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O milagre de Messi contra o Liverpool

Dois gols do argentino dão ao Barça grande vantagem contra equipe que fustigou os azuis-grenás. O segundo tento de Messi saiu em uma espetacular cobrança de falta

Ramon Besa
Messi comemora com seus companheiros seu primeiro gol, o segundo de Barcelona.
Messi comemora com seus companheiros seu primeiro gol, o segundo de Barcelona.Eric Alonso/MB Media (Getty Images)
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O desejo de Messi levanta estádios tão gigantescos como o Camp Nou nos momentos mais dramáticos da Champions League. Ninguém entendeu melhor a mensagem de Klopp do que o camisa 10 do Barça. “A Champions não tem a ver com perfeição, mas com caráter, agressividade, atitude”, afirmou o treinador do Liverpool. E Messi, descansado depois de um problema físico, ressuscitou a tempo de colocar o Barcelona às portas da final de Madri. Às vezes resistir é vencer, especialmente quando os jogos são decididos nas áreas e em momentos concretos, circunstâncias que o Barcelona dominou. A besta do Liverpool tem comichões e Messi encontrou-os com dois gols, um oportunista e o segundo em uma linda cobrança de falta indefensável para o longilíneo Alisson, finalmente abatido pelo atacante em seu 600º gol. Messi também corre, também defende, também sua, também marca quando há uma tempestade, como sempre acontece quando joga a equipe de Anfield.

O Liverpool sempre foi um time cativante pela sua mística (The Boot Room), pela sua liturgia (You’ll Never Walk Alone) e pelo seu futebol, expressado hoje no gegenpressin de Klopp. Tem tanta personalidade que seu cartaz condicionou o jogo do Barça. A energia red contagiou Valverde, que prescindiu da delicadeza de Arthur para apostar na ferocidade de Arturo Vidal. Aumentava a voltagem no Camp Nou. Muito mais sensível e respeitoso com a identidade do Barça foi Klopp. Com Firmino machucado, os reds se cobriram com um quarto meio-campista e, além disso, reforçaram a defesa com um zagueiro no lugar de um lateral: Joe Gómez no lugar de Alexander-Arnold. Aparentemente havia cautela no bravo Liverpool.

O intervencionismo dos técnicos mostrou que os detalhes podem ser decisivos para a sorte da partida e também evidenciou que nas semifinais da Champions não se trata de ostentar, e ainda menos de estilo, em duas equipes reconhecíveis mesmo sem suas camisetas, mas de fome por passar à final em Madri. E talvez tenha mostrado que não é necessário ter a equipe mais admirada, mas o melhor jogador, que é Messi.

O Liverpool, em todo caso, parecia um timaço no Camp Nou. Irresistível na transição ofensiva, estava preocupado com a reorganização defensiva, circunstância favorecida pela presença de Fabinho. O volante ajudou no jogo posicional sem perder a capacidade de chegada à área de Ter Stegen.

Os rapazes de Klopp intimidavam e pressionavam e o Barça corria. Havia muita tensão no gramado e a excitação era máxima nas arquibancadas do Camp Nou. A bola ia e vinha em um ritmo trepidante até chegar aos pés de Salah e Messi, dois excelentes solistas, impossíveis de defender se não fosse com ajudas, tarefa em que Jordi Alba se destacou. O lateral auxiliou Lenglet para depois passar ao ataque com um passe profundo para Luis Suárez se desmarcar, esplêndido em seu posicionamento às costas dos zagueiros, e arrematar diante de Alisson. O uruguaio não poderia ter escolhido melhor momento, jogo ou rival, sua ex-equipe, para atingir a artilharia da atual edição e marcar o 500º gol do Barça na Champions.

O público comemorou a chegada do intervalo com a mesma satisfação que os jogadores depois de uma partida extenuante e vibrante, muitas vezes descontrolada, pendente das acelerações de Salah e Messi e dos desmarques de Luis Suárez e Mané. Nenhum time havia sido tão exigente com o Barça quanto o Liverpool. Os reds nunca esmoreceram, muito presentes no campo azul-grená, tão vorazes que obrigavam o Barça a se defender com vigor e a contragolpear conduzindo a bola por 50 metros, um desafio devastador para Messi. O futebol do Liverpool era desgastante para uma equipe fisicamente delicada como o Barça.

As gargalhadas de Klopp, a postura missionária de Salah e a ingenuidade de Mané humanizam uma equipe implacável quando os jogadores colocam a camiseta do Liverpool. O futebol dos reds só pode ser combatido com uma zaga solidária da qual nem sequer Messi pode se desligar, pois do contrário se impõe esconder a bola, jogar com paciência e inteligência, velocidade e precisão, um futebol que agora, às vezes, é estranho ao Barça. Os azuis-grenás não sabiam descansar com a bola e o Liverpool não parou de assediar Ter Stegen, esplêndido e decisivo até que o time se recolheu em um 4-4-2 com a entrada de Semedo no lugar do inócuo Philippe Coutinho.

O Barça aguentou até que encontrou uma saída em uma jogada iniciada e terminada por Messi depois do chute no travessão de Suárez. O gol abençoou a alteração feita por Valverde. Messi encontrou respiro e, tão seletivo quanto efetivo, fechou o jogo com um gol de falta extraordinário, de longe e preciso, a melhor franquia para entrar em Anfield. Deus está com Messi, se não é o próprio Messi, e não com Salah, que chutou uma bola na trave, mais um sinal de que para aspirar a ganhar a Champions é preciso de um pouco de sorte, além de convicção e muito sofrimento, também no Camp Nou. A emoção e a paixão próprias do torneio são ainda mais celebradas com a fé do camisa 10.

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