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Maior elétrica dos EUA declara falência por responsabilidade nos incêndios na Califórnia

Pacific Gas & Electric enfrenta centenas de processos por negligência em incêndios com mortos. A empresa diz que está exposta a 30 bilhões em indenizações

Pablo Ximénez de Sandoval
Reparo de um poste de iluminação no incêndio de Paradise, na Califórnia.
Reparo de um poste de iluminação no incêndio de Paradise, na Califórnia.JOSH EDELSON (AFP)

O maior fornecedor de eletricidade da Califórnia e dos Estados Unidos, a Pacific Gas & Electric, se declarou em quebra nesta terça-feira diante da impossibilidade de assumir o custo de centenas de processos por sua suposta responsabilidade nos incêndios mortais na Califórnia nos últimos dois anos. A empresa calcula que, se for considerada culpada, ficará exposta a pagar mais de 30 bilhões de dólares (cerca de 110 bilhões de reais) em indenizações. A empresa continuará prestando o serviço e atualizando suas instalações enquanto durar um processo que pode levar anos.

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A PG & E, com sede em San Francisco, fornece eletricidade e gás natural para cerca de 16 milhões de clientes no norte da Califórnia. Nos últimos dois anos, devido a uma combinação dos efeitos de longo prazo da seca, ventos anormalmente fortes e altas temperaturas, os incêndios tornaram-se mais comuns, mais rápidos e mais extensos do que o habitual. Alguns desses incêndios ocorreram em lugares do norte da Califórnia onde o urbano e o rural se misturam, com consequências trágicas. Bairros inteiros foram arrasados.

Em vários desses incêndios, a investigação descobriu que a fagulha inicial veio das infraestruturas elétricas da PG & E, que sempre foram criticadas como antiquadas. Entre esses incêndios está o de Paradise, o mais devastador da história da Califórnia, que em novembro passado arrasou 18.800 estruturas e matou 86 pessoas. Este último ainda está sendo investigado, mas os primeiros indícios apontam para a infraestrutura da PG & E. No dia 24 de janeiro, a investigação oficial do incêndio de Tubbs, em outubro de 2017 (5.600 estruturas arrasadas e 22 mortos), isentou a empresa de responsabilidade. A PG & E, no entanto, já havia anunciado a intenção de se declarar em quebra.

A falência da PG & E seria a sexta maior da história. A empresa estima seus ativos em 71 bilhões de dólares e reconhece uma dívida de 51 bilhões. Como consequência dos incêndios, a empresa afirma que recebeu cerca de 750 processos representando cerca de 5.600 vítimas. Se fosse declarada responsável pela perda de propriedades e vidas por causa dos incêndios, as indenizações poderiam chegar a 30 bilhões de dólares. A legislação da Califórnia permite entender que a empresa é responsável se o incêndio se originou em seus equipamentos, mesmo que a negligência na manutenção não seja provada.

“Neste processo (a falência), vamos priorizar o que mais importa aos nossos clientes e às comunidades que atendemos: segurança e confiabilidade”, disse o presidente interino da empresa, John Simon, em um comunicado. “Acreditamos que esse processo garantirá que tenhamos liquidez suficiente para atender aos nossos clientes e manter nossas operações e obrigações.”

As ações da PG & E caíram 80% desde que começou a pressão sobre a empresa depois dos incêndios mortais de outubro de 2017 nos condados de Napa e Sonoma, ao norte de San Francisco.

As vítimas dos incêndios e alguns políticos da Califórnia viram o movimento da empresa na terça-feira como uma estratégia para atrasar ou evitar assumir toda a responsabilidade nos processos judiciais. A empresa disse nos documentos da falência que a administração desse processo pode gerenciar as indenizações “mais rapidamente e de maneira mais equitativa” do que os tribunais californianos. “Não há outra razão para fazer isso além de tirar dinheiro dos clientes”, disse o advogado Mike Danko ao Sacramento Bee. “Normalmente, não se deixa o perpetrador decidir o que é melhor para as vítimas.”

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