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Macron admite incapacidade de conter distúrbios dos ‘coletes amarelos’

Acusada de dureza excessiva contra os manifestantes, polícia não consegue conter a violência do movimento

Marc Bassets
Um ‘colete amarelo’ durante a manifestação de 16 de março em Paris
Um ‘colete amarelo’ durante a manifestação de 16 de março em ParisGEOFFROY VAN DER HASSELT (AFP)

É a constatação de um fracasso. Ao final do 18º sábado de manifestações dos 'coletes amarelos', o presidente francês, Emmanuel Macron, admitiu a incapacidade de conter os distúrbios. “Muito se fez desde novembro”, afirmou, referindo-se ao mês de início dos protestos. “Mas a jornada de hoje mostra que, nesse aspecto, não conseguimos.” Acusados de usar força excessiva, os responsáveis policiais também confrontam críticas por não conter a violência. “Quero que tomemos o quanto antes algumas decisões fortes para que não volte a ocorrer”, disse o presidente.

Depois de quatro meses de protestos, os 'coletes amarelos', que desde outubro pedem melhorias salariais, reduções de impostos e até a queda de Macron, vinham perdendo força. Quase desapareceram das rotatórias e rodovias, e as manifestações aos sábados em Paris eram cada vez mais minoritárias e chamavam menos a atenção dos meios de comunicação. Até o sábado passado, 16 de março. Os saques e incêndios na avenida Champs Elysées parecem uma repetição das cenas do outono francês. E reabrem o debate sobre a eficácia da polícia e a impotência do Estado frente a uma explosão violenta pouco habitual nas democracias desenvolvidas.

Macron, que passava o fim de semana nos Pirineus, antecipou o regresso a Paris. As críticas, não só por estar esquiando enquanto voltavam as imagens de Paris em chamas, lhe chegaram de todos os flancos. “É tempo de reagir, é tempo de agir”, insistiu, pelo Twitter, Laurent Wauquiez, presidente do partido Republicanos, representante da direita tradicional. A prefeita de Paris, a socialista Anne Hidalgo, declarou ao jornal Le Parisien: “Meu sentimento é que deveríamos ser capazes de controlar uma situação como a que acabamos de viver. Espero explicações”.

A última manifestação em Paris reuniu 10.000 pessoas. Embora seja uma cifra modesta, são mais que nos fins de semana anteriores. Mas em toda a França foram 30.000, longe dos 280.000 da primeira jornada, em 17 de novembro. A novidade foi a volta de uma violência contra o mobiliário urbano, o comércio de luxo e os edifícios de bairros mais opulentos. E a evidência de que as forças de segurança não sabem como ou por algum motivo não conseguem evitá-lo.

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O paradoxo é que, nas últimas semanas, cresceu a pressão para que a polícia revisse seus métodos, considerados contundentes demais. As denúncias se centram nas escopetas LBD-40 (sigla de “lançador de bala de defesa”). Segundo contagem do jornalista David Dufresne no jornal digital Mediapart, essas balas de borracha deixaram 231 feridos. O Ministério do Interior registra 2.200 feridos entre os manifestantes com essa e outras armas. Onze pessoas morreram, sendo dez acidentalmente nas estradas bloqueadas pelos coletes amarelos. Em Marselha, uma idosa morreu quando uma bomba de gás lacrimogêneo caiu em seu apartamento.

Em 6 de março, num discurso sobre as desigualdades, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, apontou vários episódios de protesto contra as desigualdades que enfrentaram uma reação repressiva no mundo. Bachelet citou quatro países: Sudão, Zimbábue, Haiti e França. “Peço [ao Governo francês] uma investigação de todos os casos denunciados de uso excessivo da força”, afirmou. Também a comissária dos direitos humanos no Conselho da Europa, Dunja Mijatovic, publicou em fevereiro um relatório em que se declarava “extremamente preocupada” com as denúncias de violência policial contra os 'coletes amarelos'. Na França, o Defensor dos Direitos (ouvidor público), o veterano político conservador Jacques Toubon, pediu a supressão do uso da LBD-40.

Um fator que complica a tarefa das forças de segurança e facilita a dos 'coletes amarelos' violentos e dos infiltrados alheios ao movimento é que as manifestações não costumam ser previamente anunciadas e carecem de itinerário, horário e serviço de segurança. Em algumas manifestações, policiais e guardas deram amostras de passividade. Em outros momentos, agiram com dureza.

Com a nova lei antimotins, certas pessoas poderão ser impedidas de acompanhar manifestações, os participantes poderiam ser previamente revistados e seria proibido usar máscaras nesses eventos. A lei ainda depende do aval do Conselho Constitucional.

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