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Mercado dá boas vindas a Bolsonaro e segue passos de Paulo Guedes para a economia real

Bolsa abriu com alta, risco país chegou a cair a piso mínimo, e dólar ficou em 3,60 reais. Nomes da equipe ministerial e detalhes de medidas já anunciadas estão no radar de investidores

Carla Jiménez
Paulo Guedes, futuro ministro da Economia no Governo Bolsonaro
Paulo Guedes, futuro ministro da Economia no Governo BolsonaroS.Moraes (Reuters)

Quem esperava uma euforia na Bolsa de Valores de São Paulo um dia após a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições pode ter se frustrado num primeiro momento. A bolsa abriu em alta, como esperado, de até 2,70%, para depois reduzir esse ímpeto. Na verdade, a bolsa já vinha em alta desde a semana passada, acompanhando o ritmo das pesquisas eleitorais que colocavam o capitão da reserva como o grande favorito e nesta segunda manteve o ritmo, muito embora tenha invertido o viés de alta após o almoço. O dólar abriu a 3,60 reais e o risco país, importante medida para fechar negócios no exterior,  chegou a ficar abaixo dos 200 pontos no início do dia, depois de meses de oscilações que chegaram a levar o indicador para acima dos 300 pontos.

Para se ter uma ideia, quando Lula estava perto da primeira vitória em 2002, o risco país, que trafegava numa média de 1000 pontos à época, teve um pico de 4.000 pontos com a confirmação de que o petista assumiria a presidência. Não há dúvidas que o mercado financeiro dá as boas vindas para o candidato que eles apostavam como a melhor opção para o Brasil que precisa acertar as contas públicas e estimular a economia. Agora, o objetivo é ter um detalhamento dos planos do presidente eleito, com quase 58 milhões de votos. “Passada a eleição, as atenções se voltam, agora, para a fase de transição de governo e a definição de nomes para a futura equipe ministerial, bem como para a sinalização das primeiras medidas que serão tomadas a partir e 1º de janeiro de 2019, data da posse”, diz relatório do Bradesco.

Isso porque o país tem enormes desafios como estabelecer um ajuste fiscal à altura dos desafios do país. Na noite de domingo, Paulo Guedes, que será o czar da economia do Governo Bolsonaro, já reafirmou que seu foco é a redução do déficit primário, com foco em privatizações e foco na reforma da Previdência, que deve acontecer no ano que vem, segundo outro nome já confirmado na equipe do novo Governo, Onyx Lorenzoni. “O primeiro grande item é a Previdência”, afirmou ele a jornalistas. “O segundo é o controle de gastos públicos, as despesas com juros”, afirmou o futuro ministro, lançando música aos ouvidos do mercado financeiro.

Há um voto de confiança claro dos investidores de curto prazo sobre a qualidade de Guedes, admite Pablo Spyer, da corretora Mirae, que inclusive já trabalhou com Guedes e endossa sua fama de 'gênio'. “Mas agora é a hora da verdade. Depois de uma eleição agressiva, olham-se fatores externos, como a alta de juro nos Estados Unidos, a crise fiscal italiana, a guerra comercial ente os Estados Unidos e a China”, diz Spyer. Ele lista ainda a tensão na Arábia Saudita com a morte do jornalista Jamal Khashoggi e o Brexit questionado na Inglaterra. “São assuntos sérios e relevantes que agora precisam ser colocados na pauta e que trarão efeito negativo para as moedas emergentes”, diz ele.

Guedes ainda apontou que vai acelerar as privatizações e que está alinhado com a criação de marcos regulatórios para atrair investimentos em infraestrutura, um dos grandes gargalos do país. Mas nem todos os agentes econômicos  estão seguros sobre a boa coordenação para tirar os planos do papel. Há um temor evidente sobre medidas que dependem da aprovação do Congresso. “Embora a eleição de Jair Bolsonaro como próximo presidente do Brasil deva melhorar o sentimento dos investidores e reduzir a volatilidade cambial, um Congresso fragmentado ainda representa um risco para as reformas”, diz, em relatório, a Moody’s Investors Service. Samar Maziad, vice-presidente da Moody's, descreve que a expectativa é que Bolsonaro confirme as políticas pró-mercado que prometeu ao longo da campanha . “Embora esperemos uma continuidade das políticas públicas, a capacidade de construir apoio no Congresso para aprovação das reformas fiscais ainda não foi testada”, diz ela.

A eleição de um Congresso fragmentado, com 30 partidos representados, deve trazer obstáculos, na avaliação de Maziad, e por enquanto, o presidente eleito não assegura a confiança necessária. “A retórica de campanha do presidente eleito sugere que ele pode confrontar o modo de funcionamento das instituições brasileiras, criando, consequentemente, ruído político no processo. A capacidade de sustentar o momento político favorável e o apoio do Congresso ainda precisam ser comprovados”, completa a vice-presidente da Moody's.

Há, ainda, uma expectativa sobre qual será o estilo empregado pela equipe de Bolsonaro para as novas investidas. Na conversa com jornalistas, Guedes foi enfático com uma jornalista argentina dizendo que o “Mercosul não é prioridade. Está claro?”, disse ele em tom ríspido. A Argentina, principal parceiro do bloco comum, é o terceiro parceiro comercial do Brasil, depois da China e Estados Unidos.

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