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Renda recorde, torcida apática e um time sem brilho

Com Bolsonaro na plateia e mais de 20 milhões de reais em arrecadação, partida no Morumbi gera cornetada de torcedores a jogadores – e vice-versa

Torcida no Morumbi bateu recorde de arrecadação com ingressos.
Torcida no Morumbi bateu recorde de arrecadação com ingressos.Victor Caivano (AP)
Diogo Magri
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A estreia da seleção na Copa América bateu o recorde de bilheteria de uma partida no futebol brasileiro. Com renda de 22 milhões de reais, o Morumbi recebeu mais de 47.000 pessoas nesta sexta-feira. Preço médio do ingresso: 485 reais, sendo que as entradas mais caras custaram 590 reais, mais da metade do salário mínimo. O público elitizado e exigente não perdoou a fraca exibição da equipe no primeiro tempo. Sua manifestação mais sonora em toda partida foi a vaia na saída do time para o intervalo. Mesmo depois de abrir vantagem no placar, o Brasil não conseguiu empolgar os torcedores, que preferiam fazer a famosa hola a incentivar o selecionado nacional das arquibancadas.

Para o baiano Daniel Alves, a postura da torcida incomodou. “É sempre muito complicado jogar aqui em São Paulo”, afirmou o lateral depois da vitória por 3 a 0 sobre a Bolívia. “Se o Tite gritasse na beira do campo, a gente escutava”, alfinetou, reprovando a atmosfera sonolenta, porém ligeiramente hostil do estádio. Ele diz esperar mais apoio em seu estado natal para o próximo jogo contra a Venezuela, em Salvador. “Na Bahia, o axé é diferente. Lá, as pessoas sentem mais falta dessa energia que a seleção carrega.”

Receio por greve e presidente na tribuna

Jair Bolsonaro esteve, na noite desta sexta-feira, cercado por torcedores que vestiam o uniforme da seleção brasileira. Apesar do histórico recente de protestos no país, onde a camisa amarela representou em diversas manifestações apoiadores do presidente, o contexto dessa vez não era ligado à política. Bolsonaro foi às tribunas do Morumbi, em São Paulo, para acompanhar a abertura da Copa América. Enquanto torcedores se deslocavam para o estádio, milhares de pessoas escolheram ir à Avenida Paulista, a pouco mais de dez quilômetros do estádio, para protestar contra a Reforma da Previdência, cortes na educação e desemprego; os motes dos trabalhadores que cruzaram os braços na Greve Geral, evento de oposição ao governo que aconteceu em pelo menos nove estados nesta sexta.

O movimento grevista, que teve baixa adesão ao longo do dia na capital paulista, não atrapalhou quem escolheu o próprio veículo para ir ao estádio. “Vim de carro e foi bem tranquilo. Só vi que umas estações de metrô fecharam, mas o pessoal se reúne mesmo na Paulista”, comentou João Guilherme, torcedor que esperava os amigos nos arredores do estádio cerca de três horas antes do início da partida. A dificuldade ficou para quem escolheu o transporte público. Gustavo Lustosa, Lilian Gutierres e Ruan Castelhano vieram de Bauru pela manhã e, após estacionarem o carro na Barra Funda, encontraram a estação da linha vermelha fechada. A alternativa seria chegar ao Morumbi pela CPTM, linha da companhia de trens paulistanos, mas os estudantes a descreveram como “muito cheia”. Tomaram então um transporte via aplicativo, que demorou uma hora e meia da zona oeste até o local da partida.

Além dos transtornos com a greve, alguns torcedores ainda tiveram problemas para retirar ingressos da partida nos postos oficiais da organização. Assim como a seleção, Bolsonaro, após ter posado para fotos ao lado do ministro Sergio Moro com o uniforme do Flamengo no jogo pelo contra o CSA, em Brasília, teve atuação discreta na abertura do torneio. Não apareceu no telão do Morumbi nem fez qualquer pronunciamento antes do jogo.

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