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Macri e Bolsonaro apostam num rápido acordo entre Mercosul e União Europeia

Manifestantes realizam protestos contra a primeira visita oficial do presidente brasileiro à Argentina

Enric González
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, com o seu homólogo argentino, Mauricio Macri, nesta quinta-feira em Buenos Aires.
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, com o seu homólogo argentino, Mauricio Macri, nesta quinta-feira em Buenos Aires.Natacha Pisarenko (AP)
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A Argentina e o Brasil acreditam que em poucas semanas poderia ser finalmente alcançado, após décadas de negociações e fracassos, um acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE). “Precisamos integrar nossos mercados e garantir nossa inserção no desenvolvimento global”, afirmou Mauricio Macri, ao lado de Jair Bolsonaro, durante a primeira visita oficial do presidente brasileiro a Buenos Aires. Macri disse que os argentinos estavam “felizes em recebê-lo”, apesar das manifestações convocadas para rechaçar a presença de Bolsonaro.

Os dois mandatários se mostraram de acordo em temas como a cooperação comercial e energética, o combate ao narcotráfico e à corrupção e a crise na Venezuela. A conexão pessoal e ideológica pareceu evidente. Talvez até demais para um Macri que tenta projetar uma imagem de liberalismo moderado. Bolsonaro, expoente da ultradireita latino-americana, chamou Macri de “irmão” e lhe desejou sucesso nas eleições gerais de outubro: “O povo argentino deve votar com responsabilidade, sem se deixar levar pela emoção”, disse o mandatário brasileiro. “Não queremos novas Venezuelas.” Foi uma forma de identificar os grandes rivais de Macri — os peronistas Aberto Fernández e Cristina Fernández de Kirchner — com o regime bolivariano de Caracas.

Bolsonaro deixou uma pequena ferida no orgulho argentino quando, após assumir a presidência, em 1º de janeiro, escolheu o Chile como destino de sua primeira visita oficial, quebrando a tradição dos seus antecessores, que haviam estado em Buenos Aires no início de seus mandatos. Foi Macri que teve de viajar a Brasília em 15 de janeiro. As relações estavam bastante mornas nesse momento, pois Bolsonaro havia dito na campanha que nem a Argentina nem o Mercosul estavam entre suas prioridades.

Agora que a visita foi finalmente organizada, transcorre sem muita pompa: em menos de 24 horas e com uma agenda muito apertada, em parte para evitar ao máximo os protestos populares. O presidente brasileiro chegou a Buenos Aires por volta das 10h e depositou flores em frente ao monumento ao general San Martín. Depois foi à Casa Rosada para se reunir com Macri durante 45 minutos. Em seguida, os mandatários falaram à imprensa (sem aceitar perguntas) e almoçaram. Durante a tarde, a agenda de Bolsonaro incluía um seminário sobre defesa na embaixada brasileira e um encontro com empresários argentinos no hotel onde se hospeda, o Alvear, para depois manter uma reunião protocolar com os presidentes da Câmara, do Senado e da Corte Suprema. Seu voo de volta ao Brasil estava previsto para 6h40 desta sexta-feira.

Bolsonaro se mostra agora mais interessado que há alguns meses na reforma do Mercosul e na assinatura de um acordo com a UE. Tanto a Argentina como o Brasil enfrentam recessão, e seus Governos aplicam políticas de ajuste. Ambos precisam de oxigênio. Na Comissão Europeia e na Casa Rosada, acredita-se que o acordo com o bloco europeu poderia ser alcançado antes de agosto. Mas ainda há dificuldades. O presidente francês, Emmanuel Macron, teme uma avalanche de produtos agrícolas brasileiros e sobretudo argentinos, submetidos a menos regulações sanitárias que os europeus e mais baratos. Já os empresários do Brasil e da Argentina têm medo de que uma redução na tarifa externa do Mercosul (de 35%) os faça enfrentar a competição de produtos europeus com boa imagem de marca e alta qualidade.

Tampouco parece simples a aprovação parlamentar de um acordo. O peronismo, tanto o moderado como o kirchnerista, conta com maioria relativa nas duas câmaras argentinas e sempre tendeu para o protecionismo. As perspectivas sobre um hipotético acordo entre o Mercosul e a UE ficarão mais claras a partir de 14 de julho, quando o Brasil e a Argentina, as duas potências do bloco, se reúnem em Santa Fe com os parceiros menores, Uruguai e Paraguai, para tentar adotar uma postura conjunta.

Na Casa Rosada, Macri e Bolsonaro conversaram também sobre as conexões físicas entre os dois países, bastante deficientes, e sobre a cooperação energética. A Argentina possui tecnologia nuclear e uma promissora bacia de gás e petróleo em Vaca Muerta (Patagônia).

Sobre a Venezuela, os mandatários mostraram completa sintonia. Disseram estar dispostos a “fazer todo o possível para que se restabeleça a democracia” no país. O problema, como de costume, é o que fazer ante uma situação bloqueada: Nicolás Maduro se mantém no poder, e Juan Guaidó, reconhecido como presidente legítimo pela comunidade internacional, não consegue fazer valer esse apoio. A população venezuelana continua sofrendo um interminável desastre que combina repressão, inflação e carência de produtos básicos. Pelo menos publicamente, Macri e Bolsonaro não propuseram nenhuma ideia nova.

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