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Jeff Bezos acusa editor amigo de Trump de tentar extorqui-lo

Segundo o fundador da Amazon, o dono da revista ‘National Enquirer’, David Pecker, tentou chantageá-lo com fotos e mensagens de teor sexual

Pablo Ximénez de Sandoval
O chefe de Amazon, Jeff Bezos.
O chefe de Amazon, Jeff Bezos.REUTERS

O presidente-executivo da Amazon, Jeff Bezos, publicou um comunicado nesta quinta-feira em que acusa o editor da revista National Enquirer, David Pecker, de tentar extorqui-lo com a publicação de mensagens privadas trocadas com sua amante. Bezos, o homem mais rico do mundo, fez essa acusação em uma longa mensagem pela Internet em que inclui comunicações da editora de Pecker, a American Media. “Ao invés de capitular à extorsão e à chantagem, decidi publicar exatamente o que me enviaram, apesar da ameaça que representa em termos de ônus pessoal e vergonha”, escreve Bezos.

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David Pecker é um personagem central nas investigações que assombram o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, seu amigo há várias décadas. De acordo com a investigação federal sobre o suposto financiamento irregular da campanha de Trump em 2016, Pecker ajudou o então candidato através de sua publicação mais conhecida, a National Enquirer. A revista comprou com exclusividade – e depois engavetou – a história de Karen McDougall, uma modelo da Playboy que dizia ter feito sexo com Trump. A modelo ganhou 150.000 dólares (557.500 reais, pelo câmbio atual), e a história só veio à tona quando ela foi aos tribunais. Vendo-se envolvido na investigação sobre Trump, Pecker decidiu colaborar com a promotoria em troca de imunidade.

No último dia 9, Bezos e sua mulher, MacKenzie Bezos, anunciaram seu divórcio após 25 anos de casamento. No dia 21, a revista de Pecker publicou uma reportagem exclusiva em que revelava mensagens íntimas trocadas entre o fundador da Amazon e a mulher descrita como “sua amante”, Lauren Sanchez, suposto pivô do divórcio.

Bezos disse em seu comunicado desta quinta que contratou detetives particulares para averiguar de onde essas mensagens haviam surgido “e para determinar os motivos de uma ação incomum da Enquirer”. Ele recorda ainda que vários meios de comunicação, além de investigações oficiais, apontaram que a American Media Inc., que edita a publicação, age guiada por motivos políticos.

Como contexto, Bezos diz ser importante saber que ele é o dono do jornal The Washington Post. “É inevitável que certas pessoas poderosas que são alvo de cobertura do The Washington Post concluam de maneira equivocada que sou o inimigo”, escreveu. “O presidente Trump é uma dessas pessoas, como é óbvio por seus muitos tuítes.” Trump regularmente faz postagens nessa rede social contra o Post e seu dono.

Bezos afirma ser especialmente “impopular em certos círculos” a investigação que o jornal liderou e ainda mantém sobre a morte de seu colunista Jamal Khashoggi, um jornalista crítico ao regime da Arábia Saudita que foi assassinado e esquartejado na embaixada saudita em Ancara, supostamente por ordem direta do príncipe saudita. Neste contexto, copia dois links noticiosos: um do The New York Times, em que se informa que Pecker estava tentando fazer negócios na Arábia Saudita e convidou um representante desse país para jantar com Trump; outro da Associated Press sobre uma revista da American Media que apareceu nas bancas de Washington no ano passado e que pintava um retrato amável do regime saudita.

Bezos deixou a investigação nas mãos de Gavin de Becker, um consultor jurídico e de segurança que trabalha habitualmente para ele e para a Amazon. No último dia 31 de janeiro, o site The Daily Beast publicou que tinha falado com De Becker e confirmado a existência da investigação. O trabalho é privado, pago pessoalmente por Bezos, e independente da Amazon e do Post. Nessa reportagem, De Becker confirmava que havia interrogado Michael Sanchez, irmão de Lauren Sanchez, um agente artístico de Hollywood que é abertamente partidário de Trump e amigo de personagens do mundinho trumpiano, como Roger Stone e Carter Page. Uma conta do Twitter que o Daily Beast atribui a Sanchez está cheia de mensagens atacando a mídia por publicar “notícias falsas” sobre o presidente Trump.

Na terça-feira passada, o próprio The Washington Post repercutiu a investigação com uma reportagem em que citava o Daily Beast e tinha como título: “O ‘furo’ sobre o romance de Bezos foi só uma fofoca suculenta ou foi um golpe político?”.

Bezos disse que inicialmente recebeu, “através de um executivo da American Media”, a informação de que Pecker estava “furioso” com a investigação sobre as motivações e fontes da reportagem sobre sua amante. “Por razões ainda não compreendidas, o ângulo saudita parecia ter tocado um nervo especialmente sensível”, disse.

Dias depois, representantes da American Media (AMI) dirigiram-se a ele verbalmente e por escrito para dizer que tinham mais mensagens e fotos dele com a amante. A AMI se dispunha a não publicar esses conteúdos se Bezos interrompesse sua investigação privada sobre as possíveis motivações políticas da National Enquirer ao tentar constrangê-lo publicamente. Além disso, Bezos e De Becker deveriam dizer publicamente que não tinham “conhecimento ou base para sugerir que a cobertura da AMI tivesse motivos políticos ou estivesse influenciada por forças políticas”.

Bezos divulgou um e-mail da AMI, datado de terça-feira passada, que detalhava todas as fotos com conteúdo sexual em poder da editora. “Se na minha posição não posso me contrapor a este tipo de extorsão, quem poderá?”, argumentou Bezos. “Claro que não quero que fotos pessoais sejam publicadas, mas tampouco vou participar de sua conhecida prática de chantagem, favores políticos e corrupção. Prefiro me erguer, levantar este tronco e ver o que sai de debaixo”. Até o final da noite desta quinta, ainda não havia resposta por parte de Pecker e da American Media.

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