulsos similares, a informação que eles transportam poderia servir para revelar o segredo da matéria perdida do universo.

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