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Os europeus veem cada vez menos óvnis

Relatos sobre objetos não identificados caíram nos últimos anos, segundo organizações que estudam esses fenômenos

Suposta imagem de um OVNI em Westall (Austrália), em 1966.
Suposta imagem de um OVNI em Westall (Austrália), em 1966.Universal History Archive UIG (GETTY)
Álvaro Sánchez

O céu europeu é uma caixinha de surpresas. Em 31 de janeiro deste ano, às 22h10 (19h10 em Brasília), uma testemunha afirma ter visto um ponto luminoso mover-se, depois parar, e finalmente desaparecer de repente. Foi em Bolinne, 60 quilômetros a sudeste de Bruxelas. Outro testemunho, este de 14 de janeiro, falava em cerca de 50 pontos brilhantes, similares a estrelas, avançando em formação em Charneux, também na Bélgica, a 15 minutos de carro da fronteira holandesa. “Sou cético por natureza, e para me convencer de que não estava sonhando avisei três vizinhos e a minha mãe. Todos olhamos imóveis, e ninguém sabia explicar”, conta Ludovic, o surpreso morador de 39 anos que supostamente se deparou com a cena, numa mensagem pedindo respostas ao que seus olhos acabavam de ver.

Várias entidades da Europa reúnem registros desses relatos de cidadãos comuns e tentam decifrá-los. O chamado Comitê Belga para o Estudo de Fenômenos Espaciais (COBEPS) é um deles. Para o primeiro caso, avaliou que a informação fornecida era insuficiente. No segundo, os estranhos alinhamentos descritos por Ludovic ainda estão sendo investigados. Em outras ocasiões, a resposta dos investigadores ao mistério é mais simples: os óvnis são aviões ou balões.

Anualmente, organizações de oito países – Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Itália, Noruega e Suécia – divulgam os dados de todos os alertas de objetos voadores não identificados que conseguiram reunir, seja porque a testemunha os notifica diretamente ou rastreando fóruns e páginas da Internet. O resultado são 13.201 avistamentos nos últimos seis anos em que há estatísticas, uma média de aproximadamente cinco por dia. Mas, em plena era dos celulares com câmeras de alta qualidade, a tendência é decrescente. Em 2012 foram 3.332 casos, e em 2017 apenas 1.206. Em nenhum período entre essas duas datas o número de relatos aumentou. Itália (3.343), Alemanha (2.381) e França (2.317) – os três países mais populosos, embora não nessa ordem – lideram os avisos.

Jean-Marc Wattercamps descreve-se como geólogo e ufólogo. Segundo esse pesquisador do COBEPS, a associação belga que estuda as alertas na Valônia, a região francófona, “é preciso distinguir os avistamentos cotidianos dos óvnis reais. Estes continuam sem serem identificados depois de um estudo mais ou menos pormenorizado. O último que encontramos foi em 2015, mas temos 14 investigações abertas de 2018”.

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Os encarregados de revisar as notificações defendem que seus dados são representativos, já que esses oito países abrangem 41% da população europeia e 40% de seu território. Os números de 2018 ainda não estão completos, mas alguns já os publicaram, e eles rompem essa tendência declinante. Embora ainda longe das cifras de tempos atrás, na Bélgica os avistamentos cresceram de 171 em 2017 para 255 no ano passado. O mesmo aconteceu na Alemanha (de 198 para 328) e Finlândia (de 107 para 132).

Talvez porque seja o período do ano em que o termômetro permite passar mais tempo na rua, nos meses do verão chegam mais avisos. Segundo as entidades, fatores como a maior ou menor proximidade de Marte podem influir na quantidade de óvnis detectados.

Tema de destaque no debate entre políticos, militares e cientistas durante a Guerra Fria, o firmamento já não produz tantos brilhos suspeitos para o olho humano como antigamente. E os caçadores de óvnis têm que puxar da memória para mencionar alguma hipótese extraterrestre. “Na Bélgica tivemos casos convincentes e impressionantes em 1974 e 1989”, recorda Wattercamps. Segundo o jornal Le Soir, na noite de 20 de abril de 1974 cerca de cem testemunhas disseram ter visto um disco voador emitindo um som modulado na localidade de Charleroi. E 15 anos depois, entre novembro de 1989 e junho de 1991, produziu-se a chamada onda belga de avistamentos de supostas naves triangulares, um acontecimento que os céticos atribuem a um efeito contágio entre a população perante meros aviões sulcando os ares.

Enquanto realizam suas pesquisas sobre o fluxo de movimentos estranhos no céu, os ufólogos preferem se manter em segundo plano. “Não buscamos publicidade”, afirma Wattercamps quando perguntado se seria possível assistir às suas reuniões. A cada poucos dias, um novo testemunho amplia a lista. “Ia dirigindo quando vi seis luzes laranja em duas fileiras em direção a Luxemburgo. Liguei para o aeroporto e a polícia, mas não tinham constância de que houvesse helicópteros sobrevoando a zona”, diz um dos últimos relatos.

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