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Quero ser presidenta dos Estados Unidos

Onda feminista ganha força na grande corrida de 2020 à Casa Branca. Três dos quatro pré-candidatos mais conhecidos são mulheres

Amanda Mars
De esquerda à direita, Elizabeth Warren, Kamala Harris, Kirsten Gillibrand e Tulsi Gabbard.
De esquerda à direita, Elizabeth Warren, Kamala Harris, Kirsten Gillibrand e Tulsi Gabbard.JOSEPH PREZIOSO CHRIS DELMAS ANGELA WEISS TIMOTHY A. CLARY (AFP)

A campanha para as eleições presidenciais do outono de 2020 acaba de começar nos Estados Unidos. Há quem determine a data inicial mais adiante, no processo das primárias que dentro de um ano escolherá o candidato final de cada partido para a Casa Branca, e quem retroceda até 9 de novembro de 2016 –dia da vitória de Donald Trump contra Hillary Clinton–, como o início da batalha. Mas o ponto de inflexão mais evidente foram as legislativas de novembro. Depois delas, e com o bom resultado dos democratas esquentando o clima, uma série de aspirantes do partido anunciou sua intenção de se tornar o próximo presidente dos Estados Unidos. Ou presidenta. Porque dentre os nove nomes que já constam da lista, quatro são mulheres, e três delas estão entre as mais relevantes em nível nacional.

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A senadora californiana Kamala Harris, de 54 anos, ex-procuradora-geral do Estado e figura ascendente no partido, anunciou na segunda-feira estar começando a campanha para conseguir se sentar no Salão Oval, algo bastante especulado, somando-se à também esperada Elizabeth Warren, senadora por Massachusetts, de 69 anos, membro da ala esquerda da formação. A senadora por Nova York Kirsten Gillibrand, de 52 anos, deu um passo à frente em meados de janeiro, e a congressista do Havaí, Tulsi Gabbard, de 37 anos, o fez apenas alguns dias antes. A onda feminista da última eleição para o Congresso se mantém na corrida para a candidatura democrata à presidência mais poderosa do mundo.

“Uma parte tem a ver com o que vimos nas eleições legislativas de 2018. Há muitas mulheres no lado democrata respondendo à presidência de Trump, que se sentem especialmente indignadas, não apenas por ele pessoalmente, mas porque sentem que muitas de suas políticas e das políticas associadas ao Partido Republicano são contra as mulheres”, explica Amanda Clayton, professora de Política e Gênero da Universidade de Vanderbilt, no Tennessee, em referência às políticas regressivas em matéria de aborto, entre outras, que ganharam espaço nestes dois anos.

Outra parte, acrescenta Clayton, tem a ver com Hillary Clinton. “Acredito que esquecemos rápido demais que ela fez história ao ser a primeira candidata de um grande partido. Ela normalizou isso para os eleitores, sua carreira incentivou muitas mulheres a participar.” Derrotada pelo sistema de colégio eleitoral, Clinton obteve três milhões de votos individuais a mais do que Trump.

Entre as atuais mulheres na corrida democrata não há outro fio condutor além do gênero. O perfil de Warren, uma advogada quase septuagenária conhecida como o flagelo de Wall Street, tem pouco a ver com a millennial Tulsi Gabbard, hindu, veterana do Iraque, que ainda está se desculpando por sua dura oposição ao casamento gay no passado. A senadora Gillibrand, membro de uma das dinastias políticas do Partido Democrata, muito influente no Estado de Nova York é muito conhecida por sua defesa dos direitos LGBT e contra o assédio sexual, embora tenha mudado sua postura de mão dura contra a imigração irregular de anos atrás. Filha de imigrante jamaicano e mãe índia, Harris, por outro lado, encontra na defesa das políticas migratórias um de seus signos de identidade, apesar de ter sido questionada por sua dureza como procuradora.

A diversidade dessas mulheres alimenta a ideia de que a normalização do protagonismo feminino nos postos mais altos da política é mais transversal, mas o fenômeno ainda está muito ligado ao Partido Democrata. O hiato de gênero na política norte-americana continua crescendo: elas votam cada vez mais nos progressistas e eles votam nos republicanos. A fratura atingiu o máximo nas eleições presidenciais, quando Clinton ganhou por 14 pontos percentuais entre as eleitoras (segundo as pesquisas de boca de urna) e Trump, por 12,5 entre os eleitores.

“De um ponto de vista negativo, em 2016 vimos como o sexismo mobilizou muitos eleitores para votar contra Hillary Clinton. Muitos daqueles debates sobre sua simpatia estão sendo vistos agora com as candidatas a 2020, acredito que enfrentarão expectativas que não são as mesmas que as dos homens, então será muito difícil. Mas, ao mesmo tempo, há um grande descontentamento com esta presidência. Portanto, a pergunta em aberto é se a energia da base democrata será suficiente para superar a penalização sexista”, reflete Clayton.

Várias pesquisas revelam o viés sexista do eleitor. Uma delas, realizada pela empresa YouGov duas semanas antes das presidenciais, refletiu que entre as pessoas com atitudes sexistas havia uma maioria esmagadora de eleitores de Trump. Outro estudo de outubro daquele ano, feito pela HCD Research, entrevistou 500 pessoas, divididas igualmente entre trumpistas e clintonistas, homens e mulheres. Metade dos homens mostrou um viés negativo quando se tratava de vincular mulheres e carreira profissional. O grupo mais relutante, no entanto, foi o das mulheres trumpistas: 80% delas expressou esse viés.

Antes da batalha final contra Trump (ou outro candidato republicano), os democratas travarão essa guerra civil na qual suas primárias costumam se tornar. Aos atuais nomes masculinos sobre a mesa –entre os quais se destaca Julian Castro, ex-secretário de Habitação de Obama–, podem se somar em breve o do ex-vice-presidente Joe Biden e o do senador por Nova Jersey Corey Booker. Independentemente do resultado, uma mudança parece ter chegado para ficar: a diversidade racial, étnica e sexual dos candidatos, reflexo da diversidade da sociedade norte-americana. O prefeito de South Bend (Indiana), Peter Buttigieg, veterano do Afeganistão, é desde esta semana o primeiro candidato presidencial abertamente homossexual da história.

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