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Cristina Kirchner será candidata a vice-presidenta na Argentina

Ex-mandatária participará das eleições de outubro como ‘número dois’ do concorrente presidencial, Alberto Fernández, ex-chefe de seu Gabinete

A ex-presidenta argentina, Cristina Kirchner.
A ex-presidenta argentina, Cristina Kirchner.AGUSTIN MARCARIAN (REUTERS)
Enric González

Cristina Kirchner será candidata. Mas não à presidência da República Argentina e sim à vice-presidência. Concorrerá com Alberto Fernández, que foi chefe de gabinete durante o mandato de Néstor Kirchner e, durante um ano, sob a própria Cristina Kirchner. A ex-presidenta deixou atônita toda a classe política, Governo incluído, com um anúncio tão inesperado como incomum. Pela primeira vez na história, foi a concorrente à vice-presidência que anunciou a candidatura de um aspirante à chefatura do Estado, Alberto Fernández, por enquanto calado.

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Os argentinos acordaram no sábado com uma surpresa. A ex-presidenta, às nove horas da manhã, publicou em sua conta do Twitter um discurso de quase 13 minutos, lido sobre um fundo de imagens, para informar sobre uma decisão que ninguém teria imaginado sequer como hipótese mais remota: “Pedi a Alberto Fernández que encabece a chapa que integraremos juntos, ele como candidato a presidente e eu como candidata a vice, para participar das próximas eleições primárias, abertas, simultâneas e obrigatórias, sim, as famosas PASO”.

Alberto Fernández rompeu com Cristina Kirchner em 2008 e desde então foi muito crítico com ela. “No último mandato de Cristina é muito difícil encontrar algo de bom”, disse em 2015. Ele a acusou de perder contato com a realidade: “Chegou a dizer que a Alemanha estava pior do que nós em matéria de pobreza, sustentou até o final que o Cepo (controle de câmbios) não existia e que a inflação não importava, isso é negação, uma negação teimosa, por vezes absurda”. Mas quando a ex-presidenta apresentou seu livro Sinceramente em La Rural, no dia 9, Alberto Fernández estava na primeira fila, aplaudindo-a.

Cristina Kirchner admitiu em seu anúncio que “teve diferenças” com Alberto Fernández, “que conheço há mais de 20 anos”. “É verdade”, continuou, “tão verdadeiro como que ele foi chefe de gabinete de Néstor (Kirchner) durante toda a sua presidência, e o vi ao lado do presidente decidindo, organizando, acertando e procurando sempre a maior amplitude possível do governo”.

Ela pediu aos outros setores do peronismo, e além destes, a formar uma coalizão ampla: “O desafio será tentar governar uma Argentina novamente em ruínas, com uma população outra vez empobrecida”, “em uma situação de endividamento e empobrecimento pior do que a de 2001”. “Está claro, então, que a coalizão deverá ser mais ampla do que a que ganhou as eleições”.

A notícia desconcertou a classe política. O peronismo federal, moderado, que deve se reunir na próxima semana em torno ao recentemente reeleito governador de Córdoba, Juan Schiaretti, deverá decidir se mantém seu projeto de “terceira via” ou se participará do projeto Fernández-Kirchner. Alberto Fernández esteve com Sergio Massa, um dos líderes renovadores, nas eleições anteriores, e tem mais capacidade do que Cristina Kirchner para atrair setores não kirchneristas. Para alguns, a fórmula proposta lembra muito a de 1973, quando o peronista Héctor Cámpora chegou à presidência com o general Juan Domingo Perón ainda no exílio em Madri. Aquela chapa era “Cámpora na presidência, Perón no poder”. Agora seria, de acordo com os críticos, “Fernández na presidência, Kirchner no poder”.

A vice-presidência da República comporta a presidência do Senado. Não se trata de um posto com poder executivo. Mas dá a blindagem do foro privilegiado, potencialmente muito útil a uma Cristina Kirchner com numerosos processos abertos. Na próxima terça-feira, a candidata à vice-presidenta irá se sentar pela primeira vez no banco dos réus na abertura de um julgamento por prevaricação na concessão de obras públicas.

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