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MP investiga se loja de Flávio Bolsonaro era usada para disfarçar dinheiro de ‘rachadinha’

Ministério Público, que fez buscas no local, apura se valores eram de recursos desviados de esquema que seria operado por Queiroz

O presidente Jair Bolsonaro ao lado do filho, o senador Flávio Bolsonaro, em lançamento de seu partido, Aliança Pelo Brasil.
O presidente Jair Bolsonaro ao lado do filho, o senador Flávio Bolsonaro, em lançamento de seu partido, Aliança Pelo Brasil. EVARISTO SA (AFP)

Uma loja de chocolates do senador Flávio Bolsonaro, o primogênito do presidente Jair Bolsonaro, foi alvo de um mandado de busca e apreensão nesta quarta-feira como parte de uma operação do Ministério Público do Rio de Janeiro que vasculhou endereços de familiares, amigos e ex-assessores do ex-deputado estadual. O escritório de contabilidade da loja também foi alvo de buscas. Os promotores não solicitaram buscas na residência de Flávio. No total, a operação cumpriu 24 mandados de busca e apreensão expedidos pela 27ª Vara Criminal do Rio de Janeiro.

A loja de Flávio é uma franquia da rede Kopenhagen localizada no shopping Via Parque, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. Promotores fizeram cruzamentos e levantamentos bancários para identificar se o local foi usado para disfarçar a origem ilícita de recursos desviados dos salários de funcionários da Assembleia Legislativa, no esquema conhecido como rachadinha, no período em que Flávio foi deputado estadual. Os promotores constataram com o levantamentos de dados bancários que a loja recebeu maiores valores de depósitos em espécie em períodos fora da Páscoa, feriado que concentra a maioria das vendas de chocolate da rede.

“Embora o volume de vendas na quinzena da Páscoa seja muito superior ao verificado no restante do ano, o volume de dinheiro depositado em espécie na conta da BOLSOTINI não variou na proporção das vendas aferidas através de outros meios de pagamento. Pelo contrário: em períodos com volumes de venda muito inferiores, houve depósitos de dinheiro em espécie em quantias ainda superiores àquelas constatadas no período da Páscoa, não somente em termos percentuais mas também absolutos”, argumentou o Ministério Público no pedido de busca apresentado à Justiça.

Por isso, os promotores vão investigar a contabilidade, recibos e notas fiscais da loja para identificar se os valores depositados em espécie vieram, de fato, da venda de chocolates.

Flávio Bolsonaro sempre negou qualquer irregularidade nesse caso. O advogado de Flávio, Frederick Wassef, disse que ainda não teve acesso à íntegra da medida cautelar, o que só deve ocorrer na quinta-feira. Ele disse que nada preocupa a defesa e que foi “desnecessária” a busca e apreensão na loja de Flávio.

“Em absoluto, nada nos preocupa. O que quer que eles encontrem nos endereços vai mostrar que meu cliente não tem nada que ver com o que é investigado da Alerj. Por outro lado, desnecessária a busca e apreensão na sua empresa. Arrombaram a porta. Bastaria aguardar a chegada dos funcionários que a porta seria aberta e a decisão seria cumprida”, afirmou ao EL PAÍS.

“Desde janeiro do ano de 2018 até hoje, investigaram e fizeram uma devassa na vida do meu cliente. Vou repetir o que venho dizendo há um ano. Houve, sim, a quebra do sigilo bancário do meu cliente. Mesmo assim, nada foi encontrado. Jamais existiu rachadinha", acrescentou.

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Endereços do ex-assessor Fabrício Queiroz, amigo da família Bolsonaro há décadas, e de seus familiares também foram alvos de buscas nesta quarta-feira. Ele é investigado sob suspeita de ter sido o operador responsável por receber e gerenciar parte dos salários de outros assessores e laranjas. Enquanto recebia depósitos de outros funcionários, Queiroz fez saques de 661.000 reais entre janeiro de 2016 e junho de 2018, em operações consideradas suspeitas de lavagem de dinheiro pelo antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), atual Unidade de Inteligência Financeira (UIF).

No total, entre o começo de 2007 e o fim de 2018, o Ministério Público levantou que Queiroz fez saques que somaram 2,9 milhões de reais em espécie de sua conta bancária, sendo que nesse período Queiroz recebeu depósitos identificados de cerca de 2 milhões reais de outros assessores de Flávio Bolsonaro.

O COAF também identificou que, em junho e julho de 2017, o então deputado estadual Flávio Bolsonaro recebeu 48 depósitos de 2.000 reais.

A investigação da atuação de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro foi reaberta há duas semanas depois que o Supremo Tribunal Federal decidiu que é lícito o uso em investigações de relatórios financeiros produzidos pela UIF e pela Receita Federal, sem que seja necessário autorização judicial para produção desses relatórios. Até a decisão, uma liminar do ministro Dias Toffoli, presidente da Corte, tinha paralisado todas as investigações do tipo no país, desde julho, até que uma decisão do Plenário fosse tomada.

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