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14 horas numa fila por um emprego: “As contas e a barriga não esperam”

Desemprego no Brasil aumenta e 13,1 milhões de brasileiros estão em busca de um trabalho. Em São Paulo, Mutirão de Emprego atrai 15.000 pessoas e milhares chegam a dormir na fila para deixar o currículo e conseguir uma entrevista de emprego

Vídeo: Reportagem: Diogo Magri | Toni Pires
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"Aceito qualquer coisa". A frase era recorrente entre os candidatos que passaram horas na fila para obter ao menos uma entrevista de trabalho no Mutirão do Emprego, que atraiu 15.000 pessoas interessadas nas 8.000 vagas com carteira assinada oferecidas pelo evento em São Paulo. A média salarial das oportunidades disponíveis não ultrapassa os 1.500 reais, mas os perfis de pessoas atraídas pela possibilidade de poder voltar a pagar minimamente as contas do mês são os mais variados: do profissional pós-graduado ao trabalhador que não completou o ensino médio, está todo mundo no mesmo barco. As razões para tanta procura passam pela falta de perspectiva num momento em que a economia anda lenta, e sem sinais de reação de grande monta. Entre o mês de dezembro e fevereiro, 892.000 brasileiros passaram à categoria de "desempregados", segundo a mais recente pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que estima em 13,1 milhões o total de desempregados no Brasil. É uma taxa de 12,4% de trabalhadores sem salário. No mesmo período do ano passado, ainda no Governo Temer, o desemprego era de 12,6%. Mas a economia deu sinais de recuperação na sequência, e a taxa chegou a 11,6% entre setembro e novembro. Agora, voltou a subir.

O elevado número de interessados em busca de uma oportunidade fez com que os organizadores do mutirão (a prefeitura de São Paulo e o Sindicato dos Comerciários) prorrogassem o evento por uma semana, para até esta quinta-feira, 4 de abril. Mas, apesar do mar de gente que chegou a dormir no Vale do Anhangabaú, em três dias de maratona de processo seletivo, apenas 11 vagas de trabalho foram preenchidas. Para o Sindicato dos Comerciários, o baixo número de contratados não representa um fracasso do sucesso do mutirão, já que na maioria dos casos os candidatos selecionados para determinadas vagas disponíveis têm que passar por um segundo processo seletivo interno.

Mas o que faz alguém dormir ao relento numa fila no centro de São Paulo? "As contas e a barriga não podem esperar", disse Maria José, 50 anos.  "Passei 14 horas na fila na terça", revela Carlos Peinado, 61 anos, que estava procurando uma vaga de motorista após três meses desempregado. Dayane do Amor Divino, 26, esperou oito horas na terça para pegar uma senha e voltar na sexta, quando passou por entrevista e foi encaminhada para o processo seletivo em uma grande rede de supermercados. "Fiquei quase a semana inteira aqui", diz sorrindo, sem perder o bom humor.

Com a senha em mãos, os candidatos voltam para os dias definidos e passam por triagem e entrevista de trabalho. De lá, podem sair contratados, encaminhados para o Recursos Humanos ou são descartados.

Os organizadores do evento chamam a atenção para os mutirões do ano passado, quando foram preenchidas 3.500 vagas de 5.800 disponíveis. A falta de qualificação profissional foi uma barreira que neste ano tenta ser transposta. O Governo do Estado de São Paulo e o SENAI estão oferecendo 2.300 cursos profissionalizantes para 32 áreas diferentes, com duração aproximada de dois meses. O desemprego é uma pedra no sapato do presidente Jair Bolsonaro. Na semana passada, ele celebrou a criação de empregos em fevereiro no levantamento mensal do IBGE. Na conta final dos três meses analisados, no entanto, o resultado é negativo. Questionado sobre os dados do desemprego, o presidente disse: “Parecem índices feitos para enganar a população".

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