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Guaidó liberta Leopoldo López da prisão e convoca protestos contra Maduro

Autoproclamado presidente interino grava mensagem chamando a população às ruas, ao lado de líder opositor e de militares, a quem Maduro acusa de traição

Cercado de militares, Juan Guaidó grava mensagem com Leopoldo López, na manhã desta terça-feira
Cercado de militares, Juan Guaidó grava mensagem com Leopoldo López, na manhã desta terça-feira
F. M.

O líder oposicionista da Venezuela Leopoldo López, que estava em prisão domiciliar após ser condenado a 13 anos de prisão, foi solto em uma ação promovida por Juan Guaidó, reconhecido como presidente interino do país pela Assembleia Nacional e por mais de 50 países. Há suspeitas de que Guaidó tenha tido o apoio de segmentos das Forças Armadas. "O momento é agora", disse o autodeclarado presidente em uma mensagem em vídeo postada em suas redes sociais, na qual aparece próximo a Leopoldo López e cercado por homens armados. Ele convocou os venezuelanos a saírem às ruas. "Neste momento estou me encontrando com as principais unidades militares de nosso Exército, iniciando a fase final da Operação Liberdade", disse Guaidó em um tuíte posterior.

"Hoje, corajosos soldados, patriotas, bravos homens ligados à Constituição, atenderam ao nosso chamado. Definitivamente, nos encontramos nas ruas da Venezuela ", proclamou Guaidó. "Hoje, o medo é superado. Hoje, como presidente encarregado da Venezuela, legítimo comandante em chefe das Forças Armadas, convoco todos os soldados e toda a família militar para nos acompanhar nesse feito. No quadro da luta não violenta que fizemos em todos os momentos ", enfatizou o líder do Voluntad Popular, o mesmo partido de Leopoldo López, que explicou que recebeu sua libertação após um perdão a todos os presos políticos oferecido Guaidó, decisão que não foi contestada pelos membros do Sebin que o vigiavam.

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A ofensiva de Guaidó foi rapidamente apoiada pelos Estados Unidos e pelos países aliados a ele, como a Colômbia, bem como pelo Secretário-Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA). A Espanha, que liderou o reconhecimento de Guaidó como presidente interino na Europa, assegurou que o político venezuelano é legítimo para liderar a transição na Venezuela, mas rejeitou qualquer ofensiva militar. No Brasil, o chanceler Ernesto Araújo reafirmou o apoio ao presidente interino e disse esperar que o Exército participe do processo de transição democrática do país. O México, a única potência na América Latina que não reconheceu Guaidó, insistiu em uma saída dialogada para a crise venezuelana.

O governo de Maduro respondeu aos opositores mobilizando de imediato as Forças de Ações Especiais (FAES) e a Guarda Nacional para bloquear o acesso à base aérea de La Carlota. "Nervos de Aço!" Falei com os Comandantes de todos os REDI e ZODI do País, que manifestaram sua total lealdade ao Povo, à Constituição e à Pátria. Chamo a máxima mobilização popular para garantir a vitória da Paz. Nós vamos ganhar! ", tuitou o presidente horas após a ofensiva. Mais cedo, poucos minutos após o apelo de Guaidó, Jorge Rodríguez, o ministro da Informação do regime chavista, informou pelo Twitter que eles estão "confrontando e desmobilizando um pequeno grupo de militares traidores que se posicionaram (...) para promover um golpe de Estado contra a Constituição e a paz da República". O ministro da Defesa, Vladimir Padrino, também disse no Twitter que "todas as unidades militares instaladas nas oito regiões de defesa integral relatam normalidade em seus quartéis e bases militares".

A operação de Guaidó foi lançada na véspera da grande mobilização que havia convocado para esta quarta-feira, 1º de maio. O objetivo do Presidente do Parlamento, que há três meses desafiou o sucessor de Hugo Chávez, cujo mandato ele considera ilegítimo, consiste em marchar em direção ao Palácio de Miraflores, sede do Governo. O número dois do chavismo, Diosdado Cabello, apelou aos simpatizantes e aos chamados coletivos, grupos de paramilitares armados, para se mobilizarem e protegerem Maduro. "Convidamos todas as pessoas, os motorizados, os coletivos e os milicianos a irem a Miraflores para defender a revolução", insistiu.

No vídeo, publicado por volta das seis da manhã na Venezuela (sete horas no horário de Brasília), Guaidó pede a mobilização dos cidadãos da Venezuela contra o regime de Nicolás Maduro. Luis Florido, deputado da Assembleia Nacional do Estado de Lara, está com Guaidó. Por telefone, ele afirmou: "Estamos esperando que o povo venezuelano se aproxime e se manifeste", e acrescentou que a missão agora é a "restituição da Constituição que foi violada", relata Verónica Fuigueroa. 
Por volta das sete horas da manhã, horário local, um grupo jogou gás lacrimogêneo contra Guaidó, segundo Florido. O deputado diz que os homens uniformizados que acompanham o presidente interino não repelem os atentados. O ex-prefeito de Caracas Antonio Ledezma disse ao telefone que "há um bombardeio de gás lacrimogêneo como nunca antes, há pessoas resistindo, há pessoas que aceitaram o chamado para restaurar o Estado de Direito". Segundo ele, não se trata de um golpe de Estado porque "quem usurpa o poder é Maduro".

O presidente interino assegurou que muitos soldados já se juntaram a ele: "Para todos aqueles que estão nos ouvindo, chegou a hora, hoje todos nós queremos construir o futuro de nossos filhos". Guaidó já havia convocado uma grande marcha para esta quarta-feira, 1º de maio. "Neste momento, nós chamamos os funcionários públicos para a reconstrução da soberania. Hoje corajosos soldados patrióticos, bravos homens ligados à Constituição, vieram ao nosso chamado, e nós definitivamente nos encontramos nas ruas (...) Hoje as Forças Armadas estão do lado do povo, do lado da Constituição ", afirmou. Guaidó enviou esta mensagem da base aérea de La Carlota, onde convidou à "cessação definitiva da usurpação" de poder pelo regime chavista. Luis Almagro, presidente da OEA, apoiou a iniciativa de Guaidó e de seus seguidores através de sua conta no Twitter: "Saudamos a adesão dos militares à Constituição. (...) É necessário apoiar plenamente o processo de transição democrática de forma pacífica ".

López também falou em suas redes sociais sobre sua libertação pelas forças de segurança leais a Guaidó e, em linha com o líder venezuelano, pediu protestos. "Todo mundo à mobilização, é hora de conquistar a liberdade, força e fé", observou ele. 

López (Caracas, 29 de abril de 1971) foi preso em fevereiro de 2014 e condenado em setembro de 2015 a cumprir uma sentença de mais de 13 anos de prisão sob a acusação de conspiração para cometer um crime, instigação e destruição de propriedade pública. Ele ficou confinado até julho de 2018, quando conseguiu prisão domiciliar, graça as um processo de negociação pelo ex-presidente do Governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero.

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