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Coalizão eleitoral ampla de centro-esquerda desafia hegemonia de Netanyahu

Três ex-generais, um ex-ministro e um líder sindical estão na lista que supera o Likud nas pesquisas

Juan Carlos Sanz
Da direita para a esquerda, Moshe Yalow, Benny Gantz, Yair Lapid e Gabi Ashkenazi
Da direita para a esquerda, Moshe Yalow, Benny Gantz, Yair Lapid e Gabi AshkenaziTwitter de Benny Gantz

Os principais rivais políticos de Benjamin Netanyahu deixaram suas diferenças de lado e compuseram uma grande coalizão eleitoral de centro-esquerda para desafiar a hegemonia do primeiro-ministro conservador, que já soma uma década de poder ininterrupto em Israel. A aliança de Benny Gantz, ex-chefe do Estado Maior das Forças Armadas e candidato-surpresa nas pesquisas, e o ex-ministro das Finanças Yair Lapid, favorito do reformismo laico, apareceu nas primeiras pesquisas, nesta quinta-feira, com clara vantagem sobre o partido governista Likud.

Gantz e Lapid passaram a madrugada anterior em claro para fechar o pacto, no último dia para a inscrição das candidaturas. Outros dois ex-comandantes militares e o líder da federação sindical Histadrut os acompanham na aliança chamada de Azul e Branco (cores da bandeira israelense), que pretende unir a experiência em questões de segurança, preocupação central no Estado judaico, com a recuperação de uma esquecida agenda social. A solução para o conflito palestino proposta por ambos fica relegada a uma mera separação territorial, em que Israel se reserva o controle de grandes assentamentos e a fronteira do rio Jordão.

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Quando as pesquisas insistiam em prognosticar uma nova vitória do Likud para que Netanyahu voltasse a encabeçar o Governo mais conservador da história de Israel, coligado com a extrema direita e os ultraortodoxos, o pacto entre Gantz e Lapid devolve aos eleitores de centro-esquerda a esperança de alternância no poder.

A solução, como convém à Terra Santa, foi salomônica. Caso somem uma maioria suficiente no Knesset (Parlamento unicameral), o general que dirigiu a guerra de Gaza em 2014 será chefe de Governo durante a primeira metade da legislatura, e o célebre ex-jornalista televisivo Lapid atuará como ministro de Relações Exteriores. A equação se inverterá na segunda parte do mandato.

As acusações policiais por fraude e suborno contra o mandatário em exercício não pareciam ter abalado suas expectativas eleitorais, que se mantiveram invariavelmente em torno de 30 deputados numa câmara de 120 assentos. As pesquisas de intenção de voto divulgadas na noite desta quinta por três canais de televisão depois da apresentação da lista da coalizão atribuíam entre 35 e 37 deputados à Azul e Branco, enquanto mantinham o Likud estagnado em seu teto de 30.

Em seu primeiro comparecimento público ao lado de Lapid, Gantz alertou que “Israel perdeu seu caminho” após a prolongada permanência de Netanyahu no poder. “Estamos aqui esta noite para dizer chega!”. O candidato centrista conclamou os israelenses a substituírem “a provocação pela reconciliação nacional”.

Lapid aproveitou sua fala para atacar o primeiro-ministro por ter apadrinhado “uma união extremista de partidos de ultradireita”. “Nossa lista eleitoral conjunta oferece ao país uma nova equipe dirigente que garantirá a segurança”, declarava pouco antes um comunicado do Yesh Atid (Há Futuro), o partido de Lapid, depois da assinatura do acordo com o Partido da Resiliência de Israel, de Gantz.

O sistema de rotação no poder que eles pactuaram reserva ao ex-general Moshe Yalow o cargo de ministro da Defesa, que ele já ocupou em Governos anteriores de Netanyahu. Também figuram em lugar destacado da lista o ex-general Gabi Ashkenazi, que antecedeu Gantz como chefe do Estado Maior das Forças Armadas, e o líder sindical Avi Nissenkorn, presidente da poderosa central Histadrut, aliada do trabalhismo na fundação do Estado do Israel há sete décadas.

Netanyahu observou com preocupação a aliança da oposição de centro, ainda pendente de uma eventual união eleitoral dos partidos de esquerda (trabalhistas e pacifistas do Meretz) e dos partidos árabes, até agora terceira força parlamentar e que representam uma quinta parte da população. O primeiro-ministro acusou Lapid e Gantz de formarem uma “coalizão de generais esquerdistas que aparentam ser de direita, apoiada por partidos árabes que não reconhecem o Estado de Israel”.

É imprescindível para o líder conservador permanecer no poder para confrontar uma possível denúncia do procurador-geral por três casos de corrupção. Como destaca o analista político Rossi Verter, do jornal Haaretz, “será necessária uma sólida coalizão direitista para poder aprovar em Israel uma lei de imunidade como a francesa, que impeça que um primeiro-ministro em exercício seja processado”.

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