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Bolsonaro se interna para retirada da bolsa de colostomia. Entenda a cirurgia

Presidente fará nesta segunda terceiro procedimento cirúrgico no hospital Albert Einstein após atentado a faca no ano passado que comprometeu intestino

Beatriz Jucá
Presidente Jair Bolsonaro, em agenda presidencal em Davos, dias antes da cirurgia
Presidente Jair Bolsonaro, em agenda presidencal em Davos, dias antes da cirurgiaMarkus Schreiber (AP)
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O presidente Jair Bolsonaro passa por uma nova cirurgia para retirada da bolsa de colostomia e reconstrução intestinal na manhã desta segunda-feira. Ele chegou na manhã deste domingo a São Paulo para se internar no hospital Albert Einstein, onde ele foi operado quando sofreu um atentado a faca no ano passado. O vice-presidente, Hamilton Mourão, assume pela segunda vez a presidência por ao menos 48 horas, segundo o Governo. O procedimento - o terceiro desde o ataque em no dia 6 de setembro - é menos arriscado que os anteriores, mas o presidente será submetido a anestesia geral e terá o abdômen novamente aberto. A cirurgia será realizada por uma equipe médica de três cirurgiões e dois anestesistas comandada pelo Dr Antônio Macêdo. Bolsonaro realizou neste domingo exames de sangue e uma tomografia computadorizada para averiguar se havia alguma infecção ou abscesso nas alças do intestino. Segundo o hospital, os resultados foi satisfatório e o presidente está liberado para a operação - a cirurgia já havia sido adiada uma vez, em dezembro, por conta da constatação de aderências. O procedimento costuma durar cerca de duas horas e tem uma média de internação de cinco dias, dependendo da evolução do paciente. Macêdo, porém, ainda evitar estimar quando Bolsonaro deverá ter alta.

A cirurgia ainda é decorrência do atentado que Jair Bolsonaro sofreu durante a campanha eleitoral em Juiz de Fora (MG), quando Adélio Bispo de Oliveira lhe feriu com uma faca, que atingiu vários órgãos. O presidente foi levado para a Santa Casa de Misericórdia, onde foi operado com urgência no intestino. Houve hemorragia e vazamento de fezes para a cavidade abdominal, e a equipe médica cortou de 10 a 15 centímetros do intestino grosso lesionado (chamado cólon transverso). Uma das partes foi colocada junto à parede intestinal e a outra conectada à bolsa de colostomia para evacuação. O objetivo era evitar o contato da região mais afetada do intestino grosso com as fezes até sua cicatrização. Outra cirurgia precisaria ser feita meses depois para reconstruir o trânsito intestinal.

No entanto, cerca de uma semana depois da cirurgia emergencial, o presidente precisou passar por outra intervenção após a detecção de uma aderência obstruindo o intestino delgado. Bolsonaro já havia iniciado uma dieta líquida, quando teve essas complicações. Passou ao todo 22 dias internado no Albert Einstein, em São Paulo, até receber alta. Está há quatro meses e meio com a bolsa de colostomia, e a cirurgia desta segunda é justamente para retirá-la e reconstruir o trânsito intestinal. “O médico vai abrir o abdômen, fazer uma laparotomia, para soltar aquelas duas alças do intestino e fazer uma costura unindo a parte distal e proximal”, explica o professor de cirurgia intestinal do Hospital das Clínicas, Carlos Walter Sobrado.

O médico afirma que o procedimento não é complicado do ponto de vista técnico, mas que é preciso muita atenção no pós-operatório para que a equipe aja rapidamente caso haja alguma aderência ou infecção. Há outros métodos menos invasivos para retirar a bolsa, mas a gravidade do caso de Bolsonaro, que já passou por dois procedimentos cirúrgicos e complicações com as aderências, exige a reabertura do abdômen. “Já passaram mais de quatro meses desde a última cirurgia. É um prazo superior aos três meses que costumamos esperar para controlar a infecção e o paciente melhorar, então está em uma época boa para a cirurgia do Bolsonaro”, avalia Sobrado.

Cirurgias deste tipo, afirma o professor do Hospital das Clínicas, duram em média duas horas e exigem uma internação de pelo menos três a cinco dias. O paciente é submetido à anestesia geral, mas não há necessidade de ser internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). “Normalmente o paciente vai para a sala de recuperação pós anestésica e fica em observação por até quatro horas. Depois disso, vai direto para o quarto. Só costuma ir para a UTI se tiver outras comorbidades, como por exemplo um problema cardíaco ou um problema pulmonar grave”, explica.

Nos dias de internação, o paciente inicia uma dieta líquida. Se tiver boa aceitação e o intestino começar a funcionar sem provocar dores, passa para uma dieta pastosa. Não havendo complicações, o paciente já pode receber alta para concluir o pós-operatório em casa. A preocupação neste período, afirma Sobrado, é garantir que a sutura está bem feita e que não há chance de vazar fezes nem gases para a cavidade abdominal. “Se tem uma microperfuração, pode vazar fezes. Aí o paciente vai sentir dor, ter distensão abdominal e febre”, acrescenta.

Os riscos da cirurgia de Bolsonaro são aqueles de qualquer cirurgia. Sobrado diz que, em geral, pacientes com esse problema costumam ter uma boa evolução, mas em caso de um vazamento inesperado, o que pode acontecer é maior tempo de internação. “É uma cirurgia frequente, relativamente comum para especialistas no intestino. Além disso, o Hospital Albert Einstein tem um índice de infecção hospitalar muito baixo”, aponta.

Nos dias de internação, o presidente Jair Bolsonaro passará o poder para o vice Mourão, que deve assumir a presidência até a quarta-feira. Segundo a Agência Brasil, Bolsonaro poderá despachar depois das 48 horas de repouso exigidas do próprio hospital, onde será organizada uma estrutura para isso. Existe ainda a possibilidade de aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) serem utilizados por ministros em viagens a São Paulo para despachar com o presidente no hospital. A primeira dama Michelle Bolsonaro deverá acompanhar o marido durante todo o período de internação.

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