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Salvini se recusa a comemorar o Dia da Libertação da Itália da ocupação nazista

Líder ultradireitista, criticado até pelo primeiro-ministro, alega que se trata de uma festa marcada pela velha disputa entre comunistas e fascistas

Daniel Verdú
O líder da Liga e ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, em Corleone.
O líder da Liga e ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, em Corleone.GUGLIELMO MANGIAPANE (REUTERS)
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A jogada, vergonhosa do ponto de vista do respeito à história democrática da Itália, estabeleceu uma nova fronteira, até mesmo em se tratando de Matteo Salvini, tão acostumado à conquista de velhos espaços políticos para olhar em direção ao futuro. O líder da Liga e seu entorno não dão um passo sem calcular seu impacto nas pesquisas e na opinião pública. Por isso, soou mal estrategicamente que desprezasse um dia de comunhão italiano, a jornada que celebra o fim do regime fascista de Mussolini e da ocupação nazista, graças à libertação por parte dos Aliados em 1945. Uma jornada que o Governo festeja em diferentes pontos da Itália, e que o presidente da República, Sergio Mattarella, antes de fazer sua oferenda no Altar da Pátria da praça Veneza, qualificou como “o segundo Ressurgimento”.

O ministro do Interior, em pleno buraco de popularidade devido ao caso de corrupção que assombra um de seus homens de confiança (o vice-ministro de Transportes, Armando Siri), decidiu na quinta-feira viajar a Corleone para apoiar as forças da ordem que combatem a Máfia, porque o 25 de Abril é, conforme afirmou, apenas um “dérbi entre fascistas e comunistas”. Um menosprezo a uma comemoração unitária do dia que conduziu à criação da República Italiana. Uma festa que já tinha sido questionada anteriormente por Silvio Berlusconi e que hoje só desperta receios nas formações ultradireitistas em que Salvini se apoiou circunstancialmente. Na quinta-feira, nenhum dos ministros da Liga que integram o Executivo populista da Itália participou de cerimônia oficial alguma.

A jogada desta vez pode reagir mal na proveta das pesquisas manejadas por seus assessores de comunicação. Apenas 24 horas haviam transcorrido desde que torcedores direitistas da Lazio estenderam um cartaz em que se pedia honrar a memória de Benito Mussolini na praça Loreto de Milão, onde o ditador foi pendurado de ponta-cabeça com sua amante, Clara Petacci, também há exatos 74 anos. Salvini não abriu a boca, como habitualmente faz quando há polêmicas envolvendo o Duce, cujas frases costuma citar. Desta vez, entretanto, todos o criticaram. Do presidente da República, a seu modo habitualmente sutil, advertindo que “não se pode reescrever a história”, até o primeiro-ministro Giuseppe Conte, líder do Executivo do qual a Liga faz parte, e com quem começa a haver uma tensão com cheiro de ruptura: “Equivoca-se quem não comemora em 25 de abril os valores de quem morreu pela liberdade”.

A relevância do 25 de Abril não estava até hoje sobre a mesa do debate político democrático da Itália. E o líder da Liga, na verdade, entende perfeitamente seu significado. O ministro do Interior estava ciente de que não poderia se ausentar completamente sem oferecer uma alternativa moral, algum álibi de serviço ao Estado, como o pretexto da luta contra a Máfia que esgrimiu para partir para Corleone. Prova disso é que tinha sido convidado na própria quinta-feira a Praga para um encontro com Marine Le Pen e Geert Wilders, seus sócios europeus da ultradireita, e justificou sua ausência mandando um vídeo.

O outro vice-premiê, Luigi di Maio, viu uma nova oportunidade para debilitar seu sócio na guerra interna que ambos mantêm pensando nas eleições europeias. O líder do Movimento 5 Estrelas já tinha criticado dias atrás que a festa da Libertação fosse questionada. Na quinta-feira, enquanto visitava uma sinagoga de Roma para as celebrações do 25 de Abril da comunidade judaica, voltou a atacar o colega de gabinete: “Quem divide é quem não quer comemorar, nós não queremos causar divisão, o 25 de Abril deve ser uma jornada de unidade”.

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