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Pressão das autoridades força saída temporária de presidente da Vale

Fabio Schvartsman, que assumiu empresa em 2017 com lema "Mariana nunca mais", se afasta com outros três diretores

Naiara Galarraga Gortázar
Fabio Schvartsman durante sessão de comissão na Câmara dos Deputados, em fevereiro.
Fabio Schvartsman durante sessão de comissão na Câmara dos Deputados, em fevereiro.Ueslei Marcelino (REUTERS)

Cinco semanas depois do rompimento de uma barragem de resíduos em Brumadinho (MG) deixar mais de 300 vítimas, e enquanto ainda falta localizar mais de cem pessoas, a Vale decidiu afastar temporariamente Fabio Schvartsman do cargo de executivo-chefe. Ele e outros três diretores da empresa, uma das maiores multinacionais brasileiras, deixaram seus cargos após uma reunião extraordinária do conselho de administração na noite de sábado. Na sexta-feira, o Ministério Público Federal, o MP mineiro e a Polícia Federal, que investigam o rompimento da barragem em 25 de janeiro, haviam exigido à empresa o afastamento dos quatro diretores e de uma dezena de outros funcionários com base nas "evidências obtidas até o momento" sobre o envolvimento deles no desastre. O atual diretor-executivo da Vale, Eduardo Bartolomeo, assumiu o comando provisoriamente.

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O desastre de Brumadinho pôs no centro do debate as medidas de segurança e fiscalização em instalações desse tipo, porque há apenas três anos outra mina ligada à Vale teve um rompimento similar. O colapso da barragem de Mariana, também em Minas Gerais, causou 19 mortes e a maior catástrofe ecológica na história do Brasil. Quando Schvartsman chegou ao cargo de presidente-executivo da Vale, em maio de 2017, adotou o lema “Mariana nunca mais”. Vinte meses depois, uma descomunal língua de lama tragava 300 pessoas, entre funcionários da empresa e terceirizados.

Na sexta-feira, o secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia, Alexandre Vidigal de Oliveira, anunciou   abertura de um inquérito para investigar um possível caso de corrupção, dada a suspeita de que diretores da Vale tenham mentido às autoridades sobre a segurança da barragem de resíduos que se rompeu. Se a empresa for enquadrada na chamada Lei da Empresa Limpa ou Lei Anticorrupção, a multa poderia chegar o 20% do seu faturamento. Com o anúncio, as ações da empresa chegaram a cair 5,4% nesse dia, embora tenham se recuperado posteriormente. A Vale recorreu de todas as multas impostas pelo desastre de três anos atrás.

O caso de Brumadinho representou, além das perdas humanas, prejuízos econômicos para a empresa proprietária. Nesta quarta-feira, a agência de classificação de risco Moody's rebaixou em escala mundial o grau de investimento da Vale de Baa3 para Ba1. Desde a tragédia de janeiro, a firma, maior fornecedora mundial de minério de ferro, perdeu 16% de seu valor em Bolsa, embora some uma valorização de 75% desde que Schvartsman assumiu a empresa, segundo a Folha de S.Paulo.

A agência Moody's argumenta em sua nota desta semana que “embora a posição financeira robusta da Vale ofereça uma boa proteção contra os possíveis impactos financeiros (de Brumadinho), o acidente suscita preocupações do ponto de vista social, ambiental e de governança corporativa, especialmente considerando que ocorreu pouco mais de três anos depois do colapso da represa de refugos da Samarco (em Mariana)”. A Vale doou 100.000 reais à família de cada um dos mortos.

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