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Boris Johnson vence com ampla margem primeira fase da disputa por liderar Brexit

Três dos 10 candidatos à sucessão de Theresa May acabam descartados no primeiro turno

Rafa de Miguel
Boris Johnson nesta quarta-feira, em Londres.
Boris Johnson nesta quarta-feira, em Londres.EFE
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Boris Johnson descobriu que, em política, é importante ter uma estratégia, e parece funcionar para ele. O eurocético mais popular dos conservadores, vítima histórica de sua própria loquacidade desmedida, obteve uma vitória contundente nesta quinta-feira na primeira votação para suceder Theresa May. Um de cada três deputados, 114 no total, decidiu lhe dar seu apoio. Muito longe ficaram os outros seis adversários. As vozes moderadas do partido começaram a confabular para derrotar o candidato dos partidários de um Brexit duro.

“Estou muito feliz por ter vencido na primeira votação, mas ainda temos um longo caminho pela frente”, escreveu Johnson em sua conta no Twitter ao anunciar os resultados à direção do grupo parlamentar. Dos dez candidatos que aspiravam liderar o Partido Conservador, três tinham ficado de fora (entre eles Andrea Leadsom e Esther McVey, as duas únicas mulheres na disputa). O voto eurocético se aglutinou em torno da única pessoa em quem confiam para levar adiante o Brexit, e o ex-prefeito de Londres obteve um terço dos 313 votos. Os candidatos mais moderados ficaram muito atrás. O ministro das Relações Exteriores, Jeremy Hunt, que obteve 43 votos, continua sendo a figura com mais apoio entre todos os deputados que desconfiam do espalhafatoso Johnson. Mas o número se revelou decepcionante. Por um duplo motivo: sua distância do favorito é sideral e outros concorrentes que não criaram tantas expectativas acabaram em seus calcanhares. O ministro do Meio Ambiente, Michael Gove, quase descartado pela imprensa depois de admitir que consumiu cocaína há 20 anos, obteve um honroso terceiro lugar com 37 votos e volta a ser relevante. Dominic Raab, o ex-ministro para o Brexit, também sobreviveu. Por um breve tempo foi o político mais protegido pela ala dura de seu partido, mas uma ambição precoce e indisfarçável, além de gafes como se declarar “não feminista” — para além das nuances, no debate político britânico equivale quase a negar que se é democrata — o fizeram perder pontos. Mesmo assim, conseguiu o apoio de 27 colegas. “Ainda não confrontamos as ideias e os programas dos diferentes candidatos. Os debates que vamos fazer serão uma boa oportunidade”, disse Raab, em uma tentativa de diminuir a euforia dos seguidores de Johnson.

A primeira fase exigia o apoio de ao menos 17 colegas (5% do grupo parlamentar) para continuar. Outros candidatos atingiram esse mínimo como o ministro do Interior, Sajid Javid, com 23 votos; o secretário de Estado da Saúde, Matt Hancock; e quem sem dúvida foi a surpresa do dia: Rory Stewart. O deputado que percorreu o Afeganistão a pé durante um ano para em seguida escrever um livro best-seller, que é capaz de intercalar brilhantes citações em latim em seus discursos e que enfrenta o dilema do Brexit com uma honestidade que o resto dos concorrentes evita, começou a captar o interesse e até o apoio de conservadores históricos como Kenneth Clarke. “Outros candidatos se apresentam como prudentes e introvertidos, como se uma grande democracia como a nossa pudesse ser arrebatada aos cidadãos e transformada em um jogo de cartas a portas fechadas”, escreveu Stewart nesta quinta-feira no The Daily Telegraph depois de saber que tinha obtido 19 votos e continuava vivo.

“Não estamos elegendo o líder dos conservadores, mas o futuro primeiro-ministro do Reino Unido, e os candidatos devem mostrar a cara, expor seu programa e responder às perguntas”, exigiu Amber Rudd, ministra da Previdência, a um Johnson esquivo, que não se comprometeu a participar dos debates. Rudd, que apoia o candidato Hunt, tornou-se porta-voz de todos os conservadores moderados dispostos desde esta quinta-feira a tentar desmascarar o favorito Johnson.

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