_
_
_
_
_

‘Synonymes’, do israelense Nadav Lapid, ganha o Urso de Ouro no Festival de Berlim

A dupla protagonista do filme chinês 'So Long, My Son', obtém os prêmios de melhor ator e atriz. ‘Grâce à Dieu’, de François Ozon, leva o Grande Prêmio do Júri

Navad Lapid, diretor de 'Synonymes', com seu Urso de Ouro. No vídeo, um trecho de 'Synonymes'.Vídeo: Markus Schreiber (AP) | EPV
Gregorio Belinchón

Synonymes, do israelense Nadav Lapid, em que recria com um tom bem sarcástico suas experiências juvenis em Paris, ganhou o Urso de Ouro na Berlinale 2019. Em seu terceiro longa, o diretor de O Polícia (2011) e de A Professora do Jardim de Infância (2014), cujo sucesso foi tanto que teve até uma versão hollywoodiana, segue os passos de Yoav, um recém-chegado à capital francesa que em sua primeira noite é roubado e lhe levam até as roupas. Só a solidariedade de um casal o salvará de morrer congelado e, a partir daí, seus passos em Paris são tão estranho quanto divertidos, o que leva Lapid a refletir sobre a identidade — o que é ser francês ou israelense — e a religião: o que significa ser judeu hoje? Não era provavelmente o melhor filme em uma edição deplorável do festival, mas tampouco o pior: a crítica internacional já lhe havia concedido na sexta-feira o prêmio de melhor longa-metragem, com o qual jornalistas e jurados concordaram.

Mais informações
Wagner Moura: “Espero que ‘Marighella’ seja maior que o Governo de Bolsonaro”
O tesouro oculto de Aretha Franklin

François Ozon foi recompensado com o Grande Prêmio do Júri, o segundo mais importante, por Grâce à Dieu, sua recriação dos abusos sexuais sofridos durante anos por crianças de uma paróquia em Lyon. O filme está prestes a ser lançado na França, onde ainda continuam em andamento os processos judiciais contra o padre que cometeu os abusos (será julgado ainda este ano, depois do encerramento da investigação) e o bispo que, supostamente, o encobriu, e que ouvirá a sentença em 7 de março. Com o Urso na mão, ele disse: "Não sei se o cinema pode mudar o mundo, mas sei que nos ajuda a entender melhor um ao outro". E recordou os três protagonistas autênticos, que por meio da entidade Palavra Libertada, denunciaram os fatos.

Em uma decisão indiscutível, os prêmios de melhor ator e atriz foram para os chineses Wang Jingchun e Yong Mei, a dupla protagonista de So Long, My Son, que dá vida a um casal durante três décadas de vida, sofrendo todos os tipos de vicissitudes e infortúnios que acabam unindo-os ainda mais ao longo dos anos. Sua interpretação é cheia de vida e nuances, que o espectador aprecia ainda mais porque o filme é construído como um quebra-cabeça temporal.

O Urso de Prata de melhor direção foi para a alemã Angela Schanelec, por I Was at Home, But. A veterana diretora mergulha aqui na difícil relação entre uma mãe e os dois filhos, uma história à qual ela acrescenta certos tons cômicos e referências a Bresson. O prêmio Alfred Bauer para um filme que abre novas perspectivas foi para Systemsprenger, da também alemã Nora Fingscheidt, sobre a vida de uma menina de nove anos que não se encaixa no sistema e que por sua energia e violência é expulsa de uma escola a outra.

O Urso de Prata de melhor roteiro foi para a equipe de La Paranza dei Bambini, o romance de Roberto Saviano, adaptado por ele mesmo, o diretor Claudio Giovanessi e Maurizio Braucci. Saviano agradeceu a todos aqueles que salvam vidas nas ruas de Nápoles e o diretor disse, com o prêmio em mãos, que esperava que em seu país volte o dia em que arte e cultura "sejam uma prioridade".

Juliette Binoche, como presidenta do júri, lamentou em nome de seus colegas não ter podido avaliar One Second, o filme de Zhang Yimou, que já ganhou um Urso de Ouro do Festival de Berlim. Com esta declaração, deu mais combustível aos rumores de censura do Governo chinês, embora dois dias antes da exibição a Berlinale tenha informado que a projeção fora cancelada por "problemas técnicos", por não ter sido finalizada a pós-produção.

Logo no início a cerimônia foi marcada pela morte de um dos maiores atores do cinema europeu, Bruno Ganz, que era suíço, mas fez seus melhores trabalhos no cinema alemão, especialmente com Wim Wenders.

Foi uma Berlinale marcada pelo baixo nível na sessão competitiva, que também foi a última dirigida por Dieter Kosslick, após 18 edições do festival. Ele também recebeu uma homenagem durante a cerimônia de premiação, que destacou suas habilidades de showman. A partir de 1º de junho o festival começará a ser dirigido pelo italiano Carlo Chatrian, responsável até agora pela competição de Locarno, onde começou em 2013. Chatrian já anunciou que trará sua equipe de programadores. Vamos ver como ele relança o festival alemão em 2020.

Os premiados

Urso de Ouro: Synonymes, de Nadav Lapid (Israel).

Grande Prêmio do Júri: Grâce à Dieu, de François Ozon (França).

Prêmio Alfred Bauer para o filme que abre novas perspectivas: Systemsprenger, de Nora Fingscheidt (Alemanha).

Melhor direção: Angela Schanelec, por I Was at Home, But (Alemanha).

Melhor atriz: Yong Mei, por So Long, My Son (China).

Melhor ator: Wang Jingchun, por So Long, My Son (China).

Melhor roteiro: Maurizio Barucci, Claudio Giovannesi e Roberto Saviano por La Paranza dei Bambini (Itália).

Contribuição artística: para o diretor de Fotografia Rasmus Videbaek, por seu trabalho em Out Stealing Horses.

Melhor documentário: Talking About Trees, de Suhaib Gamelbari.

Melhor obra-prima de todas as sessões: Oray, de Mehmet Akif Büyükatalay.

Melhor curta-metragem: Umbra, de Florian Fischer e Johannes Krell.

Melhor filme da competição para a crítica internacional: Synonymes (Israel), de Nadav Lapid.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_