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Herdeiro saudita promete justiça pelo assassinato do jornalista Khashoggi

Príncipe Mohamed bin Salman fala pela primeira vez em público sobre o caso em um fórum econômico

Ángeles Espinosa
O príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman (direita), na terça-feira com convidados ao fórum de Riad
O príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman (direita), na terça-feira com convidados ao fórum de RiadFARES GHAITH (EFE)

O assassinato do jornalista Jamal Khashoggi foi "um crime odioso que não tem justificativa", disse o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman (MBS), durante seu tão esperado discurso no fórum Future Investments Initiative (FII) em Riad. Deixando de lado as vozes que apontam para sua responsabilidade final e sem entrar em detalhes, o homem forte do reino assegurou que seu país está tomando "todas as medidas legais necessárias para fazer justiça" e elogiou a cooperação da Turquia no caso.

Foi a primeira vez que MBS falou em público desde que a Arábia Saudita reconheceu no sábado, 20, que Khashoggi havia morrido em seu Consulado em Istambul. Os vazamentos graduais de informações por parte das autoridades turcas colocaram Riad contra a parede, pois o reino vinha negando tal possibilidade e alegava que o jornalista tinha deixado a legação diplomática. Mas nem essa primeira admissão nem as explicações confusas que se seguiram parecem ter satisfeito a Turquia, cujo presidente insistiu nesta terça-feira, 24, que a pessoa que planejou o assassinato tem que "prestar contas".

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"Muitos estão tentando se aproveitar desse incidente doloroso para criar uma divisão [entre os dois países], mas não terão sucesso enquanto houver um rei chamado Salman, um príncipe herdeiro chamado Mohamed bin Salman e um presidente turco chamado Recep Tayyip Erdogan", declarou o poderoso príncipe.

Suas palavras deixaram a impressão de que ele estava buscando a cumplicidade da Turquia, com cujo presidente manteve uma conversa telefônica pouco antes. De fato, ele surpreendeu ao elogiar explicitamente Erdogan, com quem suas relações não eram boas e que o assassinato de Khashoggi só piorou.

"Vamos levar os criminosos aos tribunais", insistiu MBS, sem entrar em detalhes sobre como, em uma monarquia absolutista como a da Arábia Saudita, foi possível que uma operação dessa magnitude tivesse sido realizada sem a aprovação das mais altas autoridades.

O príncipe disse que, assim como seu país deu "grandes passos para reestruturar sua economia, agora chegou o momento de reestruturar as instituições de segurança", referindo-se ao encargo que recebeu de seu pai, o rei. Em seguida, ele se concentrou na economia, um assunto em que, sem dúvida, se encontra muito mais confortável e que era o motivo da conferência do fórum em que participava com o príncipe herdeiro do Barein, Salman bin Hamad, e o primeiro-ministro do Líbano, Saad Hariri.

MBS, que parecia com bom desempenho, até se atreveu a brincar que Hariri iria ficar dois dias em Riad e que ele esperava que não houvesse rumores de que havia sido sequestrado. A referência ao sequestro do primeiro-ministro libanês no ano passado na Arábia Saudita fez com que este risse de um jeito nervoso. Mas resultou em um aplauso geral para o príncipe.

Não está claro se seu bom desempenho será suficiente para reduzir a pressão política que pesa sobre ele no caso Khashoggi, mas envia um bom sinal para os investidores. A crise ofuscou o segundo fórum de investimentos FII, realizado por iniciativa do príncipe herdeiro. Este ano caiu significativamente a presença de delegados estrangeiros, especialmente europeus e norte-americanos (não de russos e chineses), segundo indicam vários participantes. No entanto, a grande curiosidade despertada pela participação de MBS fez com que o auditório principal, com capacidade para cerca de 1.500 pessoas, ficasse lotado. Na maioria eram sauditas que o aplaudiram com entusiasmo.

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