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Guaidó busca apoio da China e da Rússia, os últimos trunfos de Maduro

Presidente interino também apelou ao México e ao Uruguai para que reconsiderem sua neutralidade

Juan Guaidó, na última quinta-feira, em Caracas
Juan Guaidó, na última quinta-feira, em CaracasElyxandro Cegarra (DPA)

Juan Guaidó multiplicou nesta sexta-feira os esforços para distanciar Nicolás Maduro de seus principais aliados internacionais. O político tenta convencer a Rússia e a China de que seria conveniente uma mudança de Governo na Venezuela, apelando para seu pragmatismo econômico. E enquanto Pequim admite contatos com todos, inclusive com o entorno do presidente interino, Guaidó enviou uma carta aos mandatários do México e do Uruguai para que reconsiderem sua posição neutra. Segundo ele, o conflito não pode ser resolvido através de uma negociação.

O presidente da Assembleia Nacional sabe que já tem o apoio incondicional de dezenas de Governos, a começar pelo de Donald Trump, o primeiro a reconhecer seu cargo. Agora, a segunda fase de seu plano consiste em esfriar as relações de Maduro com alguns dos países que o sustentaram até agora, política e economicamente, além de conscientizar os que se mostraram menos enfáticos em relação ao processo iniciado há 10 dias com seu juramento.

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No curto prazo, o objetivo central de sua estratégia é encurralar o sucessor de Hugo Chávez dentro e fora da Venezuela. Assim, enquanto convoca os cidadãos para uma mobilização maciça neste sábado – um passo necessário para demonstrar que conta com apoio popular –, ele intensifica os esforços para convencer a todos de que o fim do chavismo beneficiaria inclusive os que continuam prestando-lhe apoio.

“Para vocês também convém uma mudança de Governo”, disse Guaidó, durante a apresentação de seu projeto de transição, chamado Plano País. “O que protege o investimento é a segurança jurídica, o Estado de direito”, acrescentou, em referência aos interessas da Rússia e da China, que, ao lado da Turquia, são os principais parceiros internacionais do chavismo e credores do Governo. Esses países ignoraram o apelo de Guaidó e se mantêm fiéis a Maduro.

Representantes de Moscou e Pequim afirmaram que só reconhecem seu cargo de presidente do Parlamento. No entanto, o Ministério das Relações Exteriores chinês admitiu que está conversando com todos os atores do conflito. Existem “contatos próximos com todas as partes”, disse à imprensa o porta-voz da Chancelaria, embora limitando-os à busca de um processo de diálogo.

Entretanto, Guaidó também está preocupado com a disparidade de critérios na América Latina. Na sexta-feira, ele enviou uma carta aos Governos do México e do Uruguai exortando-os a se desvincularem do chavismo e a saírem da neutralidade, considerando que sua posição significa, de fato, um respaldo a Maduro. Ambos os países tentam promover uma saída negociada à crise da Venezuela, o que envolveria a criação de uma mesa de diálogo. Uma iniciativa totalmente rejeitada neste momento pela oposição venezuelana, depois de anos de tentativas fracassadas que desembocaram, em maio passado, numa eleição presidencial realizada sem garantias nem observadores independentes.

“Apelamos à sua consciência e aos seus valores democráticos e humanos para que reflitam e se coloquem do lado correto da história, que não é outro senão o da liberdade”, escreveu o presidente interino na carta dirigida a Andrés Manuel López Obrador e a Tabaré Vázquez (presidentes do México e do Uruguai, respectivamente). Ele considera que a neutralidade é moralmente inadmissível nessas circunstâncias, além de ser prejudicial para seu plano.

Contatos diretos

A carta, em qualquer caso, não surpreendeu o Governo mexicano. O presidente interino já lhe transmitiu, em diversas ocasiões, a necessidade, segundo seu critério, de se distanciar do chavismo para evitar qualquer novo balão de oxigênio para Maduro. A Chancelaria mexicana mantém contato direto com Guaidó há semanas, embora não tenha se reunido com ele. Tampouco existem sinais de que algum representante viaje à Venezuela para isso, apesar dos contínuos pedidos de diálogo.

Com a equipe de Maduro, porém, o Governo mexicano se sentou para conversar. Na última terça, Jorge Rodríguez, ministro das Comunicações e um dos homens mais próximos do líder venezuelano, manteve um encontro com Maximiliano Reyes, subsecretário mexicano de Relações Exteriores para a América Latina. Na reunião, Rodríguez transmitiu ao Governo do México a intenção de promover um diálogo e garantiu, segundo as mesmas fontes, que nenhum tema ficará de fora caso ambas as partes se reúnam para falar dispostas a encontrar uma solução.

Autoridades mexicanas afirmam que uma mudança de postura em relação à Venezuela não mudaria nada, além de pôr a perder a congruência mantida pelo Governo nas últimas semanas, escudado em sua interpretação da Constituição segundo a qual o México não deve intervir em assuntos externos. Também consideram que a opinião pública mexicana concorda com o papel de López Obrador. Segundo uma pesquisa do jornal Reforma, que mantém uma linha editorial crítica em relação ao Governo, 68% dos mexicanos acham que o México não deve intervir em conflitos internacionais; e 70% dizem que a posição do Governo deve ser de neutralidade no caso da Venezuela.

“Todo mundo está tomando partido, e o que achamos não serve para nada. O termômetro está cada vez mais no vermelho”, resume um funcionário do Governo mexicano que tem acompanhado as conversas com ambas as partes. A Administração de López Obrador avalia que as posições da Venezuela estão cada vez mais polarizadas, o que não facilitaria um espaço para o diálogo, e sim para o recrudescimento da violência.

Neste sábado, os partidários de Guaidó e os chavistas realizarão marchas em diversos setores de Caracas.

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