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Estados Unidos acusam Irã pelo ataque a dois petroleiros no golfo de Omã

Navios, um norueguês e um japonês, estavam mais próximos da costa iraniana do que da dos Emirados. Algumas fontes indicam que foram usados torpedos contra os navios

Um dos barcos que teriam sido atacados no golfo de Omã.
Um dos barcos que teriam sido atacados no golfo de Omã.ISNA (AP)
Ángeles Espinosa
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Um novo incidente naval nas águas do golfo de Omã reavivou as tensões regionais, justamente quando o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, encontrava-se em Teerã tentando estabelecer uma mediação entre o Irã e os Estados Unidos depois da recente escalada verbal entre esses dois países. Os ataques causaram danos nos petroleiros e levaram à retirada das respectivas tripulações, segundo as empresas de transporte naval e a Quinta Frota dos Estados Unidos. O local do incidente, às portas do estreito do Ormuz, fica muito próximo de onde outros quatro navios sofreram uma sabotagem há um mês. Os Estados Unidos acusaram o Irã de ser responsável pelos ataques.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou o ocorrido e salientou que o mundo "não pode se permitir" uma grande confrontação neste pedaço do mundo. O Conselho de Segurança da ONU, a pedido dos EUA, vai se reunir na tarde desta quinta-feira em caráter de urgência e a portas fechadas, segundo a France Presse.

O petroleiro norueguês Front Altair, que viajava de Ruwais (Emirados Árabes Unidos) a Taiwan com 75.000 toneladas de nafta (um derivado do petróleo), começou a pegar fogo à 1h05 (hora de Brasília), depois que seus tripulantes ouviram uma “fortíssima explosão”. O japonês Kokuka Courageous, que transportava metanol do porto saudita de Jubail para Singapura, sofreu dois impactos no prazo de três horas, o que provocou um rombo acima da linha de flutuação, segundo a Kokuka Sangyo, empresa proprietária. Os tripulantes foram retirados ilesos, com exceção de um trabalhador do Kokuka Courageous que teve ferimentos leves.

Os dois navios tinham cruzado o estreito de Ormuz vindo do golfo Pérsico e se encontravam mais perto da costa iraniana que da emiradense, entre as quais se estende o golfo de Omã. A agência de notícias iraniana IRNA disse que o Front Altair afundou, mas isso foi desmentido pela empresa proprietária do navio. Na última hora, os navios de auxílio tinham conseguido apagar o fogo.

"“Suspeita-se que tenha sido atingido por um torpedo”", declarou Wu I-Fang, porta-voz da refinaria estatal taiwanesa CPC, que tinha fretado o Front Altair, citado pela agência Reuters. O site de informação marítima Tradewindsnews atribuiu os dois ataques a torpedos.

Os Estados Unidos, cuja Quinta Frota recebeu as mensagens de socorro no começo da manhã e foi em auxílio dos navios, ainda não se pronunciaram. "“Neste momento não se descartamos que os navios tenham se chocado contra uma mina na água ou tenham sido atacados por um projétil. Estamos tentando determinar a causa”", confidenciou um oficial de defesa à CNN. Seus especialistas estavam reunindo pistas para analisar o ataque.

Entretanto, alguns analistas consideram improvável que se trate de minas, já que, pelo menos no caso do Kokuka Courageous, o rombo se encontra a estibordo (o lado direito do navio) e o impacto com uma mina costuma ocorrer na proa. Diferentemente do ocorrido nesta quinta-feira, os quatro petroleiros sabotados em 12 de maio não estavam navegando, e sim ancorados frente às costas de Fujaira (um dos sete Emirados Árabes Unidos) e foram danificados por minas ou outros artefatos explosivos, possivelmente aderidos a seus cascos na noite anterior. O fato de não terem causado grandes danos (nem sequer foi preciso retirar os tripulantes) foi interpretado como uma advertência.

Os Estados Unidos acusaram o Irã, que no passado ameaçou fechar Ormuz. Teerã negou qualquer envolvimento e uma investigação apresentada pelos Emirados à ONU só concluiu que havia um Estado por trás, sem apontar para um em particular. Novamente, agora, os dedos apontam para a República Islâmica, encurralada pela crescente pressão de Washington para renegociar o acordo nuclear.

"O ataque [nesta quinta-feira] segue o modelo de combinar vários sistemas de armas e táticas para danificar certas infraestruturas e rotas de transporte da Península Arábica", afirma Theodore Karasik, da Gulf State Analytics. Esse analista político e de defesa enfatiza que "toda a tecnologia usada é de origem iraniana". Sua dúvida sobre tais táticas é "se a Guarda Revolucionária está operando sozinha ou se ainda está seguindo as ordens do líder supremo".

Os porta-vozes iranianos afirmam que seu país não tem nada a ver com o incidente e defendem que alguém está tentando prejudicar sua reputação e confrontá-lo com a comunidade internacional. "É suspeito o que aconteceu esta manhã", tuitou o ministro das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, lembrando que os ataques aconteceram enquanto Abe se encontrava com o aiatolá Khamenei.

A área em que essas novas agressões ocorreram está próxima do Estreito de Ormuz, onde um terço do petróleo comercializado pelo mar viaja e um quinto do que é consumido no mundo. A notícia aumentou em 4%o preço do petróleo, que chegou a 62 dólares por barril. Também as seguradoras avaliam elevar os prêmios por risco de guerra e algumas empresas de navegação decidiram cancelar no momento as cargas na região.

As principais potências mundiais acompanham de perto o que aconteceu. A Casa Branca disse em um comunicado da France Presse que "o presidente [Donald Trump] foi informado sobre o ataque aos navios no Golfo de Omã". O governo dos Estados Unidos oferece sua ajuda e continua a avaliar a situação." A Rússia, no entanto, alerta para o perigo de conclusões prematuras porque "é cedo demais" para saber o que ou quem está por trás do suposto ataque, informa a Reuters.

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