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Os clubes que se posicionaram no aniversário do golpe militar

Após mobilização crítica ao período da ditadura no futebol argentino, apenas três times de primeira divisão do Brasil se manifestaram neste domingo

Democracia Corinthiana foi lembrada no aniversário do golpe militar nas redes sociais do clube.
Democracia Corinthiana foi lembrada no aniversário do golpe militar nas redes sociais do clube.Divulgação

Há uma semana, os grandes clubes da Argentina se uniram para repudiar o golpe de Estado que instaurou a ditadura militar no país em 1976. Celebrado em 24 de março, o Dia Nacional da Memória pela Verdade e Justiça contou com a mobilização expressiva do futebol local. Já neste domingo, no Brasil, apenas três times de primeira divisão se manifestaram sobre o aniversário de 55 anos do golpe precursor de um regime autoritário que durou mais de duas décadas.

A mais simbólica manifestação veio do Corinthians, um dos clubes de maior torcida do país, que lembrou o ídolo Sócrates antes de disputar a semifinal do Campeonato Paulista contra o Santos. Uma estátua do ex-jogador com o punho cerrado, gesto que o marcou como opositor da ditadura nos anos 80, foi exposta na arquibancada da Arena Corinthians acompanhada de uma mensagem célebre difundida pela Democracia Corinthiana: “Ganhar ou perder, mas sempre com democracia”. O movimento liderado por Sócrates, Casagrande e companhia também foi rememorado nas redes sociais do clube.

Por sua vez, o Bahia destacou o processo de democratização vivido recentemente nos bastidores ao deixar sua mensagem contra a ditadura. “Na alegria ou na tristeza. Na saúde ou na doença. De Democracia a gente entende. Hoje e sempre: #NuncaMais.” O clube baiano, único a manter um núcleo de ações afirmativas no Brasil, ressalta a inclusão de torcedores mais pobres em seu quadro associativo, com plano popular de sócio e eleições diretas para presidente. O Tricolor de Aço já foi tachado de “esquerdista” e “comunista” por assumir posição contra a intolerância religiosa e a favor dos direitos LGBTs, mas, como explicou o presidente Guilherme Bellintani ao EL PAÍS no ano passado, pretende seguir a mesma linha de engajamento social. “Temos obrigação de nos posicionar, frear extremismos e apoiar causas que vão além do campo de jogo.”

Depois de homenagear na última temporada o Coronel Nunes, presidente da CBF e notório colaborador do regime militar na região Norte do país, o Vasco se mostrou crítico à ditadura pelas redes sociais neste 31 de março. Ao compartilhar a música “O Bêbado e a Equilibrista”, parceria de João Bosco com o vascaíno Aldir Blanc considerada um hino de protesto contra a repressão ditatorial, o time cruzmaltino desejou que os versos sejam “só lembranças que nos recordem que a democracia deve ser sempre a nossa verdade e nunca mais uma esperança equilibrista”.

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Na tarde de domingo, o Vasco perdeu o título da Taça Rio para o Flamengo, nos pênaltis. Convidado da secretaria de Governo do Rio de Janeiro, o deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL), que ganhou fama depois de quebrar a placa com o nome de Marielle Franco durante as eleições, esteve no gramado do Maracanã comemorando a conquista com jogadores rubro-negros. Sem nenhuma menção ao golpe militar ou em defesa da democracia, a diretoria do clube mais popular do país justificou que “não se posiciona sobre assuntos políticos”.

Em Santa Catarina, o Inter de Lajes, que disputa a segunda divisão estadual, não deixou a data passar em branco. Inspirado pela manifestação dos times argentinos, o clube foi o primeiro a se manifestar em seu perfil no Twitter: “Na Argentina, os clubes se uniram no último domingo para repudiar o indefensável. Caso não haja iniciativa semelhante hoje no Brasil, ao menos nós, pequeninos, viemos aqui para falar o óbvio, como fizeram os argentinos: #DitaduraNãoSeComemora”.

O Inter mais conhecido, de Porto Alegre, ignorou a efeméride. Na última sexta-feira, o mandatário colorado Marcelo Medeiros se encontrou com Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto. Ele alegou que a visita de cortesia e a camisa do Internacional entregue ao presidente não afetam o caráter apartidário do clube. Confesso apreciador do regime militar, Bolsonaro já chegou a afirmar ser favorável à tortura e se refere ao golpe como “Revolução de 1964”.

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