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Colado em Bolsonaro, Doria captura um PSDB em crise de identidade

Sete dos candidatos que declararam apoio ao presidente eleito venceram suas disputas neste domingo. PSL elege três governadores, assim como o PSDB. PT chega a quatro governadores com vitória no RN

João Doria celebra sua eleição em São Paulo.
João Doria celebra sua eleição em São Paulo.ALEX SILVA (ESTADÃO CONTEÚDO)
Rodolfo Borges
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O primeiro discurso de João Doria após a confirmação de sua eleição como governador de São Paulo foi cheio de acenos a seu partido. O Governador eleito fez questão de mencionar lideranças do PSDB como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o senador José Serra, o ministro das relações exteriores, Aloysio Nunes, e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, que preside o partido em nível nacional, mas, assim como todos os mencionados, não compareceu à festa de Doria. Não foi neles, de qualquer forma, que o governador eleito se apoiou para vencer a eleição na disputa contra Márcio França (PSB) neste domingo.

Doria foi um dos candidatos que mais se colou no presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) na campanha do segundo turno. Ao discursar na noite deste domingo, o governador eleito disse que conversou por telefone com Bolsonaro e que os dois devem se encontrar durante esta semana no Rio de Janeiro. A harmonia entre os dois contrasta com o clima interno do PSDB, que deixa a campanha com três governadores eleitos, mas em crise de identidade. Enquanto o governador do Estado mais rico do país falava em união com o candidato de extrema direita, Fernando Henrique, um dos maiores líderes do partido, situado no campo progressista, passou os últimos dias da campanha criticando a retórica agressiva do presidente eleito e indicando que não votaria nele.

A campanha também serviu para aprofundar o abismo que se abriu entre Doria e Alckmin desde que o então governador bancou sua candidatura à Prefeitura de São Paulo, em 2016, contra lideranças tucanas do Estado. De lá para cá, Doria foi acusado de tentar tomar de Alckmin a candidatura do partido à Presidência, o que levou a desentendimentos internos que acabaram chegando a público quando vazou a gravação de uma reunião do partido após o fim do primeiro turno. Na ocasião, Alckmin insinuou que Doria o teria traído.

Neste domingo, Doria disse que "não tem mais muro" no PSDB, que será "um partido que tem lado, que está ao lado do Brasil, o Brasil de hoje e o de amanhã". "Eu respeito o PSDB. Respeito a história, os líderes. São Paulo vai liderar esse processo [de ajuste da do partido]." Não se sabe exatamente para onde segue esse PSDB agora, mas o fato é que Doria aproveitou uma onda que não beneficiou apenas ele.

A vitória de Bolsonaro neste domingo não se restringiu à Presidência da República. A mera declaração de voto de alguns candidatos no deputado do PSL já tinha alterado as expectativas de desfecho do primeiro turno e, neste domingo, confirmou a eleição de surpresas como o ex-juiz Wilson Witzel (PSC) e o empresário Romeu Zema (Novo), que surfaram na onda Bolsonaro como outros dos cinco governadores eleitos. Não por acaso, o grande vencedor do segundo turno nos estados foi o PSL, partido adotado por Bolsonaro no início do ano, que elegeu seus primeiros três governadores, em Santa Catarina, Roraima e Rondônia —as disputas nos dois últimos Estados deixaram candidatos tucanos derrotados.

O PSDB, que lutava pela manutenção de alguma política neste segundo turno após perder o Governo do Mato Grosso, conseguiu respirar com a eleição de três candidatos, mantendo o comando de São Paulo e do Mato Grosso do Sul, com Reinaldo Azambuja, e conquistando o Rio Grande do Sul com o ex-prefeito de Pelotas Eduardo Leite. Os tucanos perderam, contudo, a disputa em Minas Gerais, que parecia garantida no início da eleição. Outro partido que se destaca é o PSC, que, além de Witzel, elegeu o apresentador de programas policias Wilson Lima no Amazonas. O estreante venceu o veterano Amazonino Mendes (PDT), que tentava seu quinto mandato de governador.

O segundo turno também serviu para selar as trincheiras do PT no Nordeste. O partido, que já tinha eleito governadores na Bahia, no Ceará e no Piauí, celebra a vitória da senadora Fátima Bezerra no Rio Grande do Norte. Já o MDB, que tinha eleito apenas Renan Filho em Alagoas no primeiro turno, conseguiu a reeleição de Helder Barbalho no Pará e do inesperado Ibaneis Rocha no Distrito Federal, que começou a campanha com apenas 4% das intenções de voto e derrotou o governador Rodrigo Rollemberg (PSB). Os outros partidos vitoriosos no segundo turno são o PSD de Belivaldo Chagas, em Sergipe, e o PDT do governador Waldez Góes, que se reelegeu no Amapá.

O MDB é o partido que mais perdeu governos em relação à última eleição, passando de sete para três. O PSDB, que tinha cinco, ficou com apenas três, enquanto o PT caiu de cinco para quatro, mas perdeu a reeleição em Minas Gerais e o comando do Acre, que governava há 20 anos. O PSB fica com três estados, mesma quantidade que tinha conseguido na última eleição. O DEM, que não tinha eleito nenhum governador em 2014, agora tem dois, ambos eleitos no primeiro turno, em Goiás e Mato Grosso.

Mas é o PSL que chama mais atenção. O partido que passava por uma reformulação liberal até o início do ano com a participação do movimento Livres resolveu encampar a candidatura Bolsonaro e, depois de não eleger ninguém na última eleição, conseguiu seus primeiros três governadores, dois deles com patentes no nome. O Comandante Moisés da Silva, coronel da reserva do Corpo de Bombeiros, vai governar Santa Catarina, enquanto Coronel Marcos Rocha, militar reformado, comandará Rondônia.

Além dos candidatos do PSL, se elegeram associados a Bolsonaro, neste segundo turno, os tucanos João Doria (São Paulo) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul), Wilson Witzel, Romeu Zema e Ibaneis. O resultado também amplia de nove para 13 o número de partidos com governos estaduais. Em 2010, eram apenas seis as legendas com representação.

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