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Promotoria implica Trump em pagamentos ilegais para silenciar mulheres

Estado pede a prisão do ex-advogado do presidente, Michael Cohen, apesar de sua cooperação com a investigação

Pablo Guimón
Donald Trump, no Kansas.
Donald Trump, no Kansas.Orlin Wagner (AP)
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Os promotores federais implicam diretamente o presidente Trump nos pagamentos ilegais a duas mulheres para silenciar potenciais escândalos sexuais que ameaçavam prejudicar sua campanha presidencial. Michael Cohen, ex-advogado do presidente que foi pessoa de sua máxima confiança, reconheceu que pagou duas mulheres que ameaçavam contar supostas relações extraconjugais com o à época candidato, e afirmou que o fez por lealdade a seu chefe. Mas, ao dar como verdadeira sua versão em um documento apresentado na sexta-feira aos tribunais, o Departamento de Justiça o envolveu na acusação.

Em outro documento separado, apresentado também na sexta, a promotoria especial de Robert Mueller, encarregada da investigação da trama russa, menciona um contato previamente desconhecido de Michael Cohen com um russo em novembro de 2015, cinco meses depois do começo oficial da campanha presidencial de Trump. Essa pessoa disse ser alguém “de confiança” em Moscou e ofereceu à campanha do magnata imobiliário uma “sinergia política”.

O russo propôs reiteradamente um encontro entre Trump e o presidente Putin, alegando que essa reunião poderia ter um impacto “fenomenal” tanto “político” como “empresarial”. Cohen explica que não aceitou o convite, já que possuía outro interlocutor russo para o projeto de Trump, por fim frustrado, de construir um arranha-céu em Moscou, operação em que Cohen agiu como representante do magnata. Mas os promotores afirmam que Cohen falou com Trump sobre uma possível reunião com Putin durante a Assembleia Geral da ONU de 2015, pouco depois do magnata anunciar sua candidatura presidencial.

Os dois documentos são o mais parecido até agora a uma acusação ao presidente dos Estados Unidos de condutas potencialmente criminosas.

No documento da promotoria do distrito sul de Nova York, de 38 páginas, referente a um crime de financiamento ilegal de campanha eleitoral do qual Cohen se declarou culpado em agosto, se descreve como o advogado “coordenou suas ações com um ou mais membros da campanha, incluindo reuniões, ligações, sobre o fato, a natureza e o tempo dos pagamentos”, para “suprimir as histórias” das duas mulheres e “evitar que influenciassem nas eleições”. Em particular, e como o próprio Cohen admite agora, em relação aos pagamentos, agiu em coordenação e sob a direção do indivíduo 1”, diz o texto. Em outros lugares do documento, o “indivíduo 1” é identificado como Donald Trump.

Cohen, que um dia disse que estaria disposto a levar um tiro por Trump, mas que desde que decidiu colaborar com a investigação se transformou em alvo predileto de sua ira, pediu para não ir à prisão pelos dois casos separados, que devem receber a sentença na próxima semana: um por violações das normas de financiamento de campanhas eleitorais, e outro por mentir ao Congresso sobre suas manobras, durante a campanha das últimas eleições presidenciais, para a construção de um arranha-céu de Trump em Moscou que não chegou a ocorrer.

Promotores recomendam redução de pena pequena

Mas os promotores do distrito sul de Nova York recomendam em seu documento que Cohen deve cumprir uma pena de cadeia “substancial”. A lei federal contempla para seus crimes uma pena até cinco anos na prisão, e os promotores recomendam uma redução pequena.

Cohen, afirmam os promotores, “procurou influenciar as eleições da sombra”. “E o fez orquestrando pagamentos ilegais e secretos para silenciar duas mulheres que de outra forma teriam tornado públicas suas relações extraconjugais com o indivíduo 1”, diz o texto.

No outro documento, o do promotor especial Robert Mueller, o crime de Cohen é chamado de “grave”, mas com o acréscimo de que “deu passos significativos para abrandar sua conduta criminosa”. “Ele foi longe para ajudar a investigação do promotor especial”, escreve Mueller.

O promotor especial afirma que Cohen deu “informação útil sobre certos assuntos relacionados à Rússia, centrais à investigação”. Ele se refere à “informação sobre seus próprios contatos com interesses russos durante a campanha” e a um “relato detalhado” de seus esforços durante a disputa presidencial para construir uma torre de Trump em Moscou.

Trump não demorou a reagir à publicação dos documentos, através de sua conta de Twitter. “Absolve totalmente o presidente. Obrigado!”, escreveu, erroneamente. A secretaria de Imprensa da Casa Branca, através de um comunicado, defendeu que os documentos “não dizem nada de valor que já não se soubesse”. “Cohen mentiu repetidamente, como mostrou a promotoria”, acrescenta.

Cohen, de 52 anos, se declarou culpado em agosto de violar as leis de financiamento de campanha, ao organizar pagamentos para silenciar mulheres que asseguravam ter mantido relações sexuais com Trump, assim como de outros crimes federais relacionados aos seus negócios e atividade fiscal. Em 30 de novembro se declarou culpado, também, de ter dado informação falsa ao Congresso para diminuir a extensão de seus contatos com oficiais russos para levar adiante o frustrado projeto imobiliário do hoje presidente em Moscou. Os crimes de Cohen, dizem os promotores, marcam “um padrão de mentira que permeou sua vida profissional”.

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