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Carlos Ghosn, presidente da Nissan-Renault, é preso no Japão por fraude fiscal

Executivo brasileiro foi denunciado pela própria empresa japonesa por evasão de 165 milhões de reais ao longo de vários anos

Carlos Ghosn, em uma foto de arquivo.
Carlos Ghosn, em uma foto de arquivo.Paul Sancya (ap)
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O presidente da Nissan e CEO da Renault, Carlos Ghosn, foi detido nesta segunda-feira em Tóquio por evasão fiscal, depois de ter escondido do Tesouro parte de sua renda milionária por anos. O executivo, de 64 anos, que também dirige a empresa Mitsubishi, foi interrogado pelo Ministério Público japonês e preso depois de uma queixa da própria empresa, que proporá sua demissão esta semana. O caso, que respingou em para outro alto funcionário da empresa, Greg Kelly, também detido, é o resultado de uma investigação interna conduzida com base em depoimento de funcionários, de acordo com a Nissan em um comunicado. As ações da Renault na Bolsa de Valores de Paris despencaram mais de 10% e as da Nissan em Frankfurt, mais de 7%.

"Com base em denúncias de informantes, a Nissan realizou uma investigação interna nos últimos meses, sobre irregularidades cometidas pelo presidente Carlos Ghosn e pelo membro do conselho Greg Kelly", disse a empresa em nota, mais ou menos as mesmas frases, sem mais detalhes, que Hiroto Saikawa, CEO da Nissan, usou em declarações à imprensa após a prisão ter sido anunciada. Esta investigação mostrou que "por muitos anos" Ghosn e Kelly informaram às autoridades da Bolsa de Valores de Tóquio valores inferiores aos realmente recebidos. A televisão pública japonesa NHK diz que a fraude supostamente cometida por Ghosn é de 5 bilhões de ienes (cerca de 3.165 milhões de reais). A Nissan também afirma que Ghosn usou outros "ativos da empresa" para benefício pessoal e cometeu, como Kelly, outras irregularidades. Foi a própria Nissan que informou o Ministério Público do Japão, diz a empresa.

Antes dos supostos atos criminosos cometidos, Saikawa, um homem da empresa que o próprio Ghosn alçou ao cargo principal da montadora japonesa – ele ficou com a presidência do Conselho de Administração –, confirmou que na quinta-feira irá reunir em caráter extraordinário o Conselho de Administração para propor a destituição de Ghosn e Kelly. Saikawa também garantiu que a tríplice aliança entre a Renault, a Nissan e a Mitsubishi não será afetada. Por fim, expressou sua "indignação, frustração, decepção e desespero" ao saber dos resultados da investigação e pediu "sinceras desculpas" aos acionistas, funcionários e clientes da Nissan. Ele também garantiu que uma análise do que aconteceu será feita e serão tomadas medidas para que isso não se repita.

A remuneração de Ghosn, o ponto-chave do escândalo, chegou a 17 milhões de dólares (quase 65 milhões de reais) em 2017, segundo o jornal econômico Bloomberg. O executivo recebeu 6,5 milhões de dólares da Nissan, 2 da Mitsubishi e 8,5 da Renault. Na França, o salário do diretor foi alvo de um escândalo e só passou pelo filtro da assembleia de acionistas quando Ghosn concordou em reduzi-lo em 20%.

Salvador da Nissan

Ghosn, nascido no Brasil, descendente de libaneses e cidadão francês, iniciou sua carreira na Michelin, de onde se mudou para a Renault em 1996. Em 1999, ingressou na Nissan depois que a Renault comprou uma participação de controle na empresa japonesa, da qual se tornou CEO em 2001. Ele é considerado o arquiteto da ressurreição da Nissan após a falência e também a pessoa que conseguiu nos anos 90 reviver a Renault, cujo maior acionista é o Estado francês.

Sua figura como presidente é considerado crucial para ambas as empresas e para a Mitsubishi, num momento em que a indústria automotiva está enfrentando desafios sem precedentes, como o surgimento do carro elétrico e do veículo sem condutor, e até a queda de proprietários de veículos, em decorrência dos serviços de compartilhamento de carros em cidades que tentam reduzir a poluição e a presença de carros nas ruas.

Ele também foi um dos primeiros executivos que apostou na globalização no setor automotivo, com a assinatura de uma aliança estratégica entre a Renault e a Nissan, à qual a Mitsubishi aderiu em 2016. Não está claro o impacto da prisão de Ghosn na aliança entre as três empresas, que ele dirigia.

A Renault detém 43% da empresa japonesa, enquanto esta tem uma participação de 15% no grupo francês, graças ao acordo alcançado há quase 20 anos, que também inclui a Mitshubishi. Alguns meses atrás chegou a ser anunciado que ambas as empresas estavam estudando uma fusão, comandada por Ghosn. Entre as duas marcas, venderam pouco mais de 10 milhões de carros em 2017.

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