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Semana Santa
Análise
Exposição educativa de ideias, suposições ou hipóteses, baseada em fatos comprovados (que não precisam ser estritamente atualidades) referidos no texto. Se excluem os juízos de valor e o texto se aproxima a um artigo de opinião, sem julgar ou fazer previsões, simplesmente formulando hipóteses, dando explicações justificadas e reunindo vários dados

A força dos deuses

Acredite-se ou não, quer se tenha um deus, muitos deuses ou nenhum, eventos como os da Semana Santa confirmam a íntima relação de todas as sociedades organizadas conhecidas com as divindades

Penitentes na Semana Santa de Calahorra, na Espanha, na quarta-feira.
Penitentes na Semana Santa de Calahorra, na Espanha, na quarta-feira.Álvaro Barrientos. (AP)
Guillermo Altares
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A morte de Jesus de Nazaré continua sendo um dos mais profundos e duradouros mistérios da história ocidental. "Ainda não sabemos quem ou por que mataram Jesus", escreveu Juan Arias, jornalista veterano deste jornal, grande especialista em história bíblica e autor de livros como Jesus: Esse Grande Desconhecido. Os eruditos compartilham muito poucas certezas sobre esse acontecimento crucial. O historiador Simon Sebag Montefiore as resume em seu livro Jerusalém: A Biografia (Crítica): "Os Evangelhos acusam os judeus e absolvem os romanos, ansiosos por mostrar sua lealdade ao império. No entanto, as acusações contra Jesus e a própria punição em si contam a sua própria história: foi uma operação romana."

Os cristãos a recordam na Páscoa, que coincide aproximadamente com o início da primavera [no hemisfério norte], e é provável que o martírio tenha ocorrido no início de abril, embora os Evangelhos não estejam de acordo na data. Há numerosas contradições e lacunas no relato canônico: por exemplo, a famosa história de Pôncio Pilatos lavando as mãos só aparece em Mateus e, além disso, não há nenhum outro exemplo na antiguidade de que alguém fizesse um gesto semelhante para eludir as suas responsabilidades. O jardim de Getsêmani, o beijo de Judas ou a última ceia pertencem mais à lenda, ou melhor, à necessária codificação de uma nova religião do que à realidade. Claramente, não há evidências arqueológicas ou documentais que os confirmem.

Este profundo mistério não impede que a Semana Santa permaneça como um espetáculo impressionante, mesmo para os não-crentes.

Ao contrário do Natal, e apesar da colonização dos ovos de Páscoa, não perdeu seu caráter religioso. O pesado silêncio de tambores e capuzes de outras épocas já não recai sobre a Espanha, mas, mesmo em grandes cidades como Madri, as procissões marcam o ritmo vital por alguns dias. No final de abril será publicado na Espanha o livro Living, de Neil MacGreg (Vivir con los Dioses, na tradução da editora espanhola Debate), um relato muito bem documentado e divertido da história das religiões, que antes foi uma grande exposição no Museu Britânico, em Londres. Acredite-se ou não, quer se tenha um deus, muitos deuses ou nenhum, estes dias nos confirmam a íntima relação de todas as sociedades organizadas conhecidas com as divindades.

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