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Trump impõe sanções ao líder supremo do Irã em plena escalada de tensão

EUA mantêm a estratégia de pressão com castigos econômicos ao regime iraniano após a ofensiva militar abortada na semana passada

Donald Trump, no domingo em sua chegada à Casa Branca após o fim de semana em Camp David.
Donald Trump, no domingo em sua chegada à Casa Branca após o fim de semana em Camp David.Polaris

Donald Trump impôs nesta segunda-feira (24) sanções ao líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, e oito lideranças militares, em mais um passo para endurecer o cerco econômico sobre o regime e forçar uma negociação. O presidente dos EUA alertou no sábado que preferia intensificar a pressão das penalizações frente a uma intervenção militar, após anunciar alto e claro que esteve prestes a lançar um ataque na quinta-feira que teria custado a vida de 150 pessoas. Uma revelação que também funciona como ameaça.

As sanções cortam o acesso de Khamenei a recursos financeiros e significam a primeira represália de Washington após a derrubada de um drone norte-americano por parte do Irã na semana passada. “O líder supremo é o principal responsável pela atitude hostil do regime”, disse o republicano na segunda-feira na Casa Branca, ao assinar a ordem executiva das penalizações. Elas estabelecem não só que qualquer ativo sob jurisdição norte-americana fique bloqueado, como que as instituições financeiras de outros países que façam alguma operação significativa aos indivíduos incluídos podem ser expulsas do sistema norte-americano, básico para qualquer entidade.

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As sanções contra a Casa do Líder têm um caráter simbólico e constituem uma afronta ao regime iraniano. É improvável que Khamenei, a quem Pompeo atribuiu no ano passado uma fortuna de 83,4 bilhões de euros (360 bilhões de reais), tenha bens e fundos nos EUA e em instituições que possam estar ao alcance de suas sanções. Khamenei não viaja para fora da República Islâmica desde que foi designado líder supremo em 1989, de acordo com informações de Ángeles Espinosa.

O secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, alertou, por sua vez, que a medida vai muito mais além do simbólico e significa o bloqueio de dezenas de bilhões de dólares. Além disso, outros funcionários de alto escalão do regime podem receber sanções nessa mesma semana. “Continuaremos aumentando a pressão sobre Teerã até que o regime abandone suas pretensões e atividades perigosas, incluindo a construção de armas nucleares, o enriquecimento de urânio, o desenvolvimento de mísseis balísticos, o apoio ao terrorismo”, disse o presidente dos EUA.

Mas o caminho da estratégia de sanções não é infinito. A rodada aprovada anteriormente já significou o estrangulamento econômico do país: a proibição total da compra de petróleo iraniano decidida em abril – ao suprimir a isenção dos poucos países que estavam livres desse veto – e o castigo em maio ao setor de metais industriais, que é a segunda maior fonte de renda por exportações após o petróleo. A questão é onde está o limite da resistência iraniana, que também é finita.

Trump quer que o Irã se sente à mesa de negociações para acertar um novo pacto nuclear, uma vez que o republicano decidiu romper o assinado em 2015, durante a Administração de Barack Obama, por considerar que simplesmente dava oxigênio econômico ao regime, pela paralisação das sanções, sem fazê-lo renunciar verdadeiramente ao seu programa nuclear. A saída dos EUA ocorreu há mais de um ano, mas as outras potências que assinaram o acordo (Reino Unido, França, Alemanha, Rússia e China) permaneceram. Ainda assim, Teerã avisou em maio que pensava em “reduzir seu compromisso” de cumprimento do pacto e colocou a culpa nas pressões norte-americanas.

O clima só piorou durante todo esse tempo. Em Washington, o ardor guerreiro dos falcões como o secretário de Estado, Mike Pompeo, e o conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, convive com um presidente que chegou ao cargo com o lema de “América primeiro” e alertando que reduziria ao mínimo as intervenções militares.

Por enquanto está sendo utilizada a estratégia de golpear o regime à base de sanções, apesar do episódio de quinta-feira(madrugada de sexta no Irã), quando, de acordo com o depoimento do próprio Trump, deteve um ataque somente 10 minutos antes do inicio da operação porque, ao perguntar o número de possíveis vítimas, um general lhe respondeu que seriam 150 e lhe pareceu uma represália desproporcional para a derrubada de um drone não tripulado, que por isso não custou a vida de nenhum soldado norte-americano.

Militares sancionados

Entre os militares sancionados estão o comandante da Força Naval do Corpo dos Guardiões da Revolução, Ali Reza Tangsiri; o comandante da divisão aeroespacial dos Guardiões da Revolução iraniana, Amir Ali Hajizadeh; e o comandante da força terrestre desse corpo de elite, Mohamad Pakpur; além dos comandantes dos cinco distritos navais da Marinha dos Guardiões da Revolução: Abbas Gholamshahi, Ramezan Zirahi, Yadollah Badin, Mansur Ravankar e Ali Ozma'i. Esses últimos são responsáveis pelas operações navais em províncias costeiras como Bushehr, próximas ao estreito de Ormuz.

O incidente significou, entretanto, chover no molhado. A Administração de Trump culpa o Irã por duas séries de explosões em navios petroleiros no estreito de Ormuz, o que provocou essa fase de tensão. No sábado um porta-voz militar iraniano ameaçou com “consequências devastadoras” aos interesses de Washington caso ocorresse um ataque por parte dos Estados Unidos e seus aliados. As potências europeias temem um conflito na região do Golfo. O presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou na segunda-feira que aproveitará a reunião do G-20 no final dessa semana no Japão para falar sobre o assunto em uma reunião com Trump, que até agora não foi contido por ninguém.

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