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Como ser vegetariano e sobreviver às celebrações natalinas

Antecipamos as respostas práticas oferecidas em livro pela nutricionista Lucia Martínez para quem não come carne e precisa enfrentar ceias e almoços familiares

Bolinhos veganos.
Bolinhos veganos.Josefine S.
Lucía Martínez
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Todo vegetariano novato teme este primeiro Natal, aquele churrasco em família ou o casamento da firma dentro de dois meses. Porque vá você explicar à sua avó que você vai recusar o peru da ceia, ao seu pai que você passa do tender, ou aos seus amigos que você precisa de um cardápio especial no casório.

Além disso, são momentos de exposição, nos quais, queira ou não, você vai chamar a atenção, será o principal tema das conversas e, sobretudo, estará submetido a um escrutínio e a uma série de comentários sobre nutrição, como se de repente todos virassem especialistas. E isto pode acontecer mesmo que você seja um nutricionista especializado em alimentação vegetariana, e eles sejam professores de matemática, por exemplo. É a lei da vida. Já comentamos no livro Vegetarianos con Ciencia, e continua válido:

“Ninguém se preocupa com o índice de glicemia do comensal que pede um refrigerante com a comida, nem do risco aumentado de câncer de cólon de quem considera que uma folha de alface conta como uma porção de verdura para três dias. Nem dos problemas de saúde associados aos 20 quilos de sobrepeso daquele que, depois de uma jornada de escritório em que só se levantou para ir ao banheiro, pede um espaguete à carbonara de almoço, brownie de sobremesa e um licor para encerrar. Nem da falta de informação sobre alimentação saudável por parte de quem manda seus filhos para o colégio com um suco e um donut. Mas você é vegetariano e vai ter falta de nutrientes. E é importante que lhe digam isso em qualquer ocasião. É para o seu bem.”

Não vou entrar em como lutar com essas situações, não sou especialista nisso. Dependerá do caráter de cada um e de cada situação em concreto, e também de nossas particulares habilidades sociais e de oratória. O que vou tentar é lhes oferecer alguns recursos com relação à comida nesses contextos, para que pelo menos, apesar da necessidade de ouvir alguns comentários deslocados, você possa comer algo gostoso.

É provável que você só tenha que lidar com esse assunto durante um tempo, porque em algum momento você deixará de ser a novidade, as piadas fáceis vão se esgotar, e sua família e círculo de amigos levará seu vegetarianismo em conta nas reuniões e festas sem que você tenha que enviar previamente um fax burocrático para recordar que você não come animais. Ou é isso que se espera.

Enquanto isso, uma observação: estas refeições familiares são momentos especiais e pouco frequentes, então devemos levar em conta o caráter da situação e ceder um pouco, sempre sendo fiéis a nossos valores e ideais, e poderemos deixar de lado o fato de que não serão refeições especialmente saudáveis. De todo modo, comer de forma saudável nestes eventos é possível se levarmos alguns fatores em conta:

Previna-se: não espere a chegar ao evento para anunciar que não irá comer animais, especialmente se você só tomou essa decisão recentemente. Com sua atitude você coloca os anfitriões numa saia-justa, caso eles não saibam de antemão, e isso não resolve absolutamente nada. É melhor avisar com antecedência, se possível no momento do convite, e já propondo uma solução.

Prepare algo para você: se for uma ceia ou almoço em casa, você pode sugerir de levar você mesmo algo para compartilhar com todos, ou levar algo que seja o seu prato principal. As entradas costumam ser fáceis de arrumar. É simples fazer uma salada à parte sem atum, ou incluir algo vegano nos petiscos – afinal hoje em dia hummus e guacamole, por exemplo, já não são comidas exóticas (e você pode levá-los de casa). Pergunte qual será o prato principal, porque, de repente, você pode levar um de seus hambúrgueres, desses que você tem no freezer, ou um pote de legumes e misturá-lo com a mesma guarnição que o resto. Ou, na pior das hipóteses, certamente há na casa um tomate que você pode picar e temperar para preparar a sua própria guarnição. Em todo caso, se você souber o cardápio de antemão será mais fácil se planejar, então pergunte. Se houver intimidade, também pode se oferecer para preparar você mesmo a refeição, em função de suas habilidades culinárias, claro.

Dê ideias e soluções: às vezes, uma modificação simples soluciona o assunto a contento para todos. Pergunte de forma amável: “Você pode separar uma parte do espaguete para mim antes de misturá-lo no molho?” ou “Pode cozinhar as batatas e os legumes numa travessa à parte do leitão, assim também posso comer?”, “Importa-se de servir os camarões à parte? Assim todos comeremos da mesma salada”. Entre outros exemplos, são opções simples que não custarão nada ao anfitrião e que resolverão a noite para você.

Se o evento for num restaurante, procure algum que ofereça opções e as sugira, talvez os demais não se importem em provar coisas novas. Ou ligue antes para o restaurante perguntando o que está disponível, ou negociando um menu adequado às suas necessidades. Previna-os na medida do possível, para que você não tenha nenhuma surpresa. Hoje em dia, os caterings de grandes eventos, como casamentos e banquetes, costumam ter uma opção vegetariana devido à crescente demanda. Porém, se lhe disserem que pediram um “menu vegetariano” para você, sendo que você é vegano, ligue para confirmar, porque é possível que seja ovolacto e que você precise de alguma mudança adicional nos pratos.

Se tiverem um bloqueio, fale com eles sobre os potes de legumes cozidos e de digitar “omelete sem ovo” no Google.

Lucía Martínez Argüelles (@Dimequecomes), é dietista-nutricionista, máster em nutrigenômica e nutrição personalizada e blogueira no site www.dimequecomes.com

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